Investigação

Três russos e um ucraniano sob acusação por queda de avião na Ucrânia em 2014

Rússia, que questiona a investigação, não deverá enviar suspeitos para o julgamento, que acontecerá na Holanda em março do ano que vem

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Na Holanda, investigadores internacionais apresentam suas descobertas sobre a queda do avião
Na Holanda, investigadores internacionais apresentam suas descobertas sobre a queda do avião (Reuters)

NIEUWEGEIN, Holanda — Três russos e um ucraniano enfrentarão acusações de assassinato pela queda do voo MH17, da Malaysia Airlines , que deixou 298 pessoas mortas em 2014. Ontem, 19, em entrevista coletiva, uma comissão de investigadores internacionais reunida pelo governo holandês informou que o julgamento deverá começar naHolanda em março do ano que vem, mesmo que os réus estejam ausentes.

O MH17 foi derrubado em 17 de julho de 2014, na Ucrânia , em território controlado por grupos separatistas favoráveis à Rússia, enquanto voava de Amsterdã para Kuala Lumpur . Todos os passageiros a bordo morreram, incluindo 80 crianças. A maioria das vítimas era de nacionalidade holandesa.

A comissão de investigadores emitiu mandados internacionais de prisão contra os russos Sergey Dubinsky, Oleg Pulatov e Igor Girkin e para o ucraniano Leonid Kharchenko. Os suspeitos não deverão participar presencialmente do julgamento, já que a Rússia não enviará seus cidadãos para os procedimentos.

A Chancelaria russa negou que tenha se recusado a colaborar com a investigação e disse considerar as acusações difamatórias. "Mais uma vez, acusações absolutamente infundadas estão sendo feitas contra o lado russo, buscando manchar a reputação de Moscou", disse em um comunicado.

A Equipe Conjunta de Investigação (JIT, na sigla em inglês) foi organizada pelo governo holandês para conduzir a investigação criminal sobre a queda do voo MH17. O grupo, que é formado por policiais e pela Procuradoria da Holanda e por policiais e autoridades judiciárias de Austrália, Bélgica, Malásia e Ucrânia, já havia concluído que o avião fora abatido por um míssil russo.

"Esses suspeitos tiveram um papel importante na morte de 298 civis inocentes", disse o procurador-chefe Fred Westerbeke. "Por mais que eles não tenham apertado o botão pessoalmente, acreditamos que cooperaram de perto com o transporte do lançador de mísseis e para mirá-lo para derrubar o avião".

No ano passado, o presidente russo, Vladimir Putin, chamou a queda da aeronave de "uma tragédia terrível", mas disse que Moscou é isenta de culpa e que existem outras explicações para o ocorrido. Os governos da Holanda e da Austrália declararam que consideram a Rússia legalmente responsável pela queda, mas o Kremlin diz não confiar nas investigações.

"A Rússia não pôde participar das investigações, apesar de demonstrar claro interesse no ocorrido e de ter tentado participar", disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.

Sem dar detalhes, o ministro da Justiça holandês, Ferdinand Grapperhaus, disse em uma carta ao Parlamento que a Holanda tomou medidas diplomáticas contra Moscou devido à falta de cooperação com a investigação, enquanto o chanceler britânico, Jeremy Hunt, afirmou que a Rússia "deve cooperar por completo com as investigações e fornecer a assistência necessária". Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, saudou o resultado das investigações e disse que espera a condenação dos suspeitos.

As descobertas da comissão apontam que Girkin é um ex-funcionário do Serviço Federal de Segurança russo que atuava como ministro da Defesa da autoproclamada República Popular de Donetsk, região separatista da Ucrânia, em 2014. Dubkinsky seria chefe da agência de Inteligência militar do grupo, e Pulatov, líder de um dos departamentos da Inteligência. O ucraniano Kharchenko supostamente atuaria no batalhão de reconhecimento da região. "Os rebeldes não derrubaram o Boeing", Girkin disse à agência Reuters, sem elaborar.

Os investigadores disseram que vão contactar o governo russo para interrogar os suspeitos. Silene Fredriksz, que perdeu o filho e a nora na tragédia, disse acreditar que os suspeitos não comparecerão aos tribunais, mas que não se importa: "Eu só quero a verdade".

Suspeita

O suposto envolvimento da Rússia no incidente veio à tona horas após o desastre, quando jornalistas da Associated Press divulgaram que haviam visto um sofisticado sistema antimísseis na Ucrânia, em uma área dominada por rebeldes apoiados por Moscou. Quase imediatamente, autoridades ucranianas publicaram telefonemas interceptados em que rebeldes discutiam atacar aviões militares de Kiev. Vídeos de testemunhas que mostravam o equipamento de defesa sendo levado de volta ao território russo também começaram a aparecer.

Segundo analistas, é improvável que o sistema antimísseis tenha sido enviado para um país estrangeiro sem a autorização da alta cúpula do Kremlin. Desde 2014, jornalistas e investigadores independentes têm identificado potenciais suspeitos de envolvimento com a tragédia, associando suas vozes àquelas divulgadas pelas ligações divulgadas por Kiev.

Na manhã de ontem, 19, o Bellingcat, um grupo que utiliza documentos e informações públicas para embasar suas investigações, identificou outros dois militares russos, incluindo um general reformado, que teriam participado da derrubada da aeronave.

A Rússia nega qualquer participação na queda do avião e também rejeita as acusações de que armou grupos separatistas ucranianos.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.