Literatura

Livro "Três contos", de Gustave Flaubert ganha nova edição

Obra chega pela Editora 34 com tradução de Milton Hatoum e Samuel Titan Jr e projeto gráfico de Raul Loureiro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Capa do livro "Três Contos", de Gustave Flaubert
Capa do livro "Três Contos", de Gustave Flaubert (Três contos)

São Paulo - Escritos ao fim da vida, quando o autor se via à beira de uma crise nervosa e criativa, os "Três contos", de Gustave Flaubert (1821-1880) constituem um dos pontos mais altos da literatura francesa do século XIX. Ao retornar a temas, figuras e paisagens que o acompanhavam desde a juventude, Flaubert destilou uma suma de sua obra nas breves páginas do último livro que che­gou a completar.

Lá estão a Normandia natal e o Oriente que o fascinava; a gente provinciana e os personagens ímpa­res, os medíocres de todo dia e os santos de exceção; o cálculo mesquinho e o arrebatamento bestial; o realismo implacável e o voo visionário. Seja narrando o meio século de servidão de uma criada em “Um coração simples”, seja desdobrando a ta­peçaria alucinada da “Legenda de São Julião Hospitaleiro” ou ainda reinventando um episódio bíblico em “Herodíade”, Flaubert levou a arte da ficção a extremos e territórios pouco explorados.

Seu contemporâneo Henry James não tardou a ver “um elemento de perfeição” neste livro de 1877; e o próprio Flaubert, a meio caminho da redação destes "Três contos", confi­denciava numa carta: “Tenho a impressão de que a prosa francesa pode chegar a uma beleza de que mal se faz ideia”.

Sobre o autor
Gustave Flaubert nasceu em Rouen, capital da Normandia, na França, em 1821. Em 1841 muda-se para Paris, a fim de estudar Direito, sem contudo concluir o curso. Em 1844, após uma crise nervosa, instalou-se no lugarejo de Croisset, nas redondezas de Rouen. Em 1846, com a morte do pai, herdou uma soma suficiente para poder se dedicar inteiramente à literatura.

Entre 1844 e 1849, redigiu as primeiras versões de "A educação sentimental" e "A tentação de Santo Antônio", que não chegou a publicar. Entre 1849 e 1852 viajou pelo Egito, Império Otomano e Grécia, viagem fértil para suas obras futuras. De volta a Croisset, mergulhou na redação de "Madame Bovary", ao mesmo tempo que prosseguia uma relação tu­multuada com a poeta Louise Colet. Publicada em livro em 1857, a obra de estreia logo valeu fama ao autor, tanto pela fartura literária como pelo escândalo que causou. Admitido nos salões literários parisienses, onde trava amizade com os irmãos Goncourt, George Sand, Théophile Gautier e Ivan Turguêniev, Flaubert dedica-se ao romance histórico "Salammbô", publicado em 1862 sem grande repercussão.

O autor volta-se então a um projeto de juventude, "A educação sentimental", obra armada em torno à Revolução de 1848 e que deveria conter a “história moral” de sua geração. Publicada em 1869, foi saudada por vários escritores como obra-prima, mas não encontrou grande eco junto ao público. Amargurado, Flaubert dedicou-se à terceira e última redação de "A tentação de Santo Antônio", publicada em 1874, novamente sem grande acolhida, ao mesmo tempo que embarcava no ambicioso projeto de uma sátira enciclopédica sobre a estupidez humana, Bouvard e Pécuchet.

Exausto pelo esforço literário e pelas tribulações familiares, interrompeu a redação do vasto li­vro para escrever, entre 1875 e 1876, a última obra que chegaria a terminar, "Três contos", publicados em livro em 1877. De volta a Bouvard e Pécuchet, avança penosa­mente, sem chegar a concluir a obra: vítima de uma hemorragia cerebral, Flaubert faleceu em Croisset em 1880.

Sobre os tradutores
Milton Hatoum nasceu em Manaus, em 1952. Estudou arquitetura na Univer­sidade de São Paulo e, depois de viver em Madri, Barcelona e Paris, ensinou li­teratura francesa na Universidade Federal do Amazonas e literatura brasileira na Universidade da Califórnia em Berkeley. Em 1989, estreou como ficcionista com "Relato de um certo Oriente", aos quais se seguiram os romances "Dois irmãos" (2000), "Cinzas do Norte" (2005) e "A noite da espera" (2017), além da novela "Órfãos do Eldorado" (2008), dos contos de "A cidade ilhada" (2009) e das crônicas de "Um solitário à espreita" (2013). Além de Flaubert, traduziu Marcel Schwob (A cruzada das crianças, 1988) e Edward Said (Representações do intelectual, 2005).

Samuel Titan Jr. nasceu em Belém, em 1970. Estudou filosofia na Universidade de São Paulo, onde leciona Teoria Literária e Literatura Comparada desde 2005. Editor e tradutor, organizou com Davi Arrigucci Jr. uma antologia de Erich Auerbach (Ensaios de literatura ocidental, 2007) e assinou versões para o português de autores como Adolfo Bioy Casares (A invenção de Morel), Gustave Flaubert (Três contos, em colaboração com Milton Hatoum), Jean Giono (O homem que plantava árvores, 2018, em colaboração com Cecília Ciscato), Voltaire (Cândi­do ou o otimismo, 2013), Prosper Mérimée (Carmen, 2015) e Eliot Weinberger (As estrelas, 2019).

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