Artigo

Filmes como remédio

Joaquim Haickel, Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Ninguém gosta de ser acusado! Imagine alguém dizendo que você é desonesto, mau caráter, violento... Isso incomoda qualquer pessoa. Um dia desses, um idiota me acusou de ser cinéfilo, achando que eu iria me ofender com isso. Amei a acusação, pois cinema é uma das coisas das quais eu mais gosto nessa vida. Penso que jamais poderia ter me tornado um cineasta razoável se antes não fosse um amante do cinema.

Assisto a quase todos os tipos de filmes, exceção feita aos de terror, que não me agradam. Deve ser algo com raízes em minha infância. Mas, hoje, gostaria de comentar com vocês sobre dois filmes, de um tipo diferente de terror, algo bem mais impactante, pois acontece no dia a dia das pessoas, e não é fantasioso.

Estou me referindo a “O Retorno de Ben” e “Cafarnaum”.

“O Retorno de Ben” é uma produção americana, e conta com Julia Roberts no elenco. Nele, vemos a luta de uma mãe para ajudar seu filho a superar o vício das drogas.

Montado em recortes temporais, o filme nos vai mostrando os acontecimentos que culminam com um desfecho previsto, mas é nesse frenesi que se desenrola todo esse drama. É um bom filme e precisa ser visto em família, até como remédio didático para pais e filhos.

O Retorno de Ben nos mostra uma realidade acachapante, que nos deixa em muitos momentos absolutamente atônitos, pois os fatos nele mostrados acontecem de forma tão natural e corriqueira, vemos isso acontecer em nossa volta tão frequentemente que nem ligamos, e quando passamos duas horas, na sala escura do cinema, submetidos a encarar essa realidade, nos chocamos enormemente.

O outro filme é “Cafarnaum”, que não é sobre a cidade da Galileia por onde Jesus andou. A palavra cafarnaum que, ao que tudo indica, é de origem latina, significa caos, e o que vemos no filme é realmente um grande caos. Um caos urbano, um caos social, um caos humano.

O filme libanês nos mostra um Líbano que não vimos quando lá estivemos no ano passado. Fiquei tão chocado que por um instante pensei que nem no Brasil tivéssemos tanta miséria!

Se eu fosse seu analista receitaria esses dois filmes como medicação! Todos os pais deveriam levar seus filhos para assistir a esses filmes. Eles são uma aula de realidade.

Assistindo a esses filmes podemos ter a verdadeira noção dos caminhos por onde a vida pode levar as pessoas, e que mesmo em meio ao caos, existe gente de boa qualidade, independentemente de raça, gênero, religião ou poder financeiro.

“Cafarnaum” concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e perdeu. Perdeu porque teve a infelicidade de concorrer com o excelente “Roma”, do aclamado cineasta mexicano Alfonso Quarón. Perdeu porque ele é de um realismo tão contundente que algumas vezes tive a impressão de não estar assistindo a uma obra de ficção, mas a um primoroso documentário, onde a câmera parece estar sempre colocada no ponto de vista de um privilegiado repórter que nos mostra a trajetória de Zain, um menino de uns doze anos, que em minha opinião entra para a galeria de personagens heroicos do cinema mundial.

Zain não pula de edifício em edifício, não voa, não é musculoso, não usa máscara, não usa armas sofisticadas. A sua arma é uma incrível coragem e uma inacreditável capacidade de entender a sua vida e a vida das pessoas ao seu redor. A relação de Zain com os super-heróis é tão clara que no meio do filme aparece um senhor com uma fantasia daquilo que ele diz ser o “Homem Barata”, primo do Homem-Aranha, e que imediatamente nos lembra Stan Lee.

O heroísmo de Zain consiste apenas e tão somente em viver e sobreviver em um lugar tão inóspito, tão cruel e degradante e ainda assim ter uma alma nobre, ser um homem bem formado e de bom caráter no alto de seus doze anos.

Mais uma vez, nunca é demais, recomendo que pais e filhos assistam a esses preciosos filmes.

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