Artigo

Solidão do professor em sala de aula

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

O debate em torno da Educação no Brasil continua trazendo os mesmos diagnósticos: muitos alunos saem das escolas sem saber ler e escrever adequadamente, tornam-se jovens sem perspectivas e se transformam em adultos despreparados para a sociedade. Diversas avaliações mostram resultados decepcionantes dos estudantes.

No entanto, pouco se preocupou em ouvir um dos lados mais importantes nesta história: o professor. A rede brasileira de educação básica conta com 2 milhões de professores que escolheram enfrentar esse ofício tão essencial quanto difícil. Para entender melhor o dia a dia deles, o Instituto Península - organização social que busca contribuir para a qualidade da Educação - acompanhou professores de todo País em uma pesquisa de comportamento e cultura que reuniu mais de 3 mil horas de entrevistas e encontros. O “Observatório do Professor”, feito em parceria com a PS2P - Observatório de comportamento e cultura, esteve com docentes vivendo de perto as alegrias e dores dentro e fora das salas de aula.

Dos vários questionamentos e reflexões que os encontros trouxeram, um dos que mais chamou atenção foi que muitos professores se sentem tão sozinhos quanto impotentes para exercer o grande propósito da sua profissão: ser um agente de transformação. Seu olhar sobre a Educação navega entre o prazer de ensinar seus alunos e a frustração de não conseguir fazê-los aprender. Muitos sentem o peso de serem vistos como os únicos responsáveis por transformar a realidade das comunidades em que atuam, sentindo-se expostos e até vulneráveis com o desafio. Assim, a solidão também surge da falta de um ambiente que facilite o diálogo e a colaboração entre os colegas, para troca de experiências e construção de um projeto comum de educação ou para simplesmente desabafar com quem conhece de perto o dia a dia da escola.

Viu-se também que, muitas vezes, a dura realidade dos alunos pode gerar um choque cultural tão grande que, às vezes, dificulta a construção de uma relação de confiança entre professor-aluno, prejudicando ainda mais o ensino e a criação de movimentos em prol da aprendizagem dos estudantes.

Para acabar com esse descompasso é preciso, entre outras soluções, fortalecer o papel do professor. Isso acontece a partir da autorreflexão e autoconhecimento do docente, aliado ao conhecimento teórico adequado. Quando eles compreendem suas qualidades e fraquezas são capazes de olhar os problemas que afetam suas relações e buscar soluções. Eis a importância em desenvolver integralmente o docente, para que conheça suas emoções, corpo, mente e propósito. Assim, eles se tornam mais preparados para lidar com os desafios de seus alunos, se conectam a eles e constroem a ponte que liga ao conhecimento, influenciando positivamente todo o sistema educacional.

O Observatório do Professor também identificou que a união dos educadores e o apoio do sistema e da sociedade podem transformar a Educação. Um exemplo é o grupo de docentes em Pernambuco. A partir de uma comunidade escolar fortalecida, que promove uma virada conceitual em torno do paradigma escolar e da forma como os professores percebem seu trabalho, fizeram com que a escola deixasse de ser ‘transmissora’ para se tornar ‘produtora’ de conhecimento, aliando o conteúdo à realidade dos alunos e fazendo uma escola junto com eles. Assim, promoveram o desenvolvimento individual dos estudantes e da comunidade, gerando uma transformação coletiva e resgatando o papel social da escola como agente de desenvolvimento.

Se a Educação nas salas de aula brasileiras está paralisada, é urgente apoiar o movimento dos educadores. É hora de agir. Cada conquista do professor no ensino de um aluno é uma vitória de toda a sociedade.

Heloisa Morel

Diretora Executiva do Instituto Península, organização do terceiro setor que atua para aprimorar a formação de professores, porque acredita que eles são a base para uma educação pública de qualidade

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