Artigo

A verdadeira história do puxa-saquismo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Quando Deus resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança sem utilidade prática futura para ele, deu margem a que, muitos séculos depois, poucas dúvidas restem de que fez isso apenas porque lhe faltava um puxa-saco.

Sim porque se a solidão tem suas vantagens, tem também seu lado ruim como sentenciou Montagne: “A solidão traz coisas boas. O problema é que você precisa de alguém do lado para dizer isso”. Pois imagine a situação de Deus, o todo poderoso, sem ter do lado um mísero alguém, para lhe enaltecer possuindo tanta grandeza.

Sim, porque as estrelas são maravilhosas e poéticas, mas não falam. Mesmo podendo ler o pensamento de tudo, isso não era tudo. Faltava a Deus a bajulação pura e simples, transmitida através da fala.

2.Foi então que Deus criou o homem, ordenando a ele: “Amarás o senhor teu Deus acima de todas as coisas com todas as forças de tua alma”.

Acontece que a coisa (o ser humano) não se saiu tão bem quanto ele esperava. Ao invés de puxarem o saco de Deus, Adão e sua mulher Eva, preferiram bajularem-se entre si, permitindo, inclusive, o surgimento de outro elemento bajulador, no caso, uma serpente malévola. Esta insinuou a Eva que puxar o saco de Adão (literalmente) lhe daria mais prazer do que bajular a Deus, despertando-os para o sexo e o pecado.

Irritado, Deus os expulsou do paraíso: “Vão puxar o saco de vocês mesmos no inferno, não aqui!” E, assim, o inferno se instalou para os homens, inclusive na forma do puxa-saquismo, prática na qual a humanidade veio a atingir a perfeição.

2. Isso aconteceu no antigo Egito. Haja puxa-saquismo!, em uma civilização que durou mais de 3 mil anos. A postura por lá era ‘Não existe defeito, então nada carece consertar’. Conformismo? Não, puxa-saquismo, porque a cadeia de direitos e deveres era baseada numa escada sem mobilidade social, onde a bajulação assumia um aspecto tão formal e rígido quanto a hierarquia de onde se originava.

No topo estava o Rei-Deus, o Faraó, e abaixo dele, o vizir, os dignitários reais e os governadores oriundos da nobreza, e depois o resto. A bajulação era impessoal e monumental. As pirâmides, os mais grandiosos túmulos que o mundo jamais viu são tributos à insaciabilidade da satisfação humana. Os reis do Antigo Egito não eram servos dos deuses, mas deuses eles próprios. Em 1500 A.c um servidor público egípcio escreveu a respeito do rei. “Ele é um Deus por quem todos vivemos, o pai e a mãe de todos os homens, único em sua condição sem igual”.

Tente superar essa bajulação!

3. Um elogio assim era tudo o que Deus queria para si quando fez os homens. Atingido, no Egito, o clímax do puxa-saquismo, de lá para cá foi só aperfeiçoamento. O que são os livros de autoajuda, hoje, mais do que uma exaltação da bajulação a si mesmo?

Isso traz a certeza de que, em breve, quando a civilização humana virar pó, sobrará como característica mais marcante do gênero humano o puxa-saquismo. E nos confins do Universo, onde toda memória do Mundo estiver concentrada, quando alguém clicar no verbete Terra surgirá a informação: “Existiu nesse minúsculo planetinha uma espécie que, criada à imagem e semelhança de Deus para o exaltarem, preferiram inventar a si mesmos como deuses, para bajularem-se entre si”.

Não podia ter dado certo.


José Ewerton Neto

Autor de O ABC bem humorado de São Luis

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com


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