No 75º aniversário do Dia D

Trump e Macron homenageiam veteranos e trocam afagos

Líderes nacionais que se alfinetaram no passado próximo ignoram diferenças e enaltecem sobreviventes de operação decisiva para liberar a frente ocidental do nazismo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Os presidentes de EUA e França, Donald Trump e Emannuel Macron, se abraçam diante de veteranos em cerimônia na Normandia
Os presidentes de EUA e França, Donald Trump e Emannuel Macron, se abraçam diante de veteranos em cerimônia na Normandia (AFP)

FRANÇA - Em diferentes cerimônias, os líderes de França , Estados Unidos e Reino Unido prestaram homenagem ontem, 7, aos soldados que participaram do Dia D , no 75º aniversário do desembarque das tropas aliadas na Normandia, operação em 6 de junho de 1944 que ajudou a selar a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

Além do enaltecimento dos soldados que participaram da operação decisiva, as cerimônias no Norte da França permitiram trocas de mútuos elogios entre os líderes americano e francês, que, no passado recente, trocaram alfinetadas.

Entre as 12 mil pessoas reunidas nesta quinta-feira, sentados nas primeiras filas com condecorações e adereços recordando serviços militares, estavam veteranos, todos próximos dos 100 anos, que foram saudados por Donald Trump e Emmanuel Macron e ovacionados de pé pela multidão. A cerimônia que reuniu os presidentes — a primeira-ministra britânica, Theresa May, participou de outra homenagem a quilômetros dali — faz parte dos cinco dias de homenagens ao Dia D, que começaram ontem, e aconteceu em um cemitério de guerra dos EUA, com vista para a praia de Omaha, um dos cinco pontos de desembarque na Normandia.

"Há exatamente 75 anos, nestas encostas, nestes lugares, 10 mil homens deram o seu sangue e milhares sacrificaram as suas vidas por seus irmãos, seus países e pela sobrevivência da liberdade", disse Donald Trump em seu discurso, citando nomes dos veteranos. "Vocês são o orgulho da nossa nação, vocês são a glória da nossa república, e agradecemos do fundo dos nossos corações".

Macron concedeu a Legião de Honra, o maior prêmio de mérito do seu país, a cinco veteranos americanos e abraçou, comovido, cada um deles.

"Sabemos o que devemos a vocês, nossos veteranos: nossa liberdade. Em nome de meu país, quero agradecer", disse o presidente francês."A França nunca esquecerá".

As pessoas aplaudiram quando um dos veteranos, o ex-soldado Russell Pickett, de 94 anos, levantou-se trêmulo.

"Cara durão", disse Trump, antes que Macron ajudasse Pickett a voltar a seu assento. "Esses homens atravessaram o fogo do inferno. Eles vieram aqui e salvaram a liberdade, e então foram para casa e nos mostraram tudo sobre o que é a liberdade".

Theresa May, que renunciará ao cargo de líder conservadora hoje, 7, e vive seus últimos dias no cargo de primeira-ministra britânica, participou de cerimônia diferente, mais cedo, e inaugurou um memorial aos 22 mil soldados que, sob comando britânico, morreram na batalha pela Normandia. Macron esteve presente, mas não Trump.

A mandatária britânica não fez alusões a seus últimos dias no Gabinete, mas exaltou o “valor” e “sacrifício” dos 156 mil soldados, incluindo 83 mil do Reino Unido. Grande parte deles ainda saía da adolescência ao lutar.

Mar vermelho

No dia 6 de junho de 1945, em meio à escuridão, milhares de paraquedistas aliados saltaram atrás das defesas costeiras da Alemanha. Então, com o dia raiando, navios de guerra bombardearam posições alemãs, antes que centenas de barcos desembarcassem tropas de infantaria sob um intenso fogo de metralhadoras e artilharia.

Alguns veteranos dizem que o mar e a areia ficaram vermelhos do sangue derramado durante a operação. Uma grande quantidade de soldados dos EUA foram abatidos por metralhadoras alemãs enquanto escalavam os penhascos, subindo de Omaha Beach a Colleville-sur-Mer, onde fica o cemitério dos mortos americanos na batalha.

O planejamento dos desembarques na Normandia durou meses e foi mantido em segredo de Hitler e suas forças, apesar de uma enorme mobilização transatlântica de indústria e mão de obra.

" Foi uma grande bagunça, mas você tinha que seguir em frente", disse Ken Peppercorn, agora com 97 anos, ao jornal britânico The Observer em Londres, refletindo sobre a determinação de sua geração.

Ele conta que, sob rajadas, se esforçou para encontrar uma cobertura abaixo da linha do fogo

"Eu estava com tanta fome que a primeira coisa que fiz foi pegar minhas rações e fazer mingau".

Realizado ao mesmo tempo em que o Exército Vermelho da União Soviética avançava na frente oriental, o Dia D é um dos símbolos do momento de virada dos Aliados sobre a Alemanha nazista, que finalmente conduziria à capitulação do país em 1945.

O presidente russo, Vladimir Putin, não foi convidado desta vez. Em um discurso no Fórum Econômico em São Petersburgo, ele afirmou que este não é um "problema", porque a Rússia tampouco “convida todo mundo” para suas festividades.

"Por que deveriam sempre me convidar para todos os lugares? O que sou eu, um general de opetera? Tenho coisas o bastante para fazer aqui, não é de modo algum um problema", afirmou a repórteres.

Troca de afagos

Além do enaltecimento dos soldados que participaram da operação decisiva para liberar a frente ocidental do nazismo, as cerimônias na Normandia permitiram trocas de mútuos elogios entre os líderes nacionais, mas não conseguiram apagar todas as suas diferenças.

A devastação provocada por duas guerras mundiais na primeira metade do século XX encorajou uma era de décadas de cooperação entre potências ocidentais e deu origem ao que hoje é a União Europeia.

Hoje, contudo, o Reino Unido se prepara para deixar o bloco europeu após décadas de filiação e Trump, com suas políticas protecionistas e ações unilaterais, é acusado de minar a arquitetura de instituições globais construída sob a liderança americana depois de 1945.

No ano passado, Trump ironizou Macron e disse, entre outras alfinetadas, que ele precisava “tornar a França grande outra vez”. Ontem, ele se limitou a elogios:

"As relações entre você e eu, e entre a França e os EUA, são excepcionais".

O presidente francês, por sua vez, já criticou Trump por retirar-se unilateralmente do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas e do acordo nuclear com o Irã. Nesta quinta-feira, contudo, ele limitou-se a afirmar que “os EUA nunca são tão grandes como quando são fiéis aos valores universais defendidos pelos seus pais fundadores” e também“quando lutam pela liberdade dos outros”.

Macron também fez elogios a May, na inauguração do memorial:

" Nada vai tirar os elos do sangue derramado e dos valores compartilhados. Os debates do presente de maneira alguma borram o passado", disse o presidente francês à mandatária britânica.

O Irã foi um dos poucos pontos políticos abordados durante a entrevista coletiva conjunta entre Macron e Trump. O presidente americano rompeu unilateralmente o pacto nuclear assinado por seu antecessor, Barack Obama. A França é um dos signatários do acordo e tentou preservá-lo. Nesta quinta-feira, contudo, Macron afirmou que "uma nova negociação com o Irã precisa ser aberta".

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