PREJUÍZO

Mudanças no trânsito causam prejuízos ao comércio do Centro

Paradas de ônibus retiradas do Complexo Deodoro dificultam a locomoção da população na região e interfere no comércio, sobretudo na Rua Grande; déficit no faturamento e demissões têm sido registrados no comércio lojista

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

[e-s001]As alterações de trânsito da região do centro de São Luís, que ocasionaram a mudança dos pontos de ônibus da Praça Deodoro e Rua do Passeio para as ruas Rio Branco e do Outeiro, estão gerando insatisfação de consumidores e lojistas da Rua Grande e entorno. Como consequência, o comércio local tem registrado queda nas vendas, refletindo, inclusive, no aumento do desemprego na região. A população relata, além do distanciamento do comércio lojista, a falta de estrutura nas paradas, que seriam provisórias. A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) tem promovido reuniões com representantes da gestão municipal para combater o déficit da categoria.

As obras de requalificação do Complexo Deodoro exigiram diversas intervenções no entorno das praças e alamedas reformadas, entre elas a mudança dos pontos de ônibus das praças para a Rua Rio Branco, uma das maiores reclamações da população e lojistas que, desde então, têm verificado baixa nas vendas. Para o empresário Flávio Nascimento, a situação gera uma concorrência desleal em relação a outras áreas comerciais da cidade e shopping centers. “Para vir até a Rua Grande, o cliente que depende do transporte público tem de andar mais, ficar exposto ao sol, chuva, enquanto em outras áreas o ônibus passa na porta”, lamentou. “Não tem como competir”.

O empresário, que atua no setor de vestuário, registrou redução de 35% nas vendas, desde as mudan­ças no trânsito da região, que resultou em demissões de funcionários. “Antigamente, tínhamos cerca de 40 funcionários e hoje em dia não chega nem à metade”, esclareceu o lojista. A situação não é exclusiva do empresário. Na Rua do Passeio, lojas fechadas e pontos comerciais com anúncio de aluguel estão se tornando cada vez mais comuns. Alguns locatários lamentam, inclusive, a desvalorização do setor, que já registra que­da de mais de 60% nos preços. “Ponto que era alugado por R$ 15 mil, hoje a gente tenta alugar até por R$ 5 mil”, afirmou um empresário, que não quis se identificar.

Para a população
Quem conta com o transporte público para se locomover também discorda das mudanças das paradas de ônibus. Sem estrutura e abrigos apropriados, os usuários do serviço não têm como se proteger do sol e da chuva, além de estarem sujeitos a furtos e assaltos, devido à aglomeração de pessoas, seja na extensão da Rua Rio Branco ou do Outeiro, para onde foram realocadas as paradas que antes ficavam na Praça Deodoro e Rua do Passeio, respectivamente.

“A gente espera que as coisas melhorem, mas só vem problema. A praça ficou linda, mas a gente está sendo prejudicado com isso. Quem mora na região do Centro sempre vai à Rua Grande resolver coisas, fazer compras ou pagar contas. Mas, com essas paradas tão longe, a gente até repensa. Como se não bastasse, não tem um abrigo. A gente pega chuva, sol e ainda é assaltado, porque fica um amontoado de gente, um empurra-empurra, por causa do aper­to. É difícil”, relatou a doméstica Maria do Socorro Lima.

Para o comércio informal
Bancas do comércio ambulante que ocupavam toda a área da Deodoro também foram retiradas e realocadas na via em frente e na lateral do Colégio Liceu Maranhense, onde deveriam ficar temporariamente. Mais de um ano após a saída do complexo, vendedores ambulantes ainda não sa­bem quais providências serão tomadas em relação à categoria. Segundo eles, nenhuma assistência foi prestada desde então, o que tem sido motivo de queixas.

“Desde que viemos para cá, tem sido um dia pior que o outro. Os primeiros dois meses, então, fo­ram os mais difíceis. Algumas pessoas aqui quase passaram fome em casa. Eu mesma só não passei porque recebi ajuda de parentes. Outros precisaram tirar filho da escola, porque não tinham condição de pagar passagem de ônibus. E não é por falta de mercadoria. É por falta de venda, mesmo. Somos gente, temos família, precisamos saber para onde iremos”, reivindicou Marta Pereira, que há cerca de 30 anos trabalha no comércio ambulante.

[e-s001]Para o CDL
Segundo a CDL de São Luís, desde a implementação das mudanças a entidade tem dialogado tanto com a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT), em relação às alterações das paradas de ônibus, quanto com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh), sobre a situação dos comerciantes informais retirados do Complexo Deodoro, mas nenhuma medida efetiva foi tomada.

“Nós compreendemos que algumas mudanças são necessárias devido à reforma do Complexo Deodoro, mas também é preciso levar em consideração as reivindicações dos lojistas e, para isso, temos realizados reuniões com a SMTT e Semurh. Apresentamos nossas queixas e sugestões, mas, infelizmente, não está havendo o retorno deles”, afirmou Fábio Ribeiro, presidente da CDL.

Ainda de acordo com Ribeiro, uma proposta foi apresentada ao titular da SMTT, secretário Canindé Barros, em uma tentativa de atender às queixas dos lojistas e garantir a manutenção dos espaços revitalizados, uma vez que a justificativa para a retirada das paradas seria os riscos que ofereceria à nova estrutura da praça, mas o órgão não manifestou interesse em relação à proposta.

“Em um dos encontros com o secretário Canindé Barros, apresentamos uma possível solução para desafogar as paradas da Rua Rio Branco, porque hoje existem oito paradas nesta via que prejudicam, inclusive, a fluidez do trânsito na via. A proposta sugeria que três paradas fossem realocadas na Avenida Silva Maia e que o fluxo de ônibus retornasse para a Avenida Gomes de Castro com paradas na Rua do Passeio, de forma que o patrimônio não fosse prejudicado e agradasse aos lojistas e preservasse as estruturas, mas nem o secretário nem representantes do órgão se manifestaram”, esclareceu.

Para questionar sobre a situação relatada na reportagem, O Estado manteve contato com a Prefeitura de São Luís, mas até o fe­chamento desta edição não obteve retorno.

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