Preso no Afeganistão

''Talibã americano'' será libertado nesta quinta

Segundo o governo americano, John Walker Lindh, atualmente detido no estado de Indiana, ainda mantém posições extremistas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
A foto de John Walker Lindh nos registros de presença de uma escola islâmica no Paquistão
A foto de John Walker Lindh nos registros de presença de uma escola islâmica no Paquistão (Reuters)

WASHINGTON — O jovem que recebeu o apelido de "Talibã americano" será libertado nesta quinta-feira, após cumprir 17 dos 20 anos da sentença que recebeu por auxiliar o grupo fundamentalista afegão. John Walker Lindh foi preso em 2001, quando os EUA invadiram o Afeganistão, que era governado pelo Talibã e dava abrigo a Osama bin Laden, autor dos atentados de 11 de setembro daquele ano.

Na época com 20 anos, Lindh foi detido após a rebelião que causou a primeira vítima americana da guerra, o funcionário da Agência Central de Inteligência (CIA) Johnny Micheal Spann.

Lindh nasceu em família católica, mas se converteu ao islamismo aos 16 anos. No ano seguinte, se mudou para estudar árabe no Iêmen. A história do americano é controversa desde que ele saiu dos Estados Unidos, mais de três anos antes dos ataques do dia 11 de Setembro. Em 2000, foi ao Paquistão e, em seguida, ao Afeganistão, onde recebeu treinamento da rede terrorista al-Qaeda como voluntário do Talibã.

Segundo o governo americano, Lindh mantém opiniões extremistas. Sua liberdade é alvo de objeções da família de Spann e de políticos, que contestam como ele poderá ser reintegrado à sociedade sem antes passar por qualquer tipo de programa para a reabilitação de ex-jihadistas.

"Que tipo de treinamento é dado a carcereiros e organizações não governamentais para que estejam aptos a reconhecer sinais de radicalização ou de sua reincidência?", questionaram os senadores Richard Shelby e Maggie Hassan, em carta para Hugh Hurwitz, diretor em exercício da agência prisional americana.

[Lindh, na época da prisão. Extremista ficou conhecido como Talibã Americano Foto: Reuters/3-12-2001]
Lindh, na época da prisão. Extremista ficou conhecido como Talibã Americano Foto: Reuters/3-12-2001

Lindh, agora com 38 anos, seus pais, advogados e promotores responsáveis pelo caso se recusaram a comentar quais são os planos para a sua vida após a prisão. Em 2012, ele se juntou a uma ação coletiva da União Americana para as Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) que garantiu aos muçulmanos detidos no presídio de segurança máxima Terre Haute, onde cumpriu sua pena, o direito de rezar em grupo.

Cidadão americano, Lindh foi julgado em corte federal. Contudo, pessoas de outros países que também foram presas no Afeganistão e no Paquistão acabaram na prisão militar de Guantânamo, em Cuba. Quando recebeu sua sentença, em outubro de 2002, ele condenou o "terrorismo em qualquer nível, inequivocamente", disse que havia cometido um erro ao se juntar ao Talibã e denunciou os ataques coordenados por Osama bin Laden como "completamente contrários ao Islã".

Entretanto, dois documentos vazados da Inteligência americana e publicados pela revista Foreign Policy, em 2017, traçam um perfil diferente. Um relatório do Centro Nacional Antiterrorista disse, sem fornecer maiores detalhes, que até maio de 2016, Lindh "continuava a defender a guerra santa e a escrever e traduzir textos extremistas".

Em 2017, uma avaliação do Departamento Prisional americano afirmava que o detento havia realizado comentários favoráveis ao Estado Islâmico. O documento também continha uma foto de Lindh com barba comprida e cabeça raspada.

"De acordo com tudo que tenho escutado do governo, ele continua tão radical como quando foi preso",disse Seamus Hughes, vice-diretor de um programa da Universidade George Washington que estuda o extremismo.

Restrições

As condições para a liberdade condicional de Lindh incluem uma série de restrições. Ele será banido de utilizar a internet e de possuir qualquer equipamento que tenha acesso à internet sem autorização prévia. Caso obtenha o direito, só poderá postar conteúdos de língua inglesa e terá suas atividades continuamente monitoradas.

Lindh também será proibido de realizar viagens internacionais e não poderá tirar um passaporte ou qualquer tipo de documento que possibilite sua saída dos Estados Unidos. A medida previne uma eventual fuga para a Irlanda, país natal de sua avó materna, do qual se tornou cidadão enquanto estava detido.

Ele também está proibido de ter contato com extremistas e de possuir, assistir ou ler materiais que reflitam pontos de vista extremistas ou que promovam o terrorismo.

O caso de Lindh levanta questionamentos sobre a libertação de centenas de pessoas presas nos EUA por crimes relacionados ao extremismo.

"Lindh é, de várias maneiras, um estudo de caso para um problema maior que o governo enfrenta: eles prenderam centenas de pessoas desde 2002, mas não há um sistema para tratar desses indivíduos", disse Hughes.

Segundo David Sterman, analista na organização New America, que estuda o extremismo, 346 pessoas foram condenadas nos Estados Unidos por crimes relacionados ao terrorismo jihadista desde os ataques do 11 de Setembro. Um quarto delas já está em liberdade e metade deverá ser solta até o fim de 2025.

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