Entrevista/Eliziane Gama

"O governo Bolsonaro ainda não apresentou um programa e não sei se apresentará"

Eliziane Gama é a segunda ouvida por O Estado que vem fazendo uma série de entrevistas com os membros do Maranhão no Senado

Carla Lima/Editora de Política

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Eliziane Gama acredita que o Brasil precisa da reforma da Previdência, mas diz discordar do texto do governo
Eliziane Gama acredita que o Brasil precisa da reforma da Previdência, mas diz discordar do texto do governo (Eliziane Gama)

O Estado dá continuidade a série de entrevistas com a bancada maranhense no Senado Federal. Depois do tucano Roberto Rocha, a entrevista desta semana é a senadora Eliziane Gama (Cidadania), que na última semana foi alvo de críticas após votar contra a Medida Provisória 871, chamada antifraude no INSS.
Além deste assunto, a parlamentar conversou ainda com O Estado sobre a eleição para Prefeitura de São Luís no próximo ano e também sobre a situação política e econômica do Brasil.
Como senadora, Gama garante que é a favor da reforma da Previdência, mas faz crítica ao texto que hoje tramita na Câmara dos Deputados. Segundo ela, a proposta do governo Bolsonaro penaliza os mais pobres.
Eliziane Gama falou ainda sobre os dados sociais e econômicos do Maranhão, fazendo, claro, um cenário favorável ao governo do aliado, Flávio Dino (PCdoB), que enfrenta índices desfavoráveis como o da extrema pobreza no estado.

O Estado: O Brasil vive, desde 2015, uma crise política que parece aumentar com o passar dos anos. A senhora como deputada já nesta época e agora como senadora acredita que contribuiu para a atual situação?
Quando assumimos o mandato em 2015, o Brasil estava entrando de forma mais intensa nas investigações da Lava Jato, além disso a crise econômica por conta de políticas públicas errôneas estava começando a cobrar uma fatura bem alta da sociedade. Naquele momento, além de colocar nosso mandato na linha de frente do combate à corrupção, partimos para cima de pautas como a defesa das minorias e dos povos tradicionais. Na CPI da Petrobras conseguimos que retornasse ao Brasil um grande volume de capital que havia sido roubado do erário, votamos todas as vezes para que os políticos com poder e foro fossem investigados e através de pedidos nossos o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, começou a ser investigado. Acho que nosso mandato foi muito propositivo e combativo e acho que o povo do Maranhão também acha isso, já que nos deu mais um voto de confiança quando nos honrou com a possibilidade de representá-los no Senado.

O Estado: O que falta para o país sair da crise?
O presidente Jair Bolsonaro foi eleito por muita gente que via nele alguém que pudesse levar o Brasil a outro patamar moral, econômico e político. Ele apresentou muito pouco no período eleitoral, pois ele sofreu um atentado terrível. Agora, nestes primeiros meses, parece que falta uma agenda ao Governo. Parece que falta um conjunto de ações programáticas que unam o país em torno de determinados objetivos. O governo ainda não apresentou um programa e não sei se apresentará. Até o momento, o governo tem feito uma gestão extremamente presa a questões mais secundárias, sem encarar uma agenda econômica que gere renda e emprego e, principalmente, ainda governa apenas para a parte dos brasileiros que votou no presidente. A eleição acabou e é importante que Bolsonaro entenda isso. Ele precisa governar para todos.

O Estado: E em relação ao Maranhão, os dados sociais e econômicas não são animadores, segundos os órgãos oficiais. O que faltou nesses últimos anos para o estado avançar?
Esses dados do Maranhão, que hoje já estão melhores, vem de quase 50 anos, isso é meio século em que fomos um Estado com índices muito baixo em todos os institutos estatísticos. O governador Flávio Dino assumiu o Maranhão em 2015 no período, no qual o país entrou em uma grave recessão e uma crise fiscal enorme, ainda assim, nesse cenário de caos fiscal e político, o Maranhão melhorou diversos índices como o IDEB, por exemplo. Em outro cenário, temos certeza de que o Maranhão teria melhorado ainda mais e, por isso, o crescimento da nação é importante também para o Maranhão.

