CONSCIENTIZAÇÃO

Saúde: ação educativa é levada a postos de combustíveis de São Luís

Atividades, realizadas ontem (26), em toda a cidade, esclareceram sobre os riscos da exposição ao benzeno, componente da gasolina

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

[e-s001]Por trás do cheirinho da ga­solina, agradável para mui­tas pessoas, está camuflada uma série de perigos à saúde oferecidos àqueles que mantêm contato direto ou indireto com o produto, devido, principalmente, à presença do benzeno – substância que compõe a gasolina, caracterizada pelo aroma adocicado. Foi pensando nisso que, na manhã de sexta-feira (26) – em alusão à campanha Abril Verde, de prevenção de acidentes no trabalho –, o Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA), em parceria com o Centro de Referência em Saú­de do Trabalhador (Cerest) e o Sindicato dos Frentistas do Maranhão (Simpospetro), promoveu a primei­ra ação de conscientização de frentistas e consumidores de postos de combustíveis da capital, com distribuição de panfletos e cartilhas com orientações sobre os cuidados que devem ser tomados.

“Essa é uma ação educativa que objetiva conscientizar tanto os trabalhadores quanto os consumidores sobre os riscos do benzeno e, também, sobre a importância de respeitar o travamento automático da bomba, aquele clique que o aparelho emite ao atingir o limite. O consumidor, ao abastecer, pode definir um valor ou solicitar que o frentista complete até o automático. A exposição dos trabalhadores é maior, por ser contínua, mas todas as pessoas que têm contato com a gasolina, es­tão sujeitas à exposição ao benzeno”, explicou a procuradora Anya Gadelha, do MPT-MA.

Perigo
O benzeno é uma das substâncias mais produzidas em quantidade e diversidade, e está presente na composição de diversos produtos, podendo ser encontrado, principalmente, no petróleo e na produção do carvão. É considerada uma substância altamente perigosa, podendo afetar negativamente a saú­de da população e o ambiente, quan­do utilizados de maneira incorreta. E os riscos são diversos, podendo variar desde náuseas e dores de cabeça a desenvolvimento de cânceres, conforme ressaltou Karla Esther Abreu, diretora do Cerest regional de São Luís.

“Evitar o contato com a gasolina e, consequentemente com o benzeno, significa evitar a contaminação e o desenvolvimento de algumas doenças. Quando se extrapola a medida definida pela tra­va, o trabalhador, consumidor e quem estiver próximo à bomba podem inalar esta substância e desenvolver câncer de mama, ovário e pulmão, que são os mais incidentes, além de problemas cardíacos, respiratórios e até cerebrais”, destacou a especialista.

Atualmente, mais de 700 pessoas atuam como frentistas nos 150 postos de combustíveis em pleno funcionamento na capital, conforme o Simpospetro. Estática que exige atenção em relação aos profissionais do setor. E os cuidados também são levados por eles, principalmente aqueles mais experientes.

[e-s001]Lei coíbe
Há mais de 20 anos trabalhando como frentista, Elmadan Costa já conhece as táticas dos consumidores, mas não se inibe diante dos mais insistentes. “A gente é treinado e orientado sobre todos os perigos que estamos expostos, mas muitas pessoas não entendem e insistem para colocarmos mais gasolina, mesmo após a bomba indicar o limite. Nesses casos, sempre busco conversar e explicar que não é o correto, além de ser perigoso para mim e para eles. Quanto mais a gente evitar, melhor”, afirmou a funcionária.

A atividade contou, ainda, com o apoio do deputado estadual Adria­no Sarney, autor da Lei Estadual nº 10.647, que visa coibir o abastecimento acima da trava automática das bombas de combustíveis. Além de reduzir os riscos àqueles que lidam constantemente com os combustíveis, a determinação institui penalizações aos postos que descumprirem a norma.

