Pelo acordo de paz

Noruega confirma mediação entre governo e oposição da Venezuela

Guaidó diz que conversas não significam negociação com Maduro; Grupo de Lima cancela reunião à espera de resultado de missão de Grupo de Contato em Caracas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro se reúne com delegação do Grupo Internacional de Contato, em Caracas
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro se reúne com delegação do Grupo Internacional de Contato, em Caracas (Reuters)

OSLO - A Noruega confirmou na sexta-feira,17, que media conversas entre representantes do governo e da oposição da Venezuela em meio a esforços internacionais pela solução dacrise política que assola o país sul-americano há quatro meses. O Ministério das Relações Exteriores norueguês apontou que mantêm "contatos preliminares" com atores políticos venezuelanos, comprometida com a articulação de uma saída pacífica para o impasse. A iniciativa mediadora nórdica surpreendeu parte dos opositores de Nicolás Maduro , que souberam das reuniões pela imprensa do país.

País anfitrião do Prêmio Nobel da Paz e palco de acordos entre israelenses e palestinos, a Noruega tem longa tradição de ser "facilitadora" em processos de paz. Destaque da atuação mediadora de Oslo ocorreu no acerto entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que desmobilizou a guerrilha em 2016. Enquanto muitos Estados europeus reconheceram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, a Noruega se limitou a pedir novas eleições livres no país, um posicionamento que indicou a vontade de agir como intermediária entre os dois lados.

Maduro não mencionou os contatos, mas declarou que seu ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, participava na Europa de uma "missão muito importante para a paz" e que retornaria em breve. Já Guaidó confirmou as conversas na Noruega e esclareceu que uma delegação da oposição venezuelana participa de uma "mediação" para tentar resolver a crise, sem que isso signifique qualquer diálogo com o líder bolivariano. "Não há nenhum tipo de negociação", disse Guaidó, durante reunião política em Caracas.

O presidente da Assembleia Nacional, que não reconhece a legitimidade do segundo mandato do líder bolivariano, destacou que a Noruega articula a mediação "há meses", período em que as partes não se reuniram frente a frente. O líder opositor, que revelou ser esta a segunda tentativa da Noruega, disse que tais reuniões se somam às organizadas por países como Canadá e pelo Grupo Internacional de Contato (GIC). Formado por nações europeias e latino-americanas, o GIC enviou uma missão a Caracas nesta semana que se reuniu, nesta quinta-feira, com delegados de Guaidó e de Maduro.

A recepção do líder bolivariano aos delegados do GIC, no Palácio de Miraflores, foi transmitida ao vivo pelo canal estatal VTV. Representantes de Alemanha, Espanha, França, Itália e Holanda cumprimentaram Maduro em encontro que demonstra, segundo a televisão pública, "a disposição de diálogo" do governo. Estiveram presentes também a embaixada da União Europeia em Caracas, Isabel Brilhante Pedrosa, e o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza.

"Importante reunião com o Grupo Internacional de Contato, que visita a Venezuela. Expressei minha disposição em resolver as diferenças internas pela via do diálogo e conversamos sobre as agressões econômicas do império dos Estados Unidos contra nosso povo", escreveu Maduro, no Twitter, sobre a reunião desta quinta-feira.

Guaidó reforçou na quinta-feira,16, que qualquer aproximação entre governistas e opositores tem os únicos objetivos de "fim da usurpação (de poder)", em referência à autoridade de Maduro; de governo de transição e da realização de eleições livres. Os enviados da oposição à Noruega são o vice-presidente do Parlamento, Stalin González, e o ex-deputado Gerardo Blayde, segundo Guaidó. De acordo com a imprensa mundial, Maduro enviou o ministro Jorge Rodríguez e o governador da província de Miranda, Hector Rodríguez.

Ceticismo

O autoproclamado presidente interino da Venezuela disse entender o quão polêmica deve ser, para seus seguidores, uma negociação como esta na Noruega, após sucessivas tentativas fracassadas de diálogo com o regime de Maduro — a última delas, em 2017, na República Dominicana, levou à antecipação de eleições presidenciais boicotadas pela oposição e nas quais o líder bolivariano foi reeleito sob denúncias de fraude e alta abstenção de votantes. "Temos que responsavelmente explorar as opções", defendeu Guaidó.

Mentor da estratégia americana para a Venezuela, o senador americano Marco Rubio destacou no Twitter que "é difícil não ser cético" sobre as conversas na Noruega, dados os resultados das três últimas iniciativas do tipo.

"Vimos Maduro usar três esforços desse tipo no passado para ganhar tempo. Mas nós devemos apoiar os esforços do presidente Guaidó e tentar encontrar uma transição pacífica para a legítima democracia", escreveu o senador.

Soluções

Na quinta-feira,16, o Grupo de Lima, bloco de países sul-americanos dedicado a discutir com o Canadá soluções para a crise venezuelana, suspendeu sua reunião na Guatemala prevista para segunda-feira. Segundo a porta-voz da Chancelaria guatemalteca, Marta Larra, chanceleres e coordenadores nacionais do grupo decidiram adiar as novas conversas para esperar os resultados da missão enviada à Venezuela pelo Grupo Internacional de Contato (GIC).

Representantes do GIC e do Grupo de Lima se reunião nos próximos dias para analisar a situação venezuelana, segundo a porta-voz. Ela não precisou uma nova data para a reunião de chanceleres na Guatemala, agendada na esteira da intensificação do conflito decorrente do frustrado levante liderado por opositores para depor Maduro. Guaidó teria destacado aos representantes da oposição na Europa a necessidade de trabalhar para alinhar os esforços desses grupos a fim de afastar o líder bolivariano do poder, informou a agência EFE.

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