O Estado: Mas os dados do IBGE mostram que a extrema pobreza aumentou nos últimos quatro anos. São mais de 54% da população nesta situação. Na sua visão, qual erro ou equívoco desta gestão para que a pobreza aumentasse no estado?
O Maranhão não é uma ilha fora do Brasil. Desde o segundo trimestre de 2014 o Brasil entrou em recessão forte. Essa crise foi a pior desde a redemocratização. O IBGE registrou que o país tinha 54,8 milhões de pessoas que viviam com menos de R$ 406 por mês em 2017, dois milhões a mais que em 2016, ou seja, esse foi um padrão nacional, que me leva a questão inicial. É ingenuidade achar que o atual governador assumindo em 2015, no meio da pior recessão dos últimos 20 anos, com crise econômica, fiscal e previdenciária iria com uma canetada resolver problemas que foram negligenciados em 50 anos. Veja, nesse mesmo período, estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros simplesmente quebraram. Isso mostra que a crise foi forte e que no Maranhão no mesmo período teve diversos avanços, que infelizmente, só não foram maiores devido a esta crise. Só se analisa os dados de um estado de forma geral e conjuntural. Sem isso podemos cometer injustiças.

O Estado: Sobre a Reforma da Previdência, qual sua posição sobre a que estar sendo proposta?
Eu sou a favor da reforma da Previdência desde que ela seja feita para que quem ganha mais financie a Previdência de quem ganhe menos, ou seja, que mexa nos vespeiros da Previdência de juízes, procuradores, militares, servidores de alto escalão, parlamentares, presidente e afins. O projeto enviado para o Congresso tem que melhorar muito. Estamos propondo emendas e discutindo. O que não podemos, de forma alguma, é aceitar que os que menos têm sejam prejudicados. Do jeito que está hoje, devo votar contra.

O Estado: Mas se é necessário mudar o Sistema Previdenciário, o que falta aos representantes da sociedade para fazer esta reforma?
O governo precisa flexibilizar e orientar sua base para receber as emendas necessárias, que assegurem a proteção dos mais pobres. Esse é o ideal.

O Estado: A senhora votou contra a MP da fraude ao INSS, qual motivo desta escolha?
Essa MP 871 está sendo vendida como antifraude. Mas, na verdade, esse texto tem muitos problemas e problemas graves. Ninguém é a favor de fraude. Nossos mandatos e nossa história pública mostram que sempre combatemos a corrupção e esses desvios. No entanto, essa MP pode vir a cortar intempestivamente a aposentadoria de centenas de aposentados rurais de forma unilateral. Os segurados terão prazos curtíssimos para provar que não estão irregulares em agências do INSS, que já são superlotadas. Podemos ter casos aos montes de idosos perdendo aposentadorias e não conseguindo reavê-las devido a própria estrutura do INSS. O texto foi aprovado no Senado a toque de caixa sem debate e sem a devida reflexão.

O Estado: Os nomes estão surgindo para a disputa eleitoral em São Luís no próximo ano. O seu sempre configura na lista. A senhora sairá candidata à Prefeitura da capital?
Sou de um grupo político. Nosso grupo tem diversos nomes, todos muito qualificados e me honra muito ser lembrada e aparecer em pesquisas eleitorais. Nesse momento, nosso foco é o mandato e as causas que sempre defendi.

O Estado: Então, não existe possibilidade de a senhora entrar na disputa?
Minha disposição é continuar no Senado na defesa do meu país e do meu Estado. Estou a serviço dessa missão, mas integro um grupo, por isso vamos decidir juntos.

O Estado: Qual deverá ser a posição do Cidadania? Diferente da 2016 quando fez oposição a Edivaldo Júnior do PDT?
Amadureceremos esse debate no tempo certo. O que estamos trabalhando é para que o Cidadania 23 seja forte em todo o Estado no pleito do ano que vem. Que tenhamos candidatos em todo o MA e estamos trabalhando forte para isso.

“Eu sou a favor da reforma da Previdência desde que ela seja feita para que quem ganha mais financie a Previdência de quem ganhe menos”Eliziane Gama, senadora
“Na CPI da Petrobras conseguimos retorno de dinheiro roubado e votamos todas as vezes para que os políticos com poder e foro fossem investigados”Eliziane Gama, senadora

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