“A trava precisa ser respeitada. Quando o frentista coloca o combustível além do sinalizado, ele está prejudicando a sua saúde e, também, a do motorista e do ambiente como um todo, porque o benzeno gera uma poluição maior. Devido a todos os perigos relacionados a esta substância, a conscientização da população é indispensável e, por meio da lei, exigida a afixação de cartazes alertando sobre esta situação e sobre a proibição do abastecimento superior ao sinalizado pela bomba e aqueles postos que não obedecerem à norma, estão sujeitos à multas”, ressaltou o deputado.

A partir da ação, realizada on­tem, na capital, outras atividades serão promovidas, tanto no que se refere à fiscalização para garantir o cumprimento à Lei nº 10.647, quan­to à conscientização de condutores e passageiros de veículos sobre os riscos oferecidos pelo benzeno, que ainda são desconhecidos por gran­de parte da população, como o aposentado Alexandre Aguiar, que já venceu um câncer e compreende a importância da campanha. “Toda ação que beneficia o consumidor é bem-vinda. Eu não tinha conhecimento sobre estes riscos, mas a partir de hoje terei mais cautela. O cuidado será redobrado”, garantiu.

Em 2017, o Governo do Maranhão sancionou a Lei nº 10.647, que proíbe os postos de combustíveis de abastecerem os veículos após o travamento automático da bomba. Se descumprida, a legislação prevê aplicação de multa no valor de
R$ 300,00, podendo ser dobrado em caso de reincidência.

Abril Verde
Durante o mês de abril, órgãos públicos e instituições engajadas nas questões relativas aos acidentes de trabalho aderem à campanha Abril Verde, uma forma de promover a conscientização sobre a importância da segurança e da saúde do trabalhador brasileiro. O mês de abril foi escolhido porque o dia 28 é dedicado à memória das vítimas de acidentes e de doenças do trabalho.

Formas de exposição ao benzeno

No trabalho:

– Trabalhadores dos setores de siderurgia
– Frentista
– Produção e utilização de tintas
– Fabricação de plástico
– Produção de couro
– Indústria de borracha (pneus e outros)

Ambiental:

Nos grandes centros urbanos, onde há maior concentração de veículos, a população em geral está exposta a concentrações altas de benzeno no ar.

Principais efeitos à saúde

Efeitos agudos:

Normalmente suas manifestações ocorrem até 24 horas após o contato com o combustível, pois causa efeitos tóxicos para sistema nervoso central; os sintomas são: aceleração dos batimentos cardíacos, dificuldade respiratória, tremores, convulsão, irritação das mucosas oculares e respiratória, podendo causar edema (inchaço) pulmonar.

Efeitos crônicos:

Anemia, sangramento excessivo (no nariz, por exemplo) e queda do sistema imunológico, aumentando as chances de infecções e de desenvolvimento de cânceres sanguíneos de vários tipos, como as leucemias, além da suspeita de relações a outros tumores.

As alterações do estado de consciência e excitação seguida de sonolência, tem relação com a quantidade absorvida. As queixas mais comuns dos trabalhadores de postos de combustíveis são tontura, dores de cabeça, enjoos, boca seca e olhos irritados.

Medidas de controle

Empregadores em postos de gasolina:

– Garantir aventais e luvas impermeáveis para os lavadores de carro
– Fornecer gratuitamente uniforme e calçados de trabalho adequados aos riscos, bem como garantir a higienização destes semanalmente
– Instalar peças protetoras contra respingo nas bombas de abastecimento
– Realizar a manutenção do bico automático das bombas de abastecimento

Funcionários de postos de gasolina:

– Afastar o rosto da direção do tanque de combustível do veículo ou tanque do subsolo do posto
– Evitar cheirar a tampa do veículo antes de abastecer
– Trocar o uniforme, caso esteja molhado de combustível
– Evitar lavar as mãos com combustível, nem mesmo com o etanol, pois outros agentes químicos nocivos a saúde também são misturados a esse combustível.

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