Austeridade

''É feio ver um núncio que busca o luxo", diz papa Francisco

Em novo decálogo para autoridades do Vaticano, Pontífice cobra lealdade e austeridade; blogs e grupos hostis a ele e à Cúria são proibidos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
O papa Francisco verifica o seu relógio durante uma cerimônia na Praça de São Pedro no Vaticano
O papa Francisco verifica o seu relógio durante uma cerimônia na Praça de São Pedro no Vaticano (AFP)

ROMA - O papa Francisco exigiu dos núncios e diplomatas do Vaticano que sejam leais e austeros, em um decálogo entregue aos representantes pontifícios em todo o mundo.

"É feio ver um núncio que busca o luxo, os trajes e os objetos de marca em meio a pessoas sem o básico. É um contratestemunho. A maior honra para um homem da Igreja é ser o 'servo de todos'", recordou Francisco a seus diplomatas.

O papa também proibiu que tenham blogs ou se unam a grupos hostis a ele, à Cúria e à Igreja de Roma. A medida é uma menção indireta ao escândalo provocado pelo ex-núncio nos Estados Unidos Carlo Maria Viganó, que, no ano passado, chegou a pedir, ao lado de outras lideranças católicas ultraconservadoras, a renúncia do Papa por supostamente acobertar abusos sexuais na Igreja.

Nesta semana, Viganò deu sua primeira entrevista desde que pediu para Francisco renunciar no ano passado. Em uma longa troca de mensagens por escrito com o Washington Post, ele afirma que a Igreja vive “um dos períodos mais turbulentos de sua história”.

O pontífice reitera também que um diplomata do Vaticano "não pode cair em fofocas e calúnias", algo bastante comum por trás dos muros da Santa Sé.

O documento, com 10 pontos, foi entregue a uma centena de representantes papais reunidos no Vaticano para que compartilhem "alguns preceitos básicos e simples", disse.

"Vocês os conhecem bem, mas recordá-los fará bem a todos e os ajudará a cumprir sua missão", comentou.

'Arquitetura hostil' contra mais pobres

Em outra mensagem divulgada nesta quinta-feira, Francisco também condenou que os pobres sejam tratados como "lixo" e denunciou a "arquitetura hostil" contra essa camada da população, em uma mensagem que será pronunciada na Jornada Mundial dos Pobres que acontece em novembro.

“Passam-se os séculos, mas a condição de ricos e pobres se mantém inalterada, como se a experiência da História não nos tivesse ensinado nada", lamentou o pontífice, indignado, ao analisar a "desigualdade" que reina nas sociedades modernas. "Devemos nomear as inúmeras formas de novas escravidão, às quais milhares de homens, mulheres, jovens e crianças estão submetidos", escreveu o papa.

O sumo pontífice mencionou, entre esses novos escravos, os imigrantes, os órfãos, os desempregados, as prostitutas, os dependentes químicos, os marginalizados e as vítimas de violência.

Reflexão

A jornada mundial dedicada aos pobres foi fundada pelo papa argentino em 2016 para levar à reflexão católicos de todos os continentes sobre as diferentes formas de exploração do homem e, ao mesmo tempo, mobilizar a Igreja diante desse grave fenômeno.

"A Igreja não pode fechar os olhos diante desse fenômeno", insistiu o religioso, que apontou as inúmeras iniciativas promovidas pelo Vaticano em diferentes países para enfrentar as necessidades dos mais pobres.

O papa pede ainda que se deixem de lado "as divisões e as visões políticas e ideológicas" para fixar o olhar "no essencial", em um "olhar de amor e uma mão estendida".

"Aos pobres não se perdoa sequer sua pobreza", acrescentou o papa, que também condena "a crueldade mediante a violência da arbitrariedade". "São tratados como lixo, sem que exista qualquer sentimento de culpa por parte daqueles que são cúmplices deste escândalo", acrescenta.

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