Especial Dia das Mães

Homenagem: Quem é mãe não quer ter outra função na vida!

Mãe é aquela que ama o que faz e diz, para quem quiser ouvir, não desejar ser outra coisa na vida que não mãe; por isso, luta em nome dos filhos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Juvanildes Santos, de 58 anos, cuida de pelo menos 18 crianças em uma escola comunitária da Vila Embratel
Juvanildes Santos, de 58 anos, cuida de pelo menos 18 crianças em uma escola comunitária da Vila Embratel

SÃO LUÍS - Dizem que ser mãe é um “verdadeiro sacrifício”. Po­de até ser, mas, além dis­so, a função está carrega­da de simbologias e significados que são imprescindíveis para se entender o que de fato uma mãe faz. Não é somente aquela pessoa que troca a fralda de madrugada (após aquele cocô inesperado). Não é aquela que dá de mamar todas as madrugadas ou que está presente nos momentos bons e ruins. Mãe é aquela que ama o que faz e diz, para quem quiser ouvir, não desejar ser outra coisa na vida que não mãe.

E aqui vamos tratar não somente das mães legítimas, de sangue. Mas aquelas mães autodidatas, ou seja, que já têm o dom desde o nascimento do ofício. Ou ainda as mulheres que objetivaram o sonho de ser mãe de outra forma, ou seja, cuidando dos filhos dos outros. Há exemplos ainda de mulheres que abriram mão da adolescência para cuidar das “crias”. E ainda há ainda quem superou até a morte para ver os seus herdeiros crescendo.

A dos filhos dos outros
Antes de entrevistar uma das personagens desta reportagem, O Estado conversou com Juvanildes da Silva Santos. Uma senhora de 58 anos de idade que, sozinha, cuida de pelo menos 18 crianças entre 6 e 12 anos de idade em uma escola comunitária do bairro Vila Embratel, área Itaqui-Bacanga, em São Luís. Ela se considera a segunda mãe de todos os seus alunos. Pedagoga, a senhora trabalha no local há 14 anos e jamais recebeu qualquer centavo pelo serviço.

Questionada sobre o porquê da dedicação, ela foi clara. “Eu tive uma filha que, graças a Deus, está bem criada e independente. Aí, como gostei de ser mãe, disse a mim mes­ma que passaria a cuidar dos filhos alheios. E não deu outra”, disse. Ao falar de cabeça o nome dos 18 alunos, a pedagoga se emociona. “Eu acho que só vou deixar de ser mãe aqui no dia que vierem me buscar e colocar no túmulo”, disse.

E quanto à aposentadoria? A senhora não pensa? Ela abomina a ideia. “Pra quê? Pra ficar em casa, sem saber o que fazer? Eu não. Eu venho é para cá cuidar dos meus meninos”, disse. E os tais meninos adoram a “tia Juve”. “Eu gosto dela. Ela cuida bem da gente”, disse Débora, de 12 anos.

A “tia Juve” atua no Centro Comunitário e Educacional Itaúna, situada na Rua 22, Quadra 37, na Vila Embratel. Apenas as ajudas dos pais e de outros colaboradores voluntários mantêm a escola, que presta reforço escolar e funciona ainda como creche. “Eu passo mais tempo com eles do que os próprios pais deles. Não tem como eu não me apegar”, disse Juvanildes.

Denize Cunha e as crianças do reforço escolar que oferece, na Vila Embratel
Denize Cunha e as crianças do reforço escolar que oferece, na Vila Embratel

A mãe-mestra
São duas turmas por tarde, o que contabiliza uma média de aproximadamente 25 alunos de 8 a 15 anos de idade. A sala de aula é mes­mo a de casa (com outros ambientes como apoio). A descrição é da “escolinha” de Denize Cunha, que oferece serviços de reforço escolar para jovens em sua residência na Vila Embratel. Estimulada pelos ensinamentos de sua avó materna e sob as bênçãos da mãe, Denize, seguiu carreira, se formou e, atualmente, é a tal “mãe-mestra” de uma turma que a ama.

