Editorial

Flanelinhas do bem e do mal

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

A invasão de flanelinhas no centro de São Luís é sinônimo de intimidação para grande parte dos motoristas que precisam estacionar nessa área. Em meio aos guardadores de carro que agem com responsabilidade e respeito, inclusive com autorização das autoridades públicas, há indivíduos mal-intencionados, muitos dos quais usuários de drogas, que, a pretexto de vigiar veículos, cometem crimes e representam grave ameaça a quem se deixa enganar por seu oportunismo e astúcia. Nem mesmo a requalificação urbanística da área central trouxe alento à situação. Em meio ao cenário aprazível pós-reforma, muitos flanelinhas continuam sendo um triste e, em alguns casos, perigoso contraste.
No centro da capital maranhense, há flanelinhas de verdade, que trabalham há décadas nessa função no entorno das praças Deodoro e do Pantheon e em ruas como as da Paz, do Sol, de São João, de Santana, dos Afogados, de Santaninha, dentre tantas outras. Não é difícil encontrar guardadores com histórias de vida emocionantes. São pessoas que abriram mão dos estudos em nome da sobrevivência própria e de familiares. São personagens do cotidiano, cujas trajetórias se confundem com o ambiente onde passam a maior parte do dia e, quando é o caso, da noite.
O que chama atenção é a cordialidade comum aos autênticos flanelinhas, algo que impressiona por ter sido aprendido em plena rua, lugar onde o destino se mostra mais cruel e as relações interpessoais são, via de regra, desumanas. Apesar do clima hostil, muitos adquiriram hábitos dignos de escolas de bom nível e de famílias bem estruturadas, comportamento que nem de longe reproduz o que vivenciaram em seus lares na infância.
São cidadãos que jamais hesitam em desejar bom dia ao próximo, em abrir, gentilmente, as portas dos carros para a entrada ou saída dos ocupantes, em se despedir com amabilidade e outras formas de tratamento condizentes com a melhor civilidade.
Quando o assunto é compensação financeira pelo trabalho, a postura torna-se ainda mais elogiável. Conscientes de que estão tirando o sustento no espaço público, sem as obrigações tributárias comuns aos empregos formais, os verdadeiros flanelinhas são incapazes de explorar quem recorre aos seus serviços. Para eles, a regra é aceitar o que vier, ou seja, os motoristas pagam o que puderem. Trata-se de uma convivência aceitável e até mesmo amigável, uma vez que não há qualquer tipo de abuso ou intolerância.
Mas, como em toda atividade existem os maus, o ofício de vigiar carros não está livre de conflitos e hostilidades. Geralmente, os atritos envolvem elementos que se infiltram no segmento sem o devido preparo e acabam se tornando ameaças para condutores incautos e para outros flanelinhas que, porventura, venham reagir ao seu comportamento inadequado. Mulheres e idosos são mais vulneráveis à ação dos malfeitores, muitos dos quais criminosos travestidos de guardadores de veículos.
A cada fim de ano, multiplicam-se os flanelinhas no Centro. Muitos nada mais são do que bandidos, que passam despercebidos na multidão e em meio ao trânsito desordenado da área. Misturados ao contexto urbano, praticam todo tipo de delito, dentre os quais ameaças, furtos, assaltos, lesões corporais, tentativas de homicídio e, em casos extremos, homicídios consumados.
Sem nenhum compromisso com o bem comum, se fazem presentes apenas para promover a discórdia, em vez de zelar pelo bem alheio. Por isso, devem ser banidos, com todo o rigor previsto em lei, para o bem da coletividade.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.