Artigo

E a vaca foi para o brejo

Arthur Ribeiro Bastos *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

A mídia informou que o governador do estado nomeou um médico veterinário para cuidar das nossas estradas. Ressalvado o desaforo sustentado contra nós, engenheiros civis, penso que, em parte, há um pouco de razão na atitude tão desconcertante. Quando dei a notícia a um também minimizado colega, ele respondeu num repente: - Captei! Isso é para evitar que a vaca vá para o brejo.

A situação não é engraçada, os recentes insucessos da duplicação da BR-135 e da construção da dita rodovia ecológica MA-325, coloca a Engenharia Rodoviária maranhense em situação de inferioridade, assim como a Engenharia Rodoviária brasileira está para a maioria dos países desenvolvidos.

Enquanto ainda procuramos a melhor maneira de projetar as nossas vias de acesso, a França vai revestir 1.000 km das suas com células fotovoltaicas para produzir energia elétrica. Um exemplo, para mostrar a distância que nos separa da evolução rodoviária mundial.

No caso da MA-325, é quase certo que não houve estudo hidrológico, caso contrário o aterro teria sido construído em cota superior ao nível máximo das águas e essa estrada não seria a primeira rodovia maranhense a soçobrar em seu próprio leito, principalmente porque há notícia de que o projeto foi doado ao Governo do Estado por uma empresa especializada em eletricidade.

Fica-se pensando que a obra foi autorizada sem a necessária análise técnica. Na BR-135, em vista das características da rodovia, subentende-se que o estudo da mecânica do solo não foi suficiente para solucionar o problema da estabilidade do aterro sobre um solo local tão instável.

Há um vazio entre projeto, análise, fiscalização e execução das obras. Para sermos justos, esse descompasso, embora tenha se acentuado ultimamente, não é uma situação recente. O setor rodoviário maranhense, que já contou com um quadro de 2.000 funcionários, sobrevive em uma única sala da Sinfra.

Nossos mestres já se aposentaram ou morreram e os seus alunos já estão se aposentando. A memória técnica não evoluiu, estacionou no passado, em razão do quadro não ter sido renovado. Portanto, salvo se houve outro motivo, eu entendi a atitude governamental: - Como os engenheiros não davam conta do recado, a saída era esquecer de nós, pobres aprendizes de John Smeaton, o pai da engenharia, dando lugar a técnicos de outras áreas para cargos que, por direito ou lógica, nos pertencem.

Diante dessa situação, fico pensando que o futuro do nosso estado poderia ser bem melhor se o governo atual começasse a mandar parte da nossa juventude para cursos de pós-graduação no exterior, onde o ensino é mais objetivo e eles voltariam com maior capacidade técnica e visão do mundo moderno. Portugal, França, Espanha ou Estados Unidos são bons endereços para os engenheiros rodoviários. É tempo de valorizar os nossos jovens!

Há um pensamento que diz: “O pior em uma pessoa é não saber aquilo que não sabe, pois, pensando que sabe, termina por fazer bobagem”. No momento, na área rodoviária, estamos na fase de pensar que sabemos. A boa notícia é que o DNIT, considerando que as estradas nacionais são péssimas, desenvolveu, e pôs em prática, uma nova metodologia de projeto com base matemática, enfatizando estudos mais aprofundados do solo e reduzindo o empirismo atual. Portanto, construir daqui para frente estradas projetadas como antigamente é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Não é uma mudança fácil, mas já é um recomeço.

Resolvidas essas questões, não haverá mais necessidade de cuidar da vaca!

* Engenheiro Civil

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