Na aula de quinta-feira (9), lições de porcentagem. A passagem dos zeros a partir do número multiplicado é ensinada de uma forma que todos os jovens conseguem apreender. “Eu amo a minha tia!”, disse o jovem Rayan, que sonha em ser cientista. “Eu quero fazer algu­ma coisa que o mundo ainda não fez”, afirmou.

A professora e mãe Denize leciona em escola particular pela ma­nhã e a tarde em sua casa. Ela se considera a mãe de todos eles. “Não há como se esconder deste sentimento. Ele é único. Mãe também é aquela que repreende na hora certa, que dá o carão quando precisa. E aqui faço isso também pelo bem deles. Mas a gente dá o carinho necessário e compatível nos momentos certos também”, afirmou.

A “mãe-mestra” também é mãe de fato. “A minha filha também é aluna, mas quando está com outros jovens, é igual a todos eles. É preciso levar a função de mãe e mestra a sério e isso é que faço todos os dias”, disse. Os responsáveis legais pelos alunos aprovam a “mãe-mestra”. “Ela é sensacional. A minha filha a adora”, disse Lucineide Alves, mãe de aluna.

Jornalista Carla Lima: pensar nos filhos a ajudou a enfrentar câncer
Jornalista Carla Lima: pensar nos filhos a ajudou a enfrentar câncer

A mãe heroína
“Zé, passa a página dois que vou buscar meus filhos no judô!”. A frase é clássica e é ouvida por volta das cinco da tarde, diariamente, na redação de O Estado. É da editora de Política do periódico, Carla Lima, responsável por buscar suas “crias” na aula no horário.

Dependendo do dia e da disponibilidade dos seus pais ou do seu marido, Luciano, os filhos seguem no início da noite para a redação do jornal e ajudam a “fechar” a página. O mais incrível desta história é pensar que a ida diária da jornalista para buscar os filhos esteve ameaçada.

Há alguns anos, Carla Lima - que se descobriu mãe ao ser de fato - foi diagnosticada com um tipo de câncer bucal. “Foi um momento muito difícil, pois fiquei longe deles”, disse. O tratamento feito na maior parte do tempo em Fortaleza contou com o apoio dos filhos (que puderam morar temporariamente com parentes do marido na cidade). No entanto, an­tes, nas duas cirurgias, os tesouros permaneceram distantes. “A minha filha, por exemplo, ficou com a avó por quase seis meses. Tempo demais longe dela”, disse.

Os tesouros - João Guilherme e Maria Carolina - estimularam a cura mais do que qualquer medicação ou qualquer sessão de radioterapia a que a paciente se submeteu. “Eu pensava o tempo todo na minha família, nos meus pais, no meu marido. Mas, principalmente, nos meus filhos. Não queria que eles fossem criados sem a mãe deles”, enfatizou a jornalista.

Com a cura, adquirida também com muita fé pessoal, a jornalista se desdobra nas funções de mãe, esposa, filha e profissional exemplar. Aos prantos, ela resumiu toda a sua história até receber de Deus a glória de ser mãe.

“Um diagnóstico de câncer sem­pre parece ser uma sentença de morte. Você ter um filho de três anos e uma bebê de seis meses te faz não aceitar a tal sentença. Todo sofrimento das cirurgias e a agressividade do tratamento foram qua­se nada para mim diante da missão de me manter viva para criar os meus filhos. Olhar o sorriso, o rosto de felicidade ao me ter perto e a confiança deles de que sou protetora, me davam força que eu nem sabia que tinha. Foram 33 dias sem comer nada. Cabelos cain­do e sem energia para cuidar de João e Maria. Mas como num conto de fadas, o final foi feliz. E hoje me refiro a esta história com um somente era uma vez”.

