Encontro

Putin diz que garantias dos EUA não convencerão Kim

Presidente russo apelou que negociações por desnuclearização incluam Rússia, China, Japão e Coreia do Sul; ditador tenta consolidar aliança ante impasse com Donald Trump

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Os dois líderes discutiram ontem o fim dos testes nucleares e questões regionais de segurança
Os dois líderes discutiram ontem o fim dos testes nucleares e questões regionais de segurança (Reuters)

VLADIVOSTOK - O presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, se encontraram ontem, 25, em Vladivostok, na Rússia, para discutir os esforços de desnuclearização da Península Coreana diante do impasse das negociações com os Estados Unidos.

O encontro inédito ocorreu dois meses depois da frustrada cúpula entre Kim e o presidente americano, Donald Trump, no Vietnã, que terminou sem acordo. Após a reunião, o chefe do Kremlin disse que Kim está comprometido com a desnuclearização, mas precisa de garantias de segurança para pô-la em andamento.

O líder norte-coreano disse ter conversado "muito" com o presidente russo e trocado informações de maneira "substancial" sobre questões de interesse mútuo. Kim agradeceu Putin pelo "bom momento" que tiveram juntos, após duas horas de reuniões, e pediu que Moscou levasse sua posição a Trump. Ansioso em usar a cúpula para polir as credenciais russas como ator global, o líder do Kremlin afirmou acreditar que quaisquer garantias dos EUA ao Norte precisam ser apoiadas por países envolvidos em negociações anteriores.

Isso significaria incluir nas conversas a Rússia, a China, o Japão e a Coreia do Sul, além de Estados Unidos e Coreia do Norte, um formato que vigorou entre 2003 e 2009, mas acabou marginalizado pelos esforços unilaterais dos EUA por um acordo. Putin afirmou acreditar que a desnuclearização passa por um processo passo a passo de construção de confiança.

"Eles (os norte-coreanos) só precisam de garantias sobre sua segurança. É isso. Todos nós juntos precisamos pensar sobre isso", destacou Putin a jornalistas, após as reuniões em Vladivostok. "Estou profundamente convencido de que, se chegarmos a uma situação em que algum tipo de garantia de segurança for necessária de uma parte, neste caso para a Coreia do Norte, não será possível prescindir de garantias internacionais. É improvável que quaisquer acordos entre dois países sejam suficientes".

Tais garantias teriam de ser internacionais, vincular juridicamente os envolvidos e atestar a soberania da Coreia do Norte, na visão de Putin, que descreveu Kim como alguém "bastante aberto, pensativo e interessante".

Ao viajar à Rússia, Kim busca reforçar sua base de alianças internacionais para obter alívio nas sanções econômicas impostas depois dos testes balísticos de 2017, sua principal demanda para qualquer avanço no desmonte do programa nuclear de Pyongyang. Nesse contexto, o ditador recorreu aos elos históricos entre norte-coreanos e russos, na esperança de reavivar a amizade e diversificar sua lista de aliados para além da China.

No fim da cúpula, Putin reforçou que teve uma "discussão bastante detalhada" com Kim e prometeu levar as questões a autoridades dos EUA e da China. Esta foi a primeira reunião entre governantes dos dois países desde que Kim Jong-il, pai do atual líder norte-coreano, se reuniu com o então presidente e atual primeiro-ministro Dmitri Medvedev há oito anos.

'Vínculos históricos'

Kim não falou com a imprensa depois do encontro. Antes de ver Putin, destacou que a situação coreana goza de muito interesse no mundo e manifestou a crença de que o encontro seria "muito útil para desenvolver os históricos laços entre nossos países, que têm uma longa amizade, e tornar a relação mais estável e sólida".

Apesar dos repetidos convites a Kim, a Rússia permanecia, até agora, afastada do processo de distensão na Península Coreana, iniciado em 2018. Foi a ex-União Soviética que, ao final da Segunda Guerra Mundial, garantiu a ascensão ao poder o avô de Kim e fundador da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Il-sung. Com a queda da URSS, os dois países se distanciaram, mas Moscou continuou a fornecer ajuda alimentar ao antigo aliado e buscou durante anos convencê-lo a abandonar as armas nucleares.

Moscou defende um diálogo com Pyongyang baseado em um plano definido pela China e a Rússia. Nesta quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já havia afirmado que os diálogos iniciados em 2003 continuavam a ser a melhor opção para encontrar soluções. Ainda assim, segundo ele, outras opções mereciam apoio.

Cooperação

Além da questão nuclear, Kim e Putin conversaram sobre o aumento da cooperação econômica e, mais concretamente, sobre a questão da mão de obra norte-coreana. Quase dez mil trabalhadores do país asiático estão empregados na Rússia, o que representa uma importante fonte de divisas para Pyongyang. Mas a resolução 2397 do Conselho de Segurança da ONU, de dezembro de 2017, solicitava a todos os países com trabalhadores norte-coreanos que os enviassem de volta ao país no prazo de dois anos.

Os dois líderes trocaram presentes. Kim deu a Putin uma espada coreana tradicional, enquanto o líder russo o presenteou com um sabre e um serviço de chá adequado para uso em seu trem blindado, no qual viajou durante dez horas até Vladivostok.

"Quando armas modernas não existiam, eles usavam essas espadas", disse Putin, segundo a mídia estatal russa. "Eles incorporam força, minha alma e nosso povo que te apoiam".

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