Tensão

Com bases americanas, Golfo Pérsico está fortemente armado

Estados Unidos mantém quase 30 mil militares de forma permanente na região, enquanto países como Arábia Saudita e Emirados Árabes investem em novos armamentos; Ao contrário dos americanos, os iranianos têm como objetivo a defesa do território

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Caças F-15 das Forças Aéreas saudita e dos EUA voam sobre o deserto em operação militar conjunta
Caças F-15 das Forças Aéreas saudita e dos EUA voam sobre o deserto em operação militar conjunta (Reuters)

QATAR - Em uma estratégia iniciada na Guerra Fria, para evitar que a União Soviética tivesse controle do que era então a maior fonte mundial de petróleo, os EUA mantêm até hoje presença militar em todos os países do Golfo Pérsico, à exceção do Irã. São oficialmente 29.400 militares instalados em caráter permanente, fora os que não aparecem nos livros oficiais. A maior base, em al-Udeid, no Qatar, abriga 10 mil militares.

A Quinta Frota, baseada no Bahrein, patrulha uma extensão de mais de 6 milhões de km², incluindo o Golfo Pérsico, o Estreito de Ormuz, o Golfo de Omã, o Oceano Índico e o Mar Vermelho. Durante a Guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, os EUA, que apoiaram o regime de Saddam Hussein contra a recém-instalada República Islâmica, participaram da “guerra dos petroleiros”, respondendo a ataques de Teerã a navios na região.

No período pós-Guerra Fria, com duas guerras no Iraque e novas fontes de petróleo fora do Golfo, os EUA passaram a descrever sua força militar na região como “ferramenta de manutenção da paz” regional. Parceiros americanos estratégicos, como Arábia Saudita e Emirados Árabes - rivais do Irã -, se tornaram grandes clientes da indústria bélica. A região jamais esteve tão militarizada, com tantos atores capazes de levar adiante um conflito. Inclusive o Irã.

Ao contrário dos americanos, os iranianos têm como objetivo a defesa do território. Bases no exterior são vetadas pela Constituição do país, o que não impede sua participação em conflitos como o da Síria. Por causa das sanções internacionais, o país não pode comprar equipamentos no exterior. Seus caças F-14 foram adquiridos ainda na época do xá Reza Pahlevi, nos anos 1970.

Uma saída, além de comprar peças no mercado negro, é investir na indústria local. Aviões baseados em caças chineses e soviéticos já voam perto das fronteiras, assim como drones. As baterias antiaéreas desenvolvidas no Irã têm alta tecnologia, como a Raad (“trovão”, em persa), provavelmente usada para derrubar o drone americano. A principal arma das forças navais são as pequenas embarcações, frequentemente acusadas de adotarem uma postura agressiva.

A posição do Irã reflete a maior questão estratégica do país: a defesa do litoral. Professora de Relações Internacionais da Universidade Johns Hopkins, Narges Bajoughl diz que a cúpula em Teerã não quer guerra, mas mostra que não medirá esforços para defender as fronteiras.

"Se houver qualquer coisa perto da fronteira iraniana, eles vão atacar e já disseram que estão prontos para fazer isso", diz Narges.

Área sensível

Cerca de um quinto do petróleo mundial precisa passar pelo Estreito de Ormuz. A derrubada do drone é mais um incidente da escalada de tensão entre o Irã e os EUA.

Dois petroleiros foram atacados há uma semana na região. Os EUA acusaram o Irã de estar por trás dos incidentes. O exército americano tornou público um vídeo que, segundo eles, mostra iranianos tirando explosivos não detonados do casco de um navio – o que seria uma forma de impedir a identificação dos autores do ataque.

Crise

Indagado se os Estados Unidos irão atacar o Irã em retaliação à derrubada pelos iranianos de um drone norte-americano, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse a repórteres: "Vocês em breve descobrirão". Trump falou rapidamente à imprensa antes de receber o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Segundo o presidente dos EUA, o drone estava sobre águas internacionais, não sobre território iraniano.

Ele entrou no espaço aéreo iraniano de madrugada e sobrevoava uma região no sul do país, disse a Guarda Revolucionária, o corpo de elite do exército do Irã que derrubou o drone. A aeronave não-tripulada violou o espaço aéreo do Irã, de acordo com os Guardiões da Revolução. A Guarda é apontada pelos EUA como um grupo terrorista.

O exército americano contestou os iranianos. "As informações iranianas segundo as quais o aparelho sobrevoava o Irã são falsas", assinalou o Pentágono (apelido do prédio onde o comando do exército dos EUA é sediado). "Trata-se de um ataque injustificado a um aparelho de vigilância americano no espaço aéreo internacional", disse Bill Urban, porta-voz da marinha.

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