História da Ilha

Escadarias de São Luís: degraus que contam parte da história da Ilha

Além de servirem como acesso às vias da cidade, as escadarias também são elementos complementares de uma São Luís que, em cada esquina, revela sempre fatos curiosos e pouco conhecidos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

[e-s001]O rico acervo arquitetônico de São Luís é constituído não somente pelos belos casarões, becos, azulejos, ruas e ruelas históricas, e que ajudam a entender fatos que fizeram parte da nossa bela cidade. Outra característica da Ilha é o registro de peculiares e marcantes escadarias que, dependendo da configuração e localização, são usados para vários fins: desde cenários de novelas e shows, a ambientes para encontros sociais. Além de servirem como acesso às vias da cidade, as escadarias também são elementos complementares de uma capital, em cada esquina, revela sempre fatos pitorescos e quase desconhecidos.

Para contar a história desta e de outras escadarias famosas, O Estado conversou com especialista, se debruçou sobre pesquisas e percorreu as vias do centro antigo. Algumas delas são populares e servem de “acomodação” para que o ludovicense contemple as indiscritíveis belezas naturais da cidade. Em outros casos, de acordo com pesquisadores, é provável que os degraus históricos sejam elementos norteadores de acontecimentos conhecidos até hoje como “divisores de água” para a cidade.

Em sua maioria de pedras e outros materiais resistentes, as escadarias “servem para subir, ou descer”. Parece óbvio, mas para entender a importância de cada estrutura como esta do cenário urbano, é preciso sim saber quem de fato subiu e desceu por aqueles degraus.

Em determinadas escadarias, a história está viva e esperando ser descoberta. No entanto, quem passa por elas muitas vezes não têm noção exata da importância da peça arquitetônica. Uma das escadarias menos conhecidas e de mais rico conteúdo é a vista no Beco do Silva, ou Neto Guterres. Ela pode ter sido testemunha de uma morte que até hoje é lembrada por pesquisadores.

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Acesso por becos
A formação urbana da capital maranhense foi marcada, notadamente, pela inauguração de becos, ruas e ruelas que, para se ter aces­so a elas, era necessária a criação de escadas. “Sem veículos de transporte mais sofisticados, à época, as pessoas transitavam a pé pela cidade. Era uma praxe que foi consolidada a partir da construção de escadarias”, disse o vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima.

Acesso à decapitação de Beckman? Se atualmente quem passa pelo Beco do Silva (na Avenida Pedro II ao lado do Grand São Luís Hotel) quer apenas ter acesso rápido à Avenida Beira-Mar e adjacências, há quatro séculos, o corredor e suas escadarias podem ter sido elementos de destaque de um dos capítulos mais importantes da formação histórica da cidade.

No dia 10 de novembro de 1685, milhares de populares se deslocaram da região central e adjacências com destino à antiga praia da Trindade (chamada assim pois antigamente, sem a existência da Avenida Beira-Mar, a maré chegava aos arredores dos becos e outras ruelas do Centro). Antes disso, os irmãos Beckman - Manoel e Tomás - aproveitaram a ausência do então governador Francisco de Sá Menezes - que estava na ocasião em visita à Belém (PA) - para eclodir o movimento, em 1684, durante as festividades de Nosso Senhor dos Passos.

Foi na praça, onde é possível ver um obelisco muito conhecido no Centro, que teria ocorrido, de acordo com alguns historiadores, a execução de Manoel Beckman, comerciante e um dos principais líderes da Revolta de Beckman, contra o sistema vigente. Comerciantes em geral, incluindo Beckman, estavam insatisfeitos contra as obrigatoriedades instituída pela Companhia Geral do Comércio do Maranhão, criada em moldes semelhantes ao da Companhia Geral do Comércio do Brasil, de 1649.

[e-s001]As escadarias do Beco do Silva, na data do enforcamento, foram o principal canal de acesso ao local em que Manoel Beckman foi executado. A tese é defendida pelo historiador Euges Lima. “Consta que o enforcamento é do século dezessete. No entanto, somente há registros da escadaria em mapas oriundos do século dezenove”, frisou.
Atualmente, a escadaria encontra-se fora dos padrões originais, com trechos deteriorados e registros de grafites.

A turma de jovens
Na escadaria, encontrava-se em uma tarde ensolarada da Ilha um grupo de jovens que, sedentos por informação e entretenimento, ain­da não conheciam as possíveis histórias que por ali passaram pelos degraus do Beco do Silva. “Eu realmente não conhecia que estas escadarias tinham essa história”, disse Mendonça Neto, estudante de Turismo e frequentador da escadaria do Beco do Silva há anos.

Jovens como ele, em sua maioria, desconhecem a própria história. “Realmente, eu passo por aqui para me dirigir até o Centro e nunca havia percebido a importância desta estrutura”, afirmou a vendedora Maria do Rosário, que se desloca da Avenida Beira-Mar até a Praça Pedro II pela escadaria “famosa”.

SAIBA MAIS

Revolta de Beckman

Além do fornecimento de escravos, o acordo com o governo português também deveria fornecer tecidos manufaturados à população local. Em contrapartida, a gestão local seria obrigada a enviar anualmente à capital portuguesa pelo menos um navio com produtos locais, como cacau, cravo e tabaco. Estes produtos, além da vinculação de exclusividade, também seriam vendidos por preços tabelados.

FIQUE ATENTO

Escadarias famosas
- Da Rua João Henrique (ao lado do antigo Sioge)
- Da Rua do Giz
- Do Beco Catarina Mina
- Da Biblioteca Pública Benedito Leite
- Do antigo Hospital Português
- Da antiga Faculdade de Farmácia
- Da Igreja do Carmo
- Da Praça Gonçalves Dias (de acesso à Praça Maria Aragão)

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