Tradição

Festa do Divino Espírito Santo é encerrada em Alcântara

Festejo oriundo dos colonos açorianos e seus descendentes, no século XVIII, é consolidado como um dos maiores do catolicismo popular na região Nordeste, reunindo milhares de moradores e turistas que tomam as ruas e ladeiras da cidade

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Festejo de Alcântara marcado pela procissão das caixeiras
Festejo de Alcântara marcado pela procissão das caixeiras (divino alcantara)

Alcântara - Encerrado ontem um dos festejos religiosos mais tradicionais do Maranhão. A Festa do Divino Espírito Santo de Alcântara, que teve início no dia 29 de maio e a programação oficial foi encerrada ontem. Hoje, no entanto, será realizado o ritual da derrubada do mastro. Além de procissões e missas, o evento foi marcado por música, dança, queima de fogos e distribuição de licores e doces de espécie, típico daquela região.

Ontem, a programação foi iniciada com missa na Igreja do Carmo, seguida de passeata com cortejo pelas ruas da cidade, retornando à casa do Divino. Em seguida, procissão com a Coroa do Divino, retornando à Igreja do Carmo, culminando com a Leitura do “Pilouro”, anunciando os nomes dos sucessores para o festejo de 2020. O encerramento foi com show dos cantores Mara Pavanelly e Bruno Shinoda e da Banda Barba Branca.

No total, foram 12 dias de festa, com investimento de cerca de R$ 300 mil do governos estadual e Prefeitura de Alcântara. A festa teve início com os colonos açorianos e seus descendentes, no século XVIII. Pois foram eles que começaram a habitar a região. No século XIX, a tradição enraizou-se entre a população de Alcântara, e de lá se espalhou para o resto do Maranhão, tornando-se muito popular entre as diversas camadas da sociedade.

A Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara é consolidada como uma das maiores do catolicismo popular na região Nordeste, reunindo milhares de moradores e turistas que tomam as ruas, ladeiras, becos e casarões da cidade histórica. Este ano, o Imperador foi Murilo Cesar Ferreira e o mordormo, Terezo Charles Araújo Garcia.

O evento desenrola-se em um salão chamado tribuna, que representa um palácio real e é especialmente decorado para este fim. A abertura e o fechamento desse espaço marcam o começo e o fim do ciclo da festa, durante o qual se desenrolam as diversas etapas que, em conjunto, constituem um ritual extremamente complexo, que pode durar até 15 dias: abertura da tribuna, busca e levantamento do mastro, visita dos impérios, missa e cerimônia dos impérios, derrubada do mastro, repasse das posses reais, fechamento da tribuna e carimbó de caixeiras.

Projeto do IFMA

O campus do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) realizou este ano a 10ª edição do projeto de extensão Divina Hospitalidade, que auxilia turistas durante a Festa do Divino em Alcântara. A iniciativa é desenvolvida por estudantes do IFMA no município. O objetivo é acolher os visitantes, com postos de informação e outras ações, para colaborar com o desenvolvimento do setor turístico.

Motivado pelo grande número de turistas que visitam Alcântara no período em que ocorre o maior evento cultural da cidade, o Divina Hospitalidade este ano teve início no dia 28 de maio, véspera do festejo. Além da acolhida aos turistas e dos postos de informação, os alunos do IFMA também programaram oficinas, exposições e debates.

No primeiro dia do projeto, foi realizada uma ação cultural com a presença das Caixeiras do Divino, que saudaram os presentes com seu toque de caixas. Também foi organizada a roda de conversa “Divino Espírito Santo: compartilhando conhecimentos e experiências de estudos”, com a participação de ex-alunos do curso superior em Gestão de Turismo, do campus do IFMA em Alcântara. O debate foi moderado pela professora Ilanna Nascimento, pesquisadora da festa.

Tradição e ancestralidade

A festa do Divino Espírito Santo é um ritual do Catolicismo Popular marcado pela presença significativa de mulheres - as caixeiras - que tocam instrumentos musicais denominados caixas do Divino.
Além de procissões e missas, o evento tem música, dança, queima de fogos e distribuição de licores e doces de espécie, típico da região. O ponto alto acontece no final de semana do Domingo de Pentecostes.

Comunidade da Liberdade promove tradicional cortejo

Moradores do bairro Liberdade realizaram, na manhã de ontem, o tradicional cortejo do Divino Espírito Santo, festa que será encerrada amanhã, com o carimbó das caixeiras, começando por volta das 13h. A festa na Rua Gregório de Matos tem 76 anos de existência e foi uma das primeiras do gênero realizada naquela área.

Caixeiras e membros da corte percorreram as ruas do bairro e depois se posicionaram no altar enfeitado, confeccionado dentro de uma das residências. Segundo Mayra Regina Araújo, uma das organizadoras da festa, a tradição começou com os pais dela e hoje é coordenada pelo irmão, Carlos Alberto Araújo (Bedeu). “É uma tradição que vai passando de pai para filho e fazemos tudo com muito engajamento e carinho, com a participação de toda a comunidade”, disse.

As caixeiras constituem elemento imprescindível e típico da festa do Divino no Maranhão e foram elas que deram o tom ao cortejo na Liberdade. São senhoras idosas com o encargo de tocar caixas e entoar cânticos, repetidos de cor ou improvisados, em louvor ao Divino Espírito Santo. Entre elas, estava dona Eugênia Ferreira, de 107 anos, que seguia firme e forte na caminhada. “Eu participo desta festa há muitos anos, tocando caixas, e também integro o Tambor de Crioula de Leonardo. Eu me sinto muito bem e disposta”, disse.

A origem da Festa do Divino Espírito Santo remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal, a partir do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima Trindade era festejada com banquetes coletivos designados de “Bodo aos Pobres”, com distribuição de comida e esmolas. Tradição que ainda se cumpre em algumas regiões de Portugal. Há referências históricas que indicam que foi inicialmente instituída, em 1321, pelo convento franciscano de Alenquer, sob proteção da Rainha Santa Isabel de Portugal e Aragão.

Festejo Alcantara

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