Associação de Mulheres comemora 30 anos com produção recorde do sabonete de babaçu

A meta da fábrica é produzir o volume de 40 mil unidades este ano - 10 mil a mais do que o produzido ano passado.

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

A Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues-MA (AMTR) reiniciou este mês a produção de sabonete de óleo de coco babaçu, na comunidade de Ludovico, em Lago do Junco, município localizado na região do Médio Mearim do Maranhão. A meta da fábrica é produzir o volume de 40 mil unidades este ano - 10 mil a mais do que o produzido ano passado.

Esta semana a AMTR completou 30 anos de fundação, comemorado neste sábado, dia 18/05, às 9h, com uma grande festa na Escola Familiar Agrícola Familiar Agrícola Antônio Fontenele, no povoado de São Manoel, também em Lago do Junco. São três décadas de histórias em defesa do meio ambiente, da vida e de luta por direitos das mulheres quebradeiras de coco babaçu, das extrativistas e do campo.

As mulheres da AMTR trabalham na quebra do coco babaçu e vendem a amêndoa para a Coppalj (Cooperativa de Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco) para a produção do óleo que é orgânico e certificado. O óleo retorna à fábrica da AMTR, na comunidade de Ludovico, para a fabricação do sabonete. O produto tem a marca “Babaçu Livre”, uma referência a décadas de luta e resistência das agroextrativistas para terem acesso aos babaçuais numa região antes marcada por grilagem, conflitos de terras, mortes e entraves ao extrativismo. Por isso, o sabonete de babaçu é considerado um símbolo de luta em defesa dos babaçuais e um resgate do conhecimento tradicional das quebradeira s de coco babaçu no Maranhão.

“Nosso trabalho visa a melhorai da renda familiar, a defesa do meio ambiente e do acesso livre aos babaçuais. O sabonete é um produto fruto da nossa resistência para conter a derrubada das palmeiras de babaçu na região. Mas, do babaçu se aproveita tudo, da palha à raiz”, diz a presidente da AMTR, Maria das Dores Vieira Lima, quebradeira de coco babaçu conhecida como Dôra, ressaltando outras bandeiras defendidas pela associação como a produção de alimentos sem agrotóxicos, por meio de boas práticas agroflorestais, e a educação do campo por meio das escolas familiares agrícolas, as EFA´s, de ensino fundamental e médio que conseguiram implantar na região.

A AMTR é uma das sócias da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema), que orientou por meio de consultoria técnica a implantação da fábrica de sabonete e também desenvolve estratégias de combate ao desmatamento na Amazônia Maranhense, com apoio do Fundo Amazônia. “Este trabalho visa o fortalecimento de atividades produtivas sustentáveis na região, entre elas, o agroextrativismo do babaçu e o manejo florestal”, explica o coordenador geral da Assema, Raimundo Ermino.

Entre tantas outas conquistas da AMTR ao longo dos 30 anos, uma foi a institucionalização do Dia das Quebradeiras de Coco Babaçu (24 de setembro), instituído por lei estadual do deputado Bira do Pindaré, uma conquista junto com o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). A outra conquista foi a criação da Lei Babaçu Livre, aprovada em 1997 em Lago do Junco, que garante às quebradeiras de coco do município e às suas famílias o direito de livre acesso e de uso comunitário dos babaçus (mesmo dentro de propriedades privadas), além de impor restrições significativas à derrubada das palmeiras. Na época, as quebradeiras de coco babaçu chegaram a ter uma representante na Câma ra Municipal de Lago do Junco, a vereadora Maria Alaídes de Sousa, sócia fundadora da AMTR e atual coordenadora do MIQCB, com abrangência nos estados do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins.

“Temos uma palavra forte no nosso meio que é resistência”, diz Maria Alaídes, ressaltando que a AMTR é um grande espaço de conquista das mulheres. “Na associação definimos nosso papel como mulher e com várias atividades. E nós não estamos cansadas, não. Estamos aqui para dar sequência à nossa história”, afirma.

Estima-se que existam cerca de 400 mil mulheres quebradeiras e coco babaçu no Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, onde está a maior concentração das florestas de babaçuais no país, numa área de convergência entre o Cerrado e a Floresta Amazônia.

A luta das mulheres de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues teve ainda como reflexo a permanência de famílias, com destaque para a juventude, morando no campo. “Hoje o campo tem mais pessoas do que a zona urbana. Isso é fruto da resistência que tivemos para permanecer nas terras onde nascemos”, observa Dôra.

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