Apoio familiar

40% das pessoas que já adotaram criança ou jovem querem mais

Dados se referem aos casos registrados na capital maranhense e foram repassados a O Estado pela 1ª Vara da Infância e da Juventude; Elis Ramos, por exemplo, já tem dois filhos do coração e afirma que pretende adotar mais

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Elis e seus filhos, Berenice e João
Elis e seus filhos, Berenice e João (Elis e filhos)

Dados da 1ª Vara da Infância e da Juventude de São Luís apontam que 40% das pessoas que já adotaram uma criança ou adolescente na cidade querem uma nova adoção. De acordo com informações da Justiça, 101 pessoas pretendem adotar na capital maranhense. No total, 21 pessoas esperam para serem adotadas na cidade.

Esse dado segue tendência de grande procura pela adoção no país. Em todo o Brasil, ainda de acordo com dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) – lançado em 2008 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o auxílio dos juízes das Varas da Infância e da Juventude –, 45.990 pessoas pretendem adotar. Destas, 13,3% (ou 6.118 pessoas) residem na Região Nordeste.

Este público “disputa” atualmente 1.392 crianças e adolescentes cadastrados para a adoção. Ainda no país, 6.802 pessoas pretendem adotar crianças ou jovens “somente de raça branca”, conforme cita modelo de perfil que deve ser preenchido pelo pretendente durante a formalização do pedido de adoção. Apenas 364 pretendentes desejam adotar crianças ou jovens somente de “raça negra”.

Aproximadamente 9,5 mil crianças e adolescentes estão cadastrados para adoção. Destes jovens, 4.750 registrados foram declarados de “raça parda”. Outras 3.150 jovens são de “raça branca”. 1.581 crianças e adolescentes cadastrados para adoção foram declarados de “raça negra”.

Quanto à faixa etária, de acordo com dados do CNA, 74% (ou 34.073) dos pretendentes brasileiros requerem a adoção de crianças de 1 a 5 anos de idade. Destes, a maioria – 8.330 pretendentes – deseja a adoção de crianças com até 3 anos. Segundo o Conselho, 11.917 pretendentes desejam a adoção de crianças de 6 a 17 anos e 11 meses de idade.

LEIA TAMBÉM:

A cada três requerentes à adoção no Maranhão, um reside em São Luís

História de sucesso
Uma das mães que alimenta ainda o desejo de nova adoção é Elis Ramos, jornalista que compartilhou com O Estado a sua história de vida. Ela esperou por alguns anos para ter, digamos, a sua família completa. Atualmente, seu "sustento" psicológico tem dois nomes: Berenice e João Gabriel.

Ela – em comum acordo com o marido, à época - tomou a decisão de adotar uma criança. "Foi uma decisão tomada após muita conversa, mas quando botei na cabeça que queria. Só ia parar depois de conseguir!", afirmou.
No primeiro contato com Berenice (em 2013), quando era apenas uma bebê de 10 meses, a certeza de que ali se estabelecia uma relação para sempre. "Quando eu olhei pela primeira vez para ela, sabia que ali nunca mais a esqueceria. Ela me deu um sorriso tão gostoso", disse.

Após a promoção do curso obrigatório para a requisição da criança, em 2014, a emoção inesquecível de passar o Dia das Mães com a filha. "A Justiça autorizou para que eu a pudesse levar para casa num dia tão especial. Eu jamais esquecerei!", disse.

Com os primeiros contatos positivos, restou à Justiça chancelar a nova relação e autorizar a guarda definitiva para Elis. Antes de requerer a primeira adoção, a jornalista precisou "preparar" a família. "Como não sabia a reação de todos, precisei inicialmente conversar com outras pessoas. É preciso destacar que a criança, quando é acolhida pela família, não é somente acolhida por pai ou mãe. Mas esse processo envolve outras pessoas também", disse.

Depois do "chocolatinho", veio o "leitinho"
Não, não se trata de preconceito! É desta forma que a Berenice (cuja cor da pele é predominantemente negra) se refere ao irmãozinho dela (cuja cor da pele é branca), também fruto de processo de adoção. A junção das histórias de Berenice, Elis e João Gabriel (uma fofura por sinal!) perpassa por dificuldades sociais.

A família biológica de João Gabriel é da cidade maranhense de Buriti – distante 320 quilômetros de São Luís – e alegava não dispor de condições para criar o jovem. "Quando soube desta história, não pensei duas vezes: vou criar o João!", disse. A mesma espera longa, o mesmo curso e tempos mais tarde, o desfecho: a Justiça também autorizou a adoção.

Quando eu olhei pela primeira vez para ela, sabia que ali nunca mais a esqueceria. Ela me deu um sorriso tão gostoso"Elis Ramos, jornalista

A chegada de João Gabriel à família de Elis foi "a cereja" do bolo. E pode vir mais por aí. "Ainda penso em adotar outra criança", disse a reticente Elis, que pondera fatores, como tempo gasto no trabalho e condição financeira para tomar essa nova decisão.

"Nome social" e "nome oficial"
Ao ser reconhecida como da família de Elis, Berenice passou por uma prova de compreensão da unidade de ensino em que a mãe a matriculou. A escola reconheceu o nome Berenice, mesmo ciente de que, no documento ainda preliminar e original da criança, constava na verdade o nome Lorena. Ou seja, Berenice (nome social) era reconhecida nos autos como Lorena (nome oficial). "Foi difícil, pois não é qualquer escola que aceita", disse Elis Ramos.

A coordenadora pedagógica da escola, Hellany Pereira, disse que a compreensão para reconhecer os dois nomes faz parte de uma política da instituição de quebrar o preconceito que ainda existe sobre o tema. Atualmente, dos 184 alunos matriculados no local, 5% são adotados. "A escola estimula, por meio de atividades em sala de aula, o estimulo à quebra do paradigma da adoção", disse.

Uma destas "sacadas" foi a caixa surpresa. Era uma espécie de dinâmica em que os alunos eram orientados a,
dentro de uma caixa, trazer um objeto de grande valor sentimental. "A minha filha, Berenice, pediu para colocar a primeira foto tirada dela assim que chegou em casa. Ela mesma contou aos coleguinhas a sua história, sobre como deram ela para a mamãe", afirmou Elis.

SAIBA MAIS

Sobre o Cadastro Nacional de Adoção
Ferramenta da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) é considerado fundamental para o auxílio aos juízes das Varas da Infância e da Juventude na condução dos procedimentos dos processos do gênero em todo o país.
O CNA tem como base o modelo criado pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) e objetiva “colocar a criança” ou jovem como “sujeito principal do processo”. Além das crianças aptas à adoção, o sistema também traz informações acerca do antigo Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNJ), anteriormente referência usada pelo CNJ.

Documentos necessários para quem requere uma adoção
Identidade
CPF
Certidão de casamento ou nascimento
Comprovante de Residência
Comprovante de Rendimentos ou declaração equivalente
Atestado ou declaração médica de sanidade física e mental
Certidões cível e criminal

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.