Manifestação

Em Hong Kong, milhares pedem a renúncia de Carrie Lam

Manifestação ocorre um dia depois de ela ter suspendido uma polêmica lei de extradição que poderia enviar moradores da ilha à China continental para julgamentos. População pede retirada do projeto, e não apenas uma suspensão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Manifestantes carregam uma capa de chuva amarela, em memória de um homem que morreu durante protesto
Manifestantes carregam uma capa de chuva amarela, em memória de um homem que morreu durante protesto (Reuters)

HONG KONG - Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Hong Kong ontem,16, vestidos de preto e pedindo que a líder da cidade, Carrie Lam, renuncie. A manifestação ocorre um dia depois de ela ter suspendido uma lei de extradição - um recuo importante, que já foi sua resposta a outros protestos recentes, os mais violentos em décadas.

Alguns manifestantes carregavam cravos e outros tinham cartazes dizendo "Não atirem, somos de Hong Kong", numa tentativa de evitar uma nova repressão violenta, como ocorreu com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha na quarta-feira,12, no centro financeiro da cidade.

Por causa da multidão, algumas pessoas chegaram a desmaiar, por causa das temperaturas superiores a 30ºC, enquanto outros passavam água e ventiladores entre si, no Victoria Park, enquanto marchavam rumo aos prédios do governo.

A multidão aplaudia quando os organizadores do protesto pediam que a líder do governo de Hong Kong renunciasse. Apoiada por Pequim, Lam adiou por tempo indeterminado o projeto de lei de extradição que poderia mandar pessoas de Hong Kong para a China continental para serem julgadas.

Ela expressou "profundo arrependimento", mas não chegou a pedir desculpas. A reviravolta foi uma das mudanças de rumo mais significativas já apresentada pelo governo de Hong Kong desde que o Reino Unido devolveu o território à China em 1997. A crise vem levantando dúvidas sobre a capacidade de Lam de continuar à frente da cidade.

Pressão popular

"Carrie Lam se recusou a pedir desculpas. Isso é inaceitável", disse Catherine Cheung, de 16 anos. "Ela é uma líder terrível, cheia de mentiras. Acho que ela está só adiando a apresentação da lei agora, para nos acalmar e nos enganar."

A colega de Cheung, Cindy Yip, afirmou: "É por isso que ainda estamos pedindo que a lei seja descartada. Não acreditamos mais nela. Ela precisa renunciar."

Já o jornal do Partido Comunista chinês, "People's Daily", afirma em um artigo deste domingo que as autoridades centrais da China expressaram "firme apoio" a Carrie Lam.

Projeto

Proposta em fevereiro e com uma votação final que estava originalmente agendada para o próximo dia 20, a lei permitiria que a chefia do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios e sem supervisão legislativa.

No entanto, o projeto encontrou oposição de um amplo espectro social, de estudantes a empresários, que expressaram preocupação com o risco de residentes de Hong Kong acusados de crimes serem transferidos para a China continental.

A chefe do Governo disse que o objetivo original do projeto de lei era preencher um vácuo legal para "impedir que Hong Kong se tornasse um paraíso para os criminosos", um objetivo que "não mudou".

"Nós criamos um grande conflito e muitas pessoas estão decepcionadas e tristes, eu também estou triste e sinto muito por desencadear este conflito. Nós aceitamos as críticas com sinceridade e humildade, e vamos melhorar. O governo escutará abertamente as opiniões sobre o projeto legislativo. Vamos nos comunicar com a sociedade, vamos explicar mais e vamos ouvir mais", disse Lam.

A decisão veio depois que Carrie Lam se reuniu com membros de seu conselho, na véspera de uma nova manifestação marcada para este domingo, que deverá seguir os protestos da última quarta-feira, quando milhares de pessoas saíram às ruas para pedir o cancelamento do texto.

A polícia dispersou as manifestações na sede parlamentar usando gás lacrimogêneo e balas de borracha e deixando 81 feridos (dois deles em estado grave), e 11 detidos, segundo as forças de segurança locais.

Pequim

Por sua parte, Pequim reiterou durante toda a semana seu apoio à intervenção policial em Hong Kong e a intenção do governo local de continuar com o processamento dessa legislação.

Organizações cívicas de Hong Kong afirmaram que vão continuar com os protestos até que a chefe do Executivo retire definitivamente a sua proposta de lei de extradição.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.