Montanha

Alpinista nepalês registra engarrafamento no Everest

Nirmal Purja, que busca recorde mundial, fotografou a imagem enquanto descia da montanha; mais de 200 pessoas tentavam alcançar o cume em um engarrafamento humano inédito no topo do planeta

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Foto tirada por Nirmal Purja, no dia 22 de maio, enquanto descia do monte Everest
Foto tirada por Nirmal Purja, no dia 22 de maio, enquanto descia do monte Everest (Nirnal Purja)

MADRI - "Sim, eu fiz a foto." Na semana passada, o nepalês Nirmal Purja conquistou o Everest , pico mais alto do mundo. O alpinista já estava na descida da montanha de 8.848 metros de altura quando se deparou com uma multidão. Mais de 200 pessoas tentavam alcançar o cume em um engarrafamento humano inédito no topo do planeta.

Purja não conseguiu avançar e a multidão, associada às temperaturas congelantes e ao ar rarefeito, representava um perigo fatal. Até o momento, mais de 10 pessoas já morreram na montanha neste ano.

O alpinista tirou as luvas e fez uma fotografia que se transformou num símbolo daquilo que o Everest se tornou: um destino turístico explorado a preço de outro por empresas comerciais que não levam em conta a preparação física ou a experiência de seus clientes.

"Eu fiquei preso entre as pessoas que tentavam chegar ao alto da montanha. Estava descendo e, de repente, fiquei parado, incapaz de me locomover. Havia mais de 200 pessoas tentando subir. Eu olhei em volta e tirei a foto", disse Nirmal Purja ao El Pais. "É claro que eu fiquei preocupada quando vi aquela fila. O vento estava a cerca de 35 quilômetros por hora. Se estivesse cerca de cinco quilômetros mais rápido, o número de mortos seria ainda maior".

A 8.848 metros de altura, não há espaço para uma via dupla, por onde grupos possam subir e descer ordenadamente.

"Eu acabei me transformando em uma espécie de guarda de trânsito. Fiquei tentando dirigir aquele engarrafamento humano por uma hora e meia. Todos queriam subir e descer ao mesmo tempo. O que eu fiz foi parar e controlar o tráfego. Eu fiquei coordenando o fluxo de pessoas para cima e para baixo, continuamente", Purja contou.

Curiosamente, a foto de denúncia do alpinista nepalês — reproduzida por alguns veículos sem o devido crédito - ilustra uma realidade da qual ele mesmo participa.

Desafio pessoal

Purja está engajado em no Project Possible 14/7, um desafio pessoal para escalar os 14 picos mais altos do mundo em sete meses. O recorde anterior é de Kim Chang-ho, que morreu em 2018 em uma avalanche, e levou sete anos e dez meses para completar o feito.

Antes de Kim, o recorde pertencia ao alpinista polonês Jerzy Kukucza, que escalou as montanhas entre 1979 e 1987, levando apenas um mês a mais que o coreano, sem jamais pensar que fazia parte de uma competição. Hoje, contudo, o alpinismo é muitas vezes focado nos recordes.

"Estou tentando fazer o impossível", disse Nirmal Purja. "Romper a marca dos 14 picos e conquistar outros recordes, como a subida mais rápida do Everest. Quero comprovar aquilo que o ser humano é capaz de conseguir, seu potencial".

Para ele, toda ajuda é pouca: cordas fixas, cilindros de oxigênio, xerpas, helicópteros... tudo para conseguir um recorde. No caso dos turistas que lotam o Everest, o objetivo é colocar os pés no topo do mundo.

Purja já conquistou seis montanhas em tempo recorde: Annapurna, Dhaulagiri, Kanchenjunga, Malaku, Everest e Lhoste (ele detém o tempo recorde de chegada ao topo das últimas duas). Em junho, tentará subir nos montes Nanga Parbat, Gasherbrum I e II, Broad Peak e K2 e, em seguida, continuará sua maratona no Manaslu, no Cho Oyu e no Shinsha Pangma.

"Acho que a montanha deve ser de todos. Se as pessoas querem escalar o Everest, elas têm esse direito, há muitas rotas diferentes por onde podem subir. É necessário simplesmente coordenar essa quantidade de gente", disse Purja, ex-soldado da Marinha Real Britânica e condecorado no ano passado pela rainha Elizabeth II como membro da Ordem do Império. "Aqui embaixo, você acha que é invencível, que é o melhor. Quando você pisa na montanha, as coisas são colocadas em perspectiva. Você percebe que não é ninguém". Ou percebe, simplesmente, que é mais um no engarrafamento do Everest

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