Dênia Sá foi mãe de Victor na adolescência, em Paraibano
Dênia Sá foi mãe de Victor na adolescência, em Paraibano

Adolescente e mãe
Aos 16 anos de idade, a assistente social e vereadora da cidade de Paraibano - distante 500 quilômetros - Dênia Sá descobriu que seria mãe. Ainda na adolescência, ela teve que amadurecer rapidamente para poder criar o seu filho, Victor Emanuel.

À época da gravidez, Dênia não trabalhava. “Eu apenas estudava, estava no primeiro ano do Ensino Médio. Foi uma grande transformação em minha vida”, disse. Ela conciliou estudo e o ofício de mãe e, após se formar no segundo grau, conseguiu concluir o curso superior. “Ao mesmo tempo, criava meu filho sob as bençãos de Deus e do senhor Jesus Cristo”, afirmou.

Mesmo com as dificuldades, Dênia conquistou aprovações em concursos. Em 2008, tornou-se vereadora na cidade de Paraibano. “Enquanto isso, meu filho crescia e conseguia conciliar tudo, com a ajuda de parentes”, afirmou.

Atualmente, o filho é formado em Direito e está prestes a exercer a profissão. Ao ver a formação de Victor, a mãe se sente realizada. “Para mim, vê-lo formado é relembrar de todo o esforço para educá-lo. Graças a Deus, fui bem-sucedida”, disse.

Mãe centenária
Em Sítio Novo, localidade do município de Peritoró - distante 230 quilômetros da capital maranhense -, vive talvez uma das mães mais antigas do estado. Dona Maria do Car­mo Alves, aos 108 anos de idade, mesmo com as sérias limitações físicas, ainda recebe a reverência dos filhos de criação e legítimos. Um dos seus “filhos de leite”, José de Ribamar Lima da Silva, atualmente reside na capital São Luís e fala com carinho da “sua velhinha”, como ele mesmo a chama. “Eu tenho muito carinho e respeito por ela”, disse.
Criada na roça, dona Maria educou os seus filhos com afinco e dedicação. No aniversário de 107 anos, em 2017, os filhos organizaram uma festinha para dona Maria. Bolo, balões e outros acessórios foram incluídos na comemoração. “A minha mãe foi uma verdadeira heroína para nós. E passar uma data como esta mais uma vez ao lado dela, para mim, é motivo de muita alegria”, afirmou.

O poeta que ama a mãe

Nos corredores do Grupo Mirante, é comum ver o profissional exemplar do auxílio de reportagem, Luiz Carlos Silva, escrevendo versos espontâneos para os mais diversos assuntos do cotidiano. Ao fazer da dor uma arte – neste caso a arte da linguagem – o auxiliar escreveu alguns versos para a mãe dele, dona Alaíde Pereira Silva, e as mães em geral.

Nos primeiros versos, o poeta ressaltou a intervenção divina para a criação da figura da mãe. Depois, denominou a mãe de anjo. Por fim, denominou a mãe como um ser maravilhoso. E ao endossar a importância da mãe, o poeta cita que “amor de mãe é essencial”.

“Anjo Mãe”

Deus na sua infinita sabedoria!

E com o poder da criação.

Percebeu que de imediato havia.

A necessidade aqui na terra,

De um anjo em nossa companhia.

Mandou o mais fabuloso!

Um anjo chamado mãe, meigo e carinhoso.

Foi tamanha a responsabilidade,

Que a ela foi concebida a tarefa.

De gerar o filho o filho do pai,

“O todo poderoso”.

Esse anjo chamado mãe!

É sinônimo de afeto e carinho.

Proteção, compaixão e compreensão,

E nunca nos deixa sozinho.

Todos dependemos desse ser maravilhoso!

Ele é a representação da vida.

Um gesto magnífico e glorioso,

Capaz de provocar emoções infinitas.

Amor de mãe é essencial!

É um sentimento sincero e leal.

É único autêntico e muito especial,

Supera tudo, tá acima do bem e do mal.

Autor: Luiz Carlos A. Silva

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