Tensão

Rússia pede que Estados Unidos suspendam provocações ao Irã

Governo da Rússia se manifesta após anúncio de envio de mais mil soldados ao Oriente Médio; preocupada, China pede que ''caixa de Pandora'' não seja aberta na região; o presidente Hassan Rouhani disse que não está em busca de um conflito com os EUA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
As tensões entre EUA e Irã aumentaram após os americanos culparem Teerã pelos ataques a dois navios
As tensões entre EUA e Irã aumentaram após os americanos culparem Teerã pelos ataques a dois navios (Reuters)

GENEBRA e DUBAI - Em meio a escalada de tensões entre Estados Unidos e Irã, a Rússia defendeu que os americanos adotem maior moderação e abandonem iniciativas provocadoras, como deslocar mais soldados para o Oriente Médio, enquanto a Chinapediu para que os EUA não abram uma "caixa de Pandora" na região.

As declarações vêm no dia seguinte ao anúncio de que mil militares americanos serão enviados para reforçar o efetivo já presente no Oriente Médio, adição divulgada na segunda, horas após Teerã dizer que seu estoque de urânio enriquecido vai ultrapassar em dez dias o limite estabelecido pelo acordo nuclear de 2015. Na manhã desta terça-feira, o Kremlin pediu cautela a ambos os lados:

"O que estamos vendo são tentativas infinitas e contínuas dos EUA de aumentar a pressão política, psicológica, econômica e, sim, militar, de uma maneira bastante provocativa", disse o vice-chanceler Sergei Ryabkov. "Essas ações não podem ser entendidas como qualquer outra coisa que não seja um caminho consciente para provocar uma guerra".

Impasses

Em tom semelhante, o conselheiro do governo chinês Wang Yi declarou, após um encontro com o ministro de Relações Exteriores sírio, que os americanos não devem utilizar "pressão extrema" para resolver os impasses com o Irã:

"Pedimos que todos os lados mantenham a razão, tenham cautela, não tomem iniciativas que aumentem as tensões na região e não abram uma caixa de Pandora", disse Wang. "Em particular, os EUA devem mudar seus métodos de pressão extrema. Qualquer comportamento unilateral não tem base na lei internacional. Além de não resolver o problema, isso só vai criar uma crise ainda maior".

Os temores de um confronto aumentaram na quinta-feira passada, quando os americanos acusaram Teerã de estar por trás dos ataques a dois navios petroleiros nas proximidades do Estreito de Ormuz, que liga o Golfo de Omã ao Golfo Pérsico e por onde passam 20% do petróleo produzido no mundo.

Na manhã de segunda-feira, Teerã anunciou que seu estoque de urânio enriquecido ultrapassará no dia 27 de junho o limite de 300 quilos estabelecido pelo acordo nuclear assinado com as principais potências globais. O país persa, contudo, reforçou que ainda pode manter sua produção dentro dos limites se os países europeus agirem para bloquear os efeitos das sanções reimpostas pelos Estados Unidos depois de abandonarem o acordo, em maio de 2018.

Poucas horas depois, o Pentágono divulgou novas fotos supostamente do ataque aos navios-tanque atribuindo a culpa ao Irã, anunciando em seguida o aumento de seu efetivo no Oriente Médio, em "propósitos defensivos para responder a ameaças aérea, naval e em terra" na região. Trump já havia divulgado um reforço de 1.500 militares em maio , logo após o grupo de ataque do porta-aviões USS Abraham Lincoln e uma força-tarefa de bombardeiros B-52 serem despachados como reforços.

Isolamento

Na manhã de ontem, 18, o presidente Hassan Rouhani disse que não está em busca de um conflito com os Estados Unidos e criticou os esforços americanos de isolar o país, alegando que o presidente Donald Trump não tem experiência em relações internacionais.

"O Irã não está em busca de uma guerra contra país nenhum", disse Rouhani, em discurso transmitido pela televisão estatal. "Apesar dos esforços americanos na região para cortar nossos laços com o resto do mundo e de seu desejo de manter o Irã isolado, eles não têm sido bem-sucedidos".

Acordo nuclear é ponto-chave

No acordo nuclear de 2015, que está no cerne da crise, o Irã se comprometeu a não produzir a bomba atômica, em troca dos benefícios econômicos que esperava obter com o fim das sanções então vigentes da ONU, da União Europeia e dos EUA. As sanções europeias e as impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas foram suspensas, mas, dado o poder do dólar e do sistema financeiro americano, a volta das sanções de Washington acabou atingindo o comércio e os investimentos no Irã de empresas de outros países, incluindo as europeias.

Além disso, o governo Trump afirma estar empenhado em reduzir a zero as exportações de petróleo iranianas, punindo os países que comprarem o produto do país. Com isso, as exportações do Irã caíram de 2,5 milhões de barris por dia em abril de 2018 para 400 mil barris por dia em maio deste ano.

A manutenção de um estoque baixo de urânio enriquecido é uma das principais garantias de que o Irã não terá combustível suficiente para produzir uma bomba nuclear. De acordo com o acordo assinado há quatro anos, a produção excedente deve ser vendida a outros países.

Para evitar as sanções americanas, os signatários europeus do acordo nuclear — Reino Unido, França e Alemanha, além da própria União Europeia — vinham trabalhando em um mecanismo que permitiria que empresas do continente mantivessem o comércio com o Irã por meio de permutas. O mecanismo, no entanto, só se aplicaria a itens alimentícios e medicinais, que já são isentos das sanções americanas.

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