Na posse

Novo presidente da Ucrânia dissolve Parlamento e antecipa eleições

Partido de Volodymyr Zelensky quer obter os primeiros assentos na Casa em eleições antecipadas após medida. Ex-comediante inicia mandato sob pressão para realizar reformas. Prioridade é fim de conflito no leste do país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que foi um comediante antes de se lançar como candidato
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que foi um comediante antes de se lançar como candidato (AFP)

KIEV - Eleito com 73% dos votos no mês passado e inexperiente na política, o humorista Volodymyr Zelensky, de 41 anos, assumiu a presidência da Ucrânia ontem,20, e anunciou a dissolução do Parlamento ucraniano já em seu discurso inaugural. A dissolução abre caminho para que o novo chefe de Estado ucraniano convoque eleições legislativas antecipadas, que Zelensky pediu para daqui a dois meses.

No pleito adiantado, seu novo partido poderá ter a chance de ingressar no Parlamento. As próximas eleições legislativas já estavam marcadas para outubro, já que Zelensky não detém o apoio da maioria no atual Parlamento ucraniano. Por isso, há controvérsias legais sobre o fato de ele ter ou não poder para iniciar o processo de convocação de eleições antecipadas.

"Eu dissolvo a oitava legislatura do Conselho Supremo da Ucrânia [Verkhovna Rada, o poder legislativo unicameral]", disse o recém-empossado presidente ucraniano durante a cerimônia no Parlamento em Kiev.

Antes de sua posse, Zelensky já havia ameaçado iniciar o processo altamente complexo de dissolver o Parlamento ucraniano e de convocar novas eleições, numa tentativa de se beneficiar de sua atual popularidade. Em um comunicado, a equipe de Zelensky afirmou na sexta-feira,17, que o país precisa de "um Parlamento que funcione".

O novo presidente da Ucrânia precisa de apoio legislativo para enfrentar uma série de desafios, que incluem uma economia em dificuldades e o conflito com os separatistas apoiados por Moscou no leste ucraniano.

Zelenksy inicia seu mandato sem uma maioria parlamentar, fato que dificulta a aprovação de reformas. A dissolução da Verkhovna Rada e a convocação de eleições antecipadas antes da data marcada para outubro podem aumentar o apoio de uma câmara atualmente dominada por aliados de seu antecessor, Petro Poroshenko, que Zelensky derrotou na eleição de abril.

Legisladores tentaram bloquear o plano de dissolução do Parlamento por Zelensky –na semana passada, a coalizão governista entrou em colapso depois que um grupo de parlamentares da Frente Popular decidiu se retirar dela.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o presidente da Rússia não tem planos de felicitar o novo presidente ucraniano. Peskov afirmou que Vladimir Putin se propôs a parabenizar seu recém-empossado homólogo ucraniano se Zelensky progredir na resolução do conflito com separatistas pró-Rússia no leste ucraniano e remediar as relações entre Kiev e Moscou.

Além de anunciar a dissolução do Parlamento, Zelensky afirmou em seu discurso inaugural que sua primeira tarefa seria acabar com o conflito no leste do país e prometeu "proteger a soberania e a independência da Ucrânia". O presidente acrescentou que o diálogo com a Rússia só poderá ocorrer após a devolução do território ucraniano ocupado e o retorno de prisioneiros de guerra.

Zelensky rompeu com a tradição e foi ao Parlamento ucraniano a pé – ao longo do caminho, cumprimentou e tirou várias fotografias com partidários e simpatizantes. Durante o discurso de posse, pediu também a funcionários públicos que retirassem os habituais retratos do presidente de seus escritórios, substituindo-os por imagens de seus filhos.

O novo presidente é um comediante mais conhecido por interpretar o papel do ocupante do mais alto cargo executivo da Ucrânia numa popular série de televisão. Agora ele também ocupa este papel na vida real, após uma vitória esmagadora contra o então chefe de estado Petro Poroshenko, no segundo turno, no mês passado.

Controverso

Alguns críticos afirmaram que sua campanha eleitoral foi apoiada pelo controverso oligarca ucraniano Igor Kolomoysky, cujo canal transmite a série televisiva. Mas Zelensky negou ter qualquer ligação política com o empresário.

Durante a campanha, Zelensky procurou ganhar capital político com a desilusão dos eleitores e se apresentou como uma alternativa ao establishment. Até agora, ele forneceu poucos detalhes sobre suas políticas, sobre o que planeja fazer como presidente ou sobre quem ele nomeará para cargos-chave.

No entanto, ele disse que pretende combater a corrupção e manter Kiev no rumo pró-Ocidente – curso iniciado sob Poroshenko. Zelensky também prometeu pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a acabar com a ocupação russa do território ucraniano.

O correspondente da DW em Kiev, Nick Connoly, relatou que há "expectativas colossais dos ucranianos comuns" de que Zelensky será capaz de "mudar a Ucrânia e permitir que o país, após 20 a 30 anos de independência, realmente possa aproveitar seu potencial".

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