Editorial

Crises e desesperança

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

Desde 2015, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 3,8%, o pior resultado em 25 anos e o maior da série histórica atual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996, a situação econômica do país se deteriorou a ponto da economia nacional entrar em recessão.

Um momento dos mais difíceis atravessados pelo Brasil, que passou por um impeachment de uma presidente, viu um vice assumir um governo suspeito de corrupção e hoje tem um novo presidente travando uma luta contra o Congresso Nacional, sem nenhuma habilidade política, fato esse que impacta na economia, que continua na estaca zero.

Sem o giro da economia, nada avança no país e uma das preocupações do brasileiro é falta de perspectiva no mercado de trabalho que só aumenta. E essa inquietação é percebida nas estatísticas de órgãos oficiais. Em 2015, início da crise, 2,8 milhões de pessoas a mais estavam na fila do desemprego, em comparação com 2014, um aumento de 38,1% no ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o total de pessoas sem trabalho chegou a 10 milhões, o maior número desde 2004. A taxa de desemprego naquele ano foi de 9,6%.

Passados quatro anos, a situação só piorou. Estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE, revela que nos últimos quatro anos o número de desempregados cresceu 42,4%. Pelo menos 3,3 milhões de pessoas estão sem emprego há mais de dois anos.

Refinando o estudo para a questão de gênero, observa-se que o desemprego de longo prazo atinge mais fortemente as mulheres. Entre as desocupadas, 28,8% estão nesta condição há pelo menos dois anos, contra 20,3% dos homens desempregados na mesma situação - embora o crescimento tenha sido maior entre o público masculino.

Outro dado relevante apontado pelo Ipea é que os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho também vêm impactando a renda domiciliar. Os dados da Pnad mostram que, no 1º trimestre deste ano, 22,7% dos domicílios brasileiros não possuíam nenhum tipo de renda proveniente do trabalho, e que os domicílios de renda mais baixa foram os que apresentaram menores ganhos salariais. A análise traz ainda o indicador da desigualdade, a mostrar que a renda dos domicílios mais ricos é 30 vezes maior do que a dos domicílios mais pobres.

Sem dúvida, os dados do Ipea e do IBGE confirmam que o mercado de trabalho brasileiro segue bastante deteriorado, com altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados, com uma perspectiva de recuperação gradual da ocupação e da renda média, o que é pouco para o potencial econômico de um país como o Brasil.

E como se prevê nos últimos anos que são dados como perdidos espera-se para 2020 uma queda mais expressiva da taxa de desemprego e da desigualdade, a partir da retomada mais forte do nível de atividade, condicionada à aprovação da reforma previdenciária.

Mas também espera-se que o presidente Bolsonaro desça do palanque (eleições foram outubro de 2018) e pare de criar crises entre os membros do próprio governo, caso contrário, serão mais quatro anos de desesperança.


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