Especial/ São João

Do surgimento do bairro ao nascedouro das toadas do Boi de Maracanã

Bairro cuja origem remonta o século XIX a partir da iniciativa de famílias pioneiras viu nascer de sua terra um dos grupos mais conhecidas da cultura local

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Amo Humberto, já falecido, comandando o batalhão de Maracanã
Amo Humberto, já falecido, comandando o batalhão de Maracanã

SÃO LUÍS - Eram 15h30 de uma quinta-feira (13) e o batalhão pesado se preparava para mais uma apresentação. De sua sede, em uma casa simples, surge membros e mais membros de um dos grupos mais conhecidos da cultura maranhense. O Boi de Maracanã é oriundo do pioneirismo de pessoas simples e leva o nome de um dos bairros cuja história se confunde com a formação urbana ludovicense. Um ritmo das matracas e dos pandeirões que existe não somente pela ação de nomes mais famosos, como seu Humberto, mas pela força de gente como dona Maria, João Vitor, Humberto Filho e tantos outros.

A existência da brincadeira se mistura às tradições dos povos que, séculos atrás, marcaram os seus traços no território de São Luís. Pela linguagem tupi, o nome “Maracanã” significa “pássaro grande”. Uma alusão ao termo araracanga que, de acordo com os herdeiros dos fundadores do bairro, seria uma ave e considerada espécie singular da fauna brasileira.

Na primeira metade do século XIX – por entre mangueiras seculares – o antigo Sítio Bacuri (que originou o bairro Maracanã) recebeu os seus primeiros habitantes. Um deles foi Manoel Jorge Valente, um fazendeiro que por aqui chegou para estabelecer negócios. Segundo historiadores, Valente era dono de fornos de olaria e, para auxiliar na catequização dos primeiros moradores, construiu capelas.

A partir da segunda metade do século XIX, famílias conhecidas como os Algarves, os Coutinho, os Pereira, os Barbosa e tantas outras começaram a vislumbrar um futuro promissor nas terras que ainda se encontravam distantes das principais localidades daquele tempo. Por ser, até então, um bairro praticamente isolado, os moradores necessitavam do transporte aquaviário para atravessar o Rio Bacanga.

Sede do Boi de Maracanã, cuja história se confunde com a do bairro
Sede do Boi de Maracanã, cuja história se confunde com a do bairro

As embarcações atracavam no antigo Porto Bacanguinha que, diariamente, promoviam viagens até o Desterro, onde os antigos habitantes iam praticar o chamado escambo (troca de mercadorias). Era comum ver, por exemplo, os moradores levarem alimentos em troca de objetos ou outros itens.

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Consolidação

Aos poucos, o bairro foi se incorporando ao mapa urbano da capital maranhense. Trabalhadores oriundos do interior do estado e de outros bairros da cidade tentavam “a sorte” na localidade e, por ali, criavam animais e praticavam agricultura de subsistência.

A partir da primeira metade do século XX, com a passagem da linha férrea da Companhia Ferroviária do Norte, foi possível levar certo progresso à região. “Foi a partir daí que o comércio e outras atividades ganharam impulso”, disse Marlene Algarves, entrevistada pelo Repórter Mirante da TV Mirante em 2012.

Maria José Soares, presidente do Boi de Maracanã
Maria José Soares, presidente do Boi de Maracanã

Comunidades migram e surge o “Boi de Promessa”

Com o certo desenvolvimento a partir do comércio, várias pessoas que residiam em outras localidades passaram a ver o Maracanã como “um local de oportunidades”. Os mais antigos, em busca de nova vida não somente no aspecto econômico, levaram também as suas tradições e costumes.

Uma delas, fortemente registrada a partir da segunda metade do século XX – mais especificamente após a década de 1950 – era o chamado “Boi de Promessa”. São manifestações voltadas para os costumes da tradição de bumba-boi e que surgem a partir da devoção dos santos: São João, São Pedro e São Marçal.

Foi a partir da força de um homem chamado José Martins, antigo morador, que o “Boi de Promessa” se estabeleceu no Maracanã. Além dele, outras pessoas como seu Lourenço, Murilo Vitor, Zé Pé, Naide e tantos outros fomentaram a tradição. “São pessoas muito importantes e que constituíram, na verdade, o nascedouro do batalhão de Maracanã”, disse Maria José Soares, atual presidente do Boi de Maracanã.

Aos poucos, além destes, outros colaboradores também passaram a marcar seus nomes na história do boi que viraria mais tarde uma referência nas festas juninas da cidade. Um homem, em especial, merece toda a reverência por sua dedicação à brincadeira. E por pouco, o bumba-boi não perdeu um ícone para o samba.

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