Tese

Tradutores maranhenses analisados em pesquisa

Pesquisador Roberto Carvalho desenvolve tese sobre livros e tradutores do século XIX no Maranhão e prepara uma publicação que é um recorte de seu trabalho

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
O pesquisador Roberto Carvalho prepara livro que será lançado em julho
O pesquisador Roberto Carvalho prepara livro que será lançado em julho (Roberto Carvalho )

São Luís - Com o objetivo de identificar ideias e valores responsáveis pelo surgimento de uma plêiade de tradutores maranhenses, estabelecendo um espaço único de viva atividade editorial com obras estrangeiras, o pesquisador Roberto Sousa Carvalho se dedica à tese de doutoramento “Maranhão, Província tradutora: livros e tradutores em São Luís do séc. XIX”. Como recorte desta pesquisa, o maranhense se prepara para lançar, em julho, o livro “Tradutores inusitados: registros da influência francesa na literatura maranhense em meados do século XIX”.

Em sua tese, orientada pelo professor João Luís Lisboa - que também assina o prefácio do livro - o pesquisador se debruça sobre a significativa quantidade de obras estrangeiras traduzidas para a língua portuguesa em circulação em São Luís, no século XIX. Segundo ele, esta profícua produção indica que a tradução era uma área destacada em meio às práticas editoriais. “O trabalho especializado da tradução sinaliza, também, para a existência de uma arena em que se articulavam diversas forças culturais e políticas em função de um projeto de construção e celebração de valores nacionais”, diz o pesquisador. “O grande número de títulos vertidos para a língua portuguesa, por escritores do Maranhão, é ainda mais relevante se considerarmos as condições educacionais do país. Embora gigantesco o fosso que separava a pequena comunidade de letrados da ampla massa de analfabetos, São Luís viveu, naquele tempo, um período considerado áureo de agitação cultural, e que projetaria a Província na vida literária de todo o país”, completa.

Ele ressalta que é esse o tempo em que São Luís passa a ser nominada de Atenas Brasileira. Apesar de estar integrada à efervescência cultural vivida na Província do Maranhão naquele tempo, o trabalho de tradução, segundo Roberto Carvalho, não alcançou merecido destaque “nem da crítica de seu tempo nem da dos nossos dias. Embora considerável a produção bibliográfica de títulos traduzidos por intelectuais maranhenses, ela foi absolutamente desconsiderada do universo das publicações”, pontua o pesquisador.

Roberto Carvalho atem-se, em sua pesquisa, aos principais nomes na tradução daquela época: Odorico Mendes, patrono dos tradutores brasileiros; Artur Azevedo, que, mais prolífico, traduziu pelo menos 80 peças teatrais; Antônio Rego; Antônio Henriques Leal; Gonçalves Dias e José Ricardo Jauffret. Este último foi escolhido pelo pesquisador por sua singularidade.

Livro

Em paralelo à sua tese, Roberto Carvalho se prepara para lançar o livro “Tradutores inusitados: registros da influência francesa na literatura maranhense em meados do século XIX”. Ele conta que o livro versará sobre obras traduzidas por três vultos maranhenses daquele século e que a ideia surgiu a partir de alguns ensaios que elaborou como resposta a muitas provocações experimentadas ao longo de cadeiras e seminários de investigação cursados no doutoramento em Estudos Portugueses, na Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Partes da obra integram a tese de doutoramento.

Ele explica que três ensaios constituem a obra, e cada um deles possui características distintas, apesar de estarem intrinsecamente ligados. No primeiro, “A Bibliotheca Dramatica de Antônio Rego”, o autor põe em tela uma interessante coletânea traduzida e organizada por esse médico e literato maranhense, hoje pouco conhecido pelos maranhenses. “Relevante mencionar que, para esse feito, Antônio Rego contou com a inestimável ajuda de seu cunhado, o também médico Antônio Henriques Leal. No estudo, além de apresentar detalhes ignorados da ‘Bibliotheca Dramatica: theatro moderno (1853-1854)’, há correções de informações equivocadas sobre os títulos das 12 peças que a compõem”.

No segundo, “‘Um maranhense em França’: a influência romanesca e a conversão sui generis do episódio do Adamastor, de ‘Os Lusíadas’, na Ilha de São Luís”, Roberto Carvalho conduz o leitor à obra de José Ricardo Jauffret, outra personagem completamente esquecida na atualidade. “A posição que Jauffret ocupa entre os de seu tempo é bastante curiosa. Enquanto muitos literatos maranhenses ocuparam-se em traduzir para o português obras de grande repercussão internacional, ele converteu para o francês um trecho de ‘Os Lusíadas’, de Luís de Camões, o mais importante clássico da literatura portuguesa”, observa o pesquisador.

O terceiro é “Hugolatria luso-brasileira: traduções de ‘Os miseráveis’ em terras d’Aquém e d’Além-mar”. “Neste terceiro e último ensaio, traço um quadro pequeno em que busquei esclarecer um episódio editorial internacional que envolve uma grande obra da literatura universal, de Victor Hugo (Os Miseráveis, 1862)”. Para o pesquisador, a edição de “Os Miseráveis” comprava a pujança editorial maranhense, pois foi lançada simultaneamente à de Paris.

Com o livro, Roberto Carvalho pretende lançar luzes sobre a praça editorial de São Luís, com uma avaliação pontual de como se comportou a atividade tradutora. Também mostra que houve resistência às obras de Victor Hugo, principalmente de alguns representantes da fé católica, porque expunham, de um só golpe, feridas sociais e a mentalidade utilitarista – que em tudo nega a condição humana – de uma sociedade desigual. “Ressalto, ainda, que o trabalho desses maranhenses conseguiu ultrapassar as barreiras do país, chegando a importantes centros de informação espalhados pelo mundo, como Portugal, Reino Unido, Austrália e Estados Unidos”.

O autor

Roberto Sousa Carvalho é aluno do Doutoramento em Estudos Portugueses, área de especialidade “História do Livro e Crítica Textual”, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Editoriais pela Universidade de Aveiro, Portugal, com diploma reconhecido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba; e graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Maranhão.

Tem sólida experiência no ramo livreiro, atividade que tem se dedicado há 25 anos, desenvolvendo trabalhos de planejamento gráfico e consultoria editorial. É especialista em recuperação da informação (data mining). É sócio-correspondente da Academia Codoense de Letras, Artes e Ciência.

Atualmente, exerce o cargo de bibliotecário-documentalista na Editora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e realiza trabalhos de editoração eletrônica no Instituto Geia. Investigador assistente do Centro de Humanidades (CHAM), integra o grupo de investigação “Leitura e formas de escrita”. É bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Etuda os temas história do livro e da edição, mercado livreiro e planejamento gráfico-editorial.

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