Parlamento Europeu

Cisão sobre Rússia impede união da extrema direita

Afinidade de Salvini e Le Pen com o Kremlin leva Polônia a não integrar bloco partidário; a ultranacionalista Liga, da Itália, foi uma das maiores vencedoras das eleições da UE concluídas em 26 de maio

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, durante um encontro com o presidente russo Vladimir Putin
A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, durante um encontro com o presidente russo Vladimir Putin (Reuters)

VARSÓVIA E BRUXELAS - Os partidos de extrema direita que nutriam esperanças de criar um novo e poderoso bloco eurocético no Parlamento Europeus sofreram um duplo abalo ontem, 5, quando os nacionalistas da Polônia e o Partido do Brexit do Reino Unido disseram que não se juntarão ao grupo.

A ultranacionalista Liga, da Itália, foi uma das maiores vencedoras das eleições da UE concluídas em 26 de maio. Seu líder, o vice-primeiro ministro Matteo Salvini, tentou convencer os partidos nacionalistas europeus a deixar de lado as diferenças para formar um bloco coeso no novo Parlamento do bloco. Sua ideia é reunir o maior número possível de legendas na Aliança Europeia dos Povos e Nações. Dez partidos da Aliança elegeram eurodeputados, dos quais os principais são a Liga, a Reunião Nacional da francesa Marine Le Pen e a Alternativa para a Alemanha (AfD).

Os grupos parlamentares de traço eurocético de direita, sejam ultradireitistas ou conservadores, obtiveram 173 eurodeputados, ou 23% do total de 751 europarlamentares. No atual Parlamento, essas forças estão divididas em três grupos parlamentares, sendo dois ultradireitistas e um de conservadores críticos à UE.

A posição pró-Rússia de Salvini, da Reunião Nacional e do Alternativa para a Alemanha levou Jaroslaw Kaczynski, líder do partido Lei e Justiça (PiS), que governa a Polônia, a descartar sua participação na Aliança Europeia dos Povos e Nações.

Além disso, o Partido do Brexit de Nigel Farage, que conquistou 29 dos 72 assentos britânicos no Parlamento Europeu, também disse que não vai se juntar ao novo grupo, embora não tenha explicado o motivo. O Reino Unido deve deixar a UE em 31 de outubro, mas seus representantes eleitos vão tomar posse no Parlamento Europeu em julho e permanecer até o Brexit acontecer.

Kaczynski deixou claro seu ceticismo sobre os planos de Salvini em uma entrevista à rádio polonesa Wnet:

"Quando se trata de Salvini, temos um problema. Ele quer criar um novo grupo com formações que não podemos aceitar", afirmou o presidente do Lei e Justiça. "Lá está a Reunião Nacional, pertencente a Le Pen. E, também, a Alternativa para a Alemanha. Isso é algo que não podemos aceitar em nenhuma circunstância".

O partido de Le Pen, a alemã AfD e a Liga de Salvini mantêm boas relações com a Rússia. Já Lei e Justiça compartilha a tradicional desconfiança polonesa do Kremlin, muito comum no Leste da Europa.

O partido polonês defende valores católicos tradicionais e a resistência ao que considera ser o expansionismo russo na Ucrânia e em outros lugares. A sigla conquistou 26 dos 51 assentos atribuídos à Polônia no Parlamento Europeu e agora espera-se que permaneça no grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus no Parlamento.

Ambição

Salvini apostava que a ambição comum dos partidos eurocéticos da Europa de moldar o futuro do bloco, devolvendo mais poderes aos Estados membros e impondo novas restrições à imigração, superasse qualquer preocupação com a influência da Rússia.

No geral, os partidos de extrema direita tiveram um desempenho menor do que o esperado nas eleições da UE, particularmente na Alemanha e na Holanda.

Na semana passada, o primeiro-ministro nacionalista húngaro, Viktor Orbán, também distanciou seu partido Fidesz do grupo eurocético de Salvini, enquanto tentava restaurar laços com os principais partidos de centro-direita da UE.

O chefe de gabinete de Orbán, Gergely Gulyas, disse que não vê "muita chance de cooperação em nível partidário ou em um grupo parlamentar conjunto".

Em um aparente gesto para apaziguar os principais aliados da UE, Orbán, suspenso do Partido do Povo Europeu (EPP) de centro-direita, interrompeu inesperadamente reformas judiciais que, segundo os críticos, reduziam a independência do Judiciário do país.

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