Liberdade de imprensa

Após pressão de jornais, Justiça da Rússia manda soltar jornalista

Detenção teria sido uma armação para punir suas investigações sobre corrupção, afirmam defensores; Golunov deveria ser libertado ainda ontem, 11

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
O jornalista investigativo Golunov enquanto aguardava julgamento em Moscou
O jornalista investigativo Golunov enquanto aguardava julgamento em Moscou (Reuters)

MOSCOU - A Rússia anunciou ontem, 11, que as acusações contra o jornalista investigativo Ivan Golunov , detido sob a acusação de tentativa de tráfico de drogas, foram retiradas por falta de provas . A prisão de Golunov, de 36 anos, vinha provocando protestos de jornais, jornalistas e celebridades no país.

Segundo o ministro do Interior russo, Vladimir Kolokoltsev, os policiais que prenderam o repórter foram suspensos e serão submetidos ainvestigações internas . Golunov deverá ser liberado da prisão domiciliar ainda nesta terça-feira, segundo determinação da Justiça.

— Eu acredito que os direitos de todo cidadão, independentemente da profissão, devem ser respeitados — disse Kolokoltsev.

O ministro disse ainda que solicitará ao presidente Vladimir Putin ademissão de duas autoridades envolvidas no caso: o general de polícia Andrei Puchkov, chefe do distrito oeste da capital russa, e o general Yuri Deviatkin, chefe do Departamento de Combate a Narcóticos em Moscou.

Golunov, repórter do veículo on-line independente Meduza , que tem sede na Letônia, foi detido na quinta-feira da semana passada , quando ia se encontrar com uma fonte.

A polícia afirmou ter encontrado drogas na mochila que ele usava e na sua casa. Golunov negou as acusações e disse ter sido agredido pelos agentes. O site Meduza afirma que a prisão teria sido motivada por recentes denúncias contra autoridades da prefeitura de Moscou.

No sábado, o jornalista passou mal, sendo levado para um hospital e, no mesmo dia, foi posto em prisão domiciliar . Exames comprovaram que ele não tinha ingerido ou mesmo tido contato com qualquer substância proibida.

Em uma ação considerada sem precedentes na Rússia pós-soviética, três jornais publicaram na segunda-feira, em sua primeira página, manchetes em apoio ao jornalista.

Os veículos Vedomosti, RBK e Kommersant trouxeram a frase “Eu/Nós Somos Ivan Golunov” em suas capas. As publicações também defenderam uma investigação para saber o que realmente aconteceu com o jornalista.

Influência do governo

Não se tem memória de casos semelhantes na imprensa russa, conhecida por sofrer grande influência do governo e pelas poucas vozes independentes ainda toleradas pelas autoridades. O país ocupa a posição de número 148 no ranking de liberdade de expressão da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

— Eu estou muito feliz, estou chorando. Nós entendemos perfeitamente que isso aconteceu devido aos esforços de centenas, milhares de pessoas. Estamos muito gratos a todas elas — disse Galina Timchenko, editora do site Meduza.

Antes do recuo judicial, cerca de 25 mil pessoas haviam seguido uma página do Facebook que organizava um protesto nas ruas de Moscou nesta quarta-feira em apoio a Golunov.

O caso do jornalista provocou uma onda de críticas dentro e fora do país. Seus advogados afirmam que as drogas foram postas pelos agentes em sua casa, e que as supostas imagens dessas drogas publicadas pela polícia eram de outro caso.

A agência de notícias russa RIA Novosti informou na segunda-feira, 10, que uma investigação interna havia sido aberta para avaliar se a conduta dos agentes envolvidos foi correta. O prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin, havia ordenado que o chefe da polícia da cidade cuidasse pessoalmente do caso.

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