Especial/ São João

Da iniciativa de João de Chica e Calça Curta surge o gigante Boi da Maioba

Tradição que cresceu a partir do "tocar na cabeça do gado" ganhou adeptos, adotou "maiobeiros" e se transformou em um dos grupos mais populares da Ilha

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Sede do Boi da Maioba, com o Viva e a Igreja de São João
Sede do Boi da Maioba, com o Viva e a Igreja de São João

SÃO JOÃO - Uma tradição que, para os seus atuais administradores, registra mais de 122 anos de história. Os batuques e as toadas que nasceram do antigo Jenipapeiro e cuja promoção era meramente para passar o tempo ganhou, a partir do início da década de 1990, novos adeptos e se transformou em uma das referências da cultura popular maranhense. O Boi da Maioba é resultado da força da comunidade local, da perseverança de gente simples e que dedica todo o seu tempo pelo amor à brincadeira e, principalmente, da combinação perfeita entre as letras que homenageiam as belezas locais e o ritmo das matracas “tocadas” com fervor por integrantes e seguidores.

A manifestação popular surge em um dos bairros de história mais rica na Ilha. E a história mais do que secular da Maioba remonta a passagem do período histórico da cidade - de economia essencialmente agrária, para o desenvolvimento de atividades industriais. Um dos moradores mais antigos do bairro, com mais de nove décadas de contos e lembranças, é seu Antoninho Teodoro Ferreira.

Ele - que nasceu e viveu na Maioba - se lembra dos tempos em que a “divisão” do bairro era na igreja. “Ali, naquela igreja [de São João] era a divisão do bairro”, disse em uma conversa de fim de tarde em sua humilde casa às margens da atual MA-202, que corta o bairro. A divisão citada pelo senhor de 91 anos e memória privilegiada era entre o Jenipapeiro e o “Mato Escuro”, chamado assim pela precária iluminação e pelo terreno, ainda formado por terra e vegetação. “Como não tinha nada e era tudo escuro, pra lá da igreja era chamado assim, de Mato Escuro”, disse.

No seu nascedouro, a Maioba era praticamente um conjunto de povoados cortados pelo chamado popularmente de “Caminho de Fio”. Para os mais antigos, era um acesso considerado difícil, conforme citam relatos encontrados no trabalho científico de Adriano Farias Rios, intitulado “Uma flânerie no lombo do Boi da Maioba”, peça que discutiu a tradição e a modernidade nas tradições populares do estado.

Segundo os relatos de seu Antoninho e seus antecessores, o Caminho do Fio “era o guia pra se chegar à cidade”. Nos antigos povoados que formavam a Maioba, a atividade era essencialmente rural e girava “em torno da lavoura”. Com o tempo, este tipo de ganha-pão foi sendo deixado de lado e dando lugar a outras atividades.

A “modernização”
O “Caminho do Fio”, aos poucos, se transforma e vira a Estrada da Maio­ba, com aspecto mais moderno e sinalização mais decente para os moradores. O fluxo pela comunidade foi dinamizado, o que possibilitou maior interação social e surgimento de grupos mais organizados, como o Boi da Maioba.

A força da percussão da Maioba encanta e mostra a pujança do boi
A força da percussão da Maioba encanta e mostra a pujança do boi

Maioba itinerante
Contam os mais antigos que o Boi da Maioba surgiu do antigo boi de cofo, que se apresentava em cada comunidade para distrair quem ali morasse. Cada pessoa pegava um objeto (paneiro, lata de manteiga, pedaços de ripa, de madeira) e dali surgia um boi. O interessante era imaginar que, após a matança do boi, o local da apresentação seguinte era determinada a partir de uma artimanha. “Quem tocasse na cabeça do boi levava a apresentação para a sua comunidade na apresentação seguinte”, disse José Inaldo Ferreira, atual presidente do Boi da Maioba.

Foi a partir do primeiro movimento forte de itinerância da Maioba que o grupo se apresentou em povoados adjacentes, como Mocajituba, Estirão, Itapiracó, Sítio Grande e outros. “Aos poucos e internamente, o som das matracas improvisadas começava a ganhar destaque”, disse.

João de Chica e Calça Curta
Após o período inicial de “itinerância” do boi pelo antigo Jenipapeiro e adjacências, a brincadeira passou a ganhar status de coisa séria. A partir da década de 1960, o Boi da Maio­ba passou para a responsabilidade de um homem, até hoje, muito respeitado entre os “maiobeiros”. Seu João Francisco, ou simplesmente João de Chica, juntou-se com outra referência para a comunidade - o sr. José Raimundo Ferreira (o Calça Curta). Eles firmaram uma parceria (chancelada também por Papeira) de praticamente duas décadas.
Relatos dos populares apontam que, a partir da administração de João de Chica e Calça Curta, o Boi da Maioba subiu de patamar e respeitabilidade. “Tinha ainda o Mundico de Rita e tinha o irmão dele. Aí, ele disse: ‘Rapaz, vamo endireitar esse boi, vamo comprar os apreparos”, disse Zé Inaldo, filho de Calça Curta.

Nesta época, até mesmo as indumentárias do boi eram menos complexas. “Não tinha esse negócio de miçanga, lantejoulo. Foram na matança, pegaram uma cabeça de boi, aí fizeram, mandaram o ra­paz preparar. Ele preparou tudo direitinho”, completou Zé Inaldo.

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