Artigo

Rhuan assassinado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

Não faz muito tempo, houve uma onda de indignação nas redes sociais, acerca de maus-tratos de parte de segurança de um supermercado em Osasco, sofridos por uma cadela,. As imagens do crime são repugnantes e qualquer um de nós, ante o sofrimento do pobre animal, teria, como muitos tiveram, reação de repúdio à selvageria. A cadela morreu meia hora depois de agredida a pauladas. Louvável a reação das testemunhas do fato, não apenas no momento da ocorrência, mas, também, depois. Elas correram a oferecer ao público e à polícia imagens da agressão. Desse modo, os investigadores ficaram de posse de prova da autoria do crime.

Comportamento desprezível como o adotado contra a cadelinha é revelador de um dos aspectos mais repugnantes do ser humano: a indiferença pelo sofrimento alheio, característica de ainda indomados instintos primitivos do ser humano. Aliás, civilizar uma sociedade é justamente domar esse primitivismo instintivo e diferenciar o ser humano do leão. Ele mata os filhotes de sua nova companheira, depois de afastar violentamente o antigo companheiro dela, já enfraquecido pelo tempo. O leão vencedor deseja apenas transmitir às gerações seguintes sua herança genética, não a do leão derrotado. Isso não serve a nossa própria espécie, possuidora de instinto moral inato.

Vejamos agora situação semelhante, de consequências morais opostas. Falo do garoto de nove anos, Rhuan Maycon. Todo mundo conhece a história de seu trucidamento, há poucos dias, depois de anos de maus-tratos, por um casal composto pela sua mãe, imaginem, Rosana Cândido, que o trouxera do Acre até Samambaia, perto de Brasília, e pela companheira dela, Kacyla Damasceno. Ele, proibido de ir à escola e mantido em cárcere privado, teve o pênis amputado cerca de um ano atrás; no entanto, nunca foi levado a um hospital. Não morreu então por sorte. Assassinado, seu cadáver foi esquartejado pela mãe e pela mãe e a outra mulher, com o objetivo de facilitar sua ocultação, e submetido a tentativa de completa destruição pelo fogo.

Das duas histórias, incompreensível foi a primeira, a da cachorrinha, ter despertado tanta compaixão, mas não a segunda, a do garoto. Naquela, entidades protetoras de animais e o Ministério Público de São Paulo, bem como diversas outros grupos, agiram rápida e acertadamente, ao tomar providências imediatas de responsabilização tanto do autor do crime quanto da empresa empregadora dele. Surgiu, mesmo, na imprensa nacional, justificado clima de comoção, por meio de contundentes manifestações dos leitores na seção de comentários. A reação do público no caso do menino, porém, foi diferente. Sim, as mulheres foram presas e serão acusadas por vários crimes e por eles julgadas. Todavia, frieza com respeito aos maus-tratos e pelo assassinato tão cruel, ausência daquela indignação tão comum em situações como essa e indiferença foi o que vi.

Ao discurso politicamente correto, atribuo atitude como essa, não no caso da cadela. No outro. As assassinas são lésbicas. Muita gente não está disposta a expressar suas opiniões sobre o casal, por receio de serem etiquetadas como preconceituosa, como se houvesse um Código Penal adequado às relações “homoafetivas” (neologismo ridículo) e outro às “heteroafetivas” (que tal criar este outro neologismo?). Talvez os manipuladores desse discurso deletério possam devolver a vida de Rhuan e, assim, não perder tempo com notícias de sua morte.

Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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