Centro-americanos

México endurece política migratória e detém 400

Trump ameaça enviar ''soldados armados para a fronteira'', e López Obrador fala em necessidade de ''ordenar'' mobilidade dos imigrantes no país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Uma família de imigrantes da América Central é detida pela polícia federal mexicana durante uma ação no Estado de Chiapas
Uma família de imigrantes da América Central é detida pela polícia federal mexicana durante uma ação no Estado de Chiapas (Reuters)

CIDADE DO MÉXICO - O governo do México confirmou o endurecimento de sua política de contenção da imigração, ao deter 371 imigrantes centro-americanos que se dirigiam aos Estados Unidos . O episódio ratifica uma mudança na postura do governo de Andrés Manuel López Obrador, que, no início do ano, anunciou uma política de portas abertas.

Apesar das críticas de certas organizações da sociedade civil, o Executivo mexicano tem insistido na necessidade de regular o fluxo crescente de pessoas que atravessa o país rumo ao vizinho do Norte — cerca de 300 mil nos últimos três meses, segundo dados oficiais.

"Não queremos que tenham passagem livre, não só por questões legais, mas também de segurança — afirmou em uma entrevista coletiva terça-feira,23, o presidente.

Uma alta autoridade mexicana afirmou que o país enviou de volta 15 mil imigrantes no último mês . Em entrevista coletiva, Tonatiuh Guillen, chefe do Instituto Nacional de Migração, não disse para quais países os 15 mil foram devolvidos, mas a maior parte dos imigrantes que está cruzando o México vem da Guatemala, Honduras e El Salvador.

A guinada aponta para a pressão exercida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que o país contenha o fluxo de pessoas que segue para o norte. Após um aumento no número de apreensões de cidadãos da América Central tentando entrar nos EUA, Trump ameaçou fechar a fronteira americana com o México no mês passado, se o governo mexicano não contivesse a imigração irregular imediatamente.

Nesta quarta-feira, Trump voltou a ameaçar fechar parte da fronteira e enviar “soldados armados” para protegê-la, caso o México não impeça uma nova caravana de imigrantes rumo aos EUA. “Uma caravana muito grande de mais de 20 mil pessoas começou a atravessar o México”, tuitou o presidente. “Ela já diminuiu de tamanho no México, mas continua a vir. O México deve impedir o que resta, ou seremos forçados a fechar aquela parte da fronteira e a chamar os militares.”

Trump também disse, sem dar detalhes, que soldados mexicanos recentemente tinham “empunhado armas” na direção de soldados americanos, no que ele sugeriu ser “uma tática de distração para traficantes de drogas”. “É melhor que isto não volte a acontecer. Agora vamos enviar SOLDADOS ARMADOS para a fronteira. O México não está fazendo nem de longe o necessário para apreender e extraditar”, escreveu.

Não ficou claro a que Trump se referia, porque ao menos alguns dos soldados na fronteira já estão armados. Cerca de 5 mil soldados e membros da Guarda Nacional, empregada para intervenções policiais, já estão na fronteira. Quando o Exército é usado em território americano, os soldados não portam armas carregadas, exceto em casos emergenciais. A munição fica separada das tropas e só é distribuída se os oficiais acharem necessário.

Caravana encurralada

Na segunda-feira, 22,agentes da polícia federal e do INM encurralaram uma caravana integrada por 3 mil imigrantes irregulares, em sua maioria hondurenhos, enquanto andavam por uma estrada no estado de Chiapas, no Sul do país. Algumas pessoas tentaram fugir, enquanto outras foram colocadas em ônibus oficiais. Os detidos, entre os quais há crianças, foram levados a centros de internamento na cidade fronteiriça de Tapachula, enquanto se regulariza a sua situação.

A operação provocou momentos de tensão. Alguns migrantes relataram ataques das forças de segurança, enquanto as autoridades defenderam suas ações e acusaram os grupos de centro-americanos de atacarem primeiro, com pedras. O comissário do INM, Tonatiuh Guillén, tem procurado minimizar a gravidade deste tipo de episódio e afirmou que iniciativas como esta “são realizadas todos os dias”.

Apesar do discurso da normalidade, a detenção maciça é a mais forte evidência até o momento da mudança de posição do Executivo sobre o assunto. Em janeiro, as autoridades começaram a conceder vistos humanitários aos recém-chegados, uma licença renovável de um ano que permitia que os imigrantes trabalhassem em qualquer lugar do país e acessassem os serviços sociais. A medida foi bem recebida pelas ONGs, como um avanço em comparação à política de linha-dura adotada pelo governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto para segurar caravanas em outubro passado.

No entanto, a crescente pressão do governo dos EUA sobre o México e a recente ameaça de Donald Trump de fechar a fronteira, se o fluxo de migração não for reduzido, contribuíram para uma reviravolta. A secretária do Interior, Olga Sánchez Cordero, anunciou no final de março um "plano de contenção", tendo em vista o aumento do número de chegadas. Além disso, anunciou que a emissão de vistos humanitários seria limitada, dando prioridade a mulheres, crianças e pessoas com mais de 65 anos de idade.

Em vez de vistos, o governo agora pretende promover o "cartão de visitante regional", muito mais restrito. O cartão limita a mobilidade dos migrantes aos quatro estados do Sul do México e os afasta de seu objetivo de cruzar a fronteira com os EUA

"Preferimos servir a população da América Central no Sul e no Sudeste", defendeu na terça-feira López Obrador, citando altos níveis de violência nos estados do Norte do país, onde milhares de pessoas aguardam para ter os pedidos de asilo processados pelos EUA.

A nova política reduziu a pressão na fronteira norte, mas sobrecarregou a infra-estrutura hospedeira do Sul. Ramón Verdugo, membro da ONG Tudo para Eles, denuncia a lentidão dos procedimentos.

"Eles argumentam que os escritórios vão regularizar os procedimentos, mas primeiro lhes nega atenção, em seguida os detêm e os deporta", afirmou.

Alguns dos detidos em Chiapas passaram semanas em um ginásio esportivo à espera de um visto humanitário, disse o ativista. No entanto, depois de semanas de espera, as autoridades disseram-lhes que só podiam aspirar a cartões de visita. Em vista disso, os imigrantes decidiram continuar o seu caminho.

5 mil detidos

Somente no estado de Chiapas, na fronteira com a Guatemala, existem mais de 5 mil pessoas detidas em instalações do INM, de acordo com dados do próprio Instituto, aguardando o processamento das permissões. A Comissão Nacional de Direitos Humanos denunciou as condições de "superlotação" em que as instalações se encontram e solicitou que uma "estadia digna" fosse garantida.

Na frente diplomática, o México está tentando acalmar as coisas com os Estados Unidos. Depois de ressaltar a importância dos vínculos bilaterais, o secretário de Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, anunciou terça-feira uma visita a Washington no início de maio, onde será discutida a questão da migração.

Além do plano de contenção sendo implementado no México, López Obrador tem insistido na necessidade de investimentos na América Central, e o apoio dos Estados Unidos é uma parte fundamental dessa estratégia:

"A proposta de fundo que estamos fazendo junto ao governo dos Estados Unidos é para que apoiem com urgência o desenvolvimento nos países-irmãos da América Central", disse ele.

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