Fundador do WikiLeaks

Troca de governo selou o destino de Julian Assange

Polícia diz que prisão tem relação com pedido de extradição feito por autoridades norte-americanas e violação de liberdade provisória concedida em 2012. Policiais entraram na embaixada do Equador onde ele estava após Lenín Moreno suspender asilo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Julian Assange foi preso na quinta-feira, 11, na embaixada do Equador em Londres
Julian Assange foi preso na quinta-feira, 11, na embaixada do Equador em Londres (Reuters)

LONDRES - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de 47 anos, foi preso ontem,11, pela polícia britânica na embaixada do Equador, em Londres, onde estava desde 2012. O WikiLeaks é uma organização que divulga documentos confidenciais de governos e empresas.

Segundo as autoridades britânicas, a prisão do australiano tem relação com um pedido de extradição feito por autoridades norte-americanas e um processo que ele responde no Reino Unido por ter deixado de se apresentar à Justiça britânica.

Os policiais entraram na embaixada após o presidente equatoriano, Lenín Moreno, suspender o asilo que concedia a ele.

Logo após ser levado pela polícia, ele foi considerado culpado pelo Tribunal de Westminster, em Londres, por violar as condições de sua libertação provisória no Reino Unido, um crime punível com um ano de prisão. Uma audiência sobre o pedido de extradição dos EUA será no dia 2 de maio.

Resumo

Julian Assange foi preso na quinta,11, na embaixada do Equador em Londres, onde estava desde 2012.
Ele tentava evitar sua extradição para a Suécia, onde respondia por uma denúncia de assédio, que já foi arquivada.
Ele também responde um processo sobre divulgação de documentos sigilosos americanos.
O governo equatoriano suspendeu nesta quinta-feira seu asilo e sua cidadania.
Governo americano emitiu um pedido de extradição para Assange.

Apresentação da Corte

O criador do WikiLeaks foi levado para uma delegacia do centro de Londres e depois seguiu para a Corte de Magistrados de Westminster, onde foi considerado culpado por não se apresentar à Justiça local.

Nesta quinta, o ministro júnior de Relações Exteriores do Reino Unido, Alan Duncan, disse que Assange não deve ser extraditado a algum país que o condene a morte ou o torture – inclusive os Estados Unidos.

Porém, o Departamento de Justiça dos EUA adiantou que Assange pode pegar no máximo cinco anos de prisão, descartando uma pena perpétua ou mesmo capital. Em nota, o governo norte-americano disse que o fundador do WikiLeaks é acusado de conspiração em uma tentativa de entrar ilegalmente em um computador do governo americano para ter acesso a informações confidenciais.

Sem cidadania equatoriana

O Equador anunciou na quinta que, além do asilo, a cidadania equatoriana de Assange foi suspensa. O presidente Lenín Moreno disse que o fundador do WikiLeaks violou repetidas vezes os termos acordados para permanência na embaixada. Ele disse que o asilado não tinha o direito de "hackear contas privadas ou telefones" e não podia intervir na política de outros países, especialmente aqueles que têm relações amistosas com o Equador.

Em uma rede social, Moreno afirmou que a decisão foi tomada também em razão da conduta desrespeitosa e agressiva de Assange, além das declarações da sua organização contra o Equador (veja abaixo). Ele foi acusado, pelo presidente equatoriano, de instalar equipamentos eletrônicos não permitidos e bloquear câmeras de segurança da embaixada, além de maltratar guardas.

Nesta semana, Fidel Narvaez, ex-cônsul do Equador, havia dito que Assange foi acusado de invadir a privacidade de Moreno.

Para o WikiLeaks, a decisão do Equador foi "ilegal". O grupo já esperava o "despejo" do seu fundador. Na quarta-feira,10, o WikiLeaks divulgou que Assange foi espionado durante parte do período em que ele ficou na embaixada.

Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, disse que as informações podem ter sido entregues ao governo do presidente dos EUA, Donald Trump. Assange é investigado naquele país pelo maior vazamento de documentos da sua história.

Asilo na embaixada

Assange procurou proteção diplomática na embaixada do Equador em 2012 para evitar ser extraditado para a Suécia, onde ele enfrentava um processo por abuso sexual. Ele recebeu asilo por decisão do então presidente do Equador, Rafael Correa.

A acusação na Suécia foi arquivada em 2017. Porém, ele mantinha a sua condição de asilado, porque há um processo contra ele na Inglaterra, por falta de pagamento de fiança, e uma ação nos EUA pela divulgação feita pelo WikiLeaks de documentos sigilosos.

Moreno afirmou, segundo a Reuters, que o Equador recebeu uma garantia britânica de que Assange não seria extraditado para um país onde ele pudesse enfrentar a pena de morte.

Assange ficou conhecido internacionalmente em 2010, quando o WikiLeaks publicou um vídeo de 2007 que exibia helicópteros Apache matando 12 pessoas em Bagdá – entre as vítimas, havia duas equipes de notícias da Reuters.

Ainda em 2010, o grupo divulgou mais de 90 mil documentos secretos com detalhes da campanha militar dos EUA no Afeganistão, seguido por quase 400 mil relatórios internos que descreviam operações no Iraque.

A proteção diplomática tinha sido concedida pelo Equador a Assange há quase sete anos pelo antecessor de Moreno, Rafael Correa, que agora vive na Bélgica.

Repercussão

Após a sua prisão, o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, que agora vive na Bélgica, denunciou imediatamente a decisão de Quito como "ilegal" e "em violação ao direito internacional".

"Lenín Moreno, nefasto presidente do Equador, demonstrou sua miséria humana ao mundo, entregando Julian Assange – não apenas asilado, mas também cidadão equatoriano – à polícia britânica. Isto coloca em risco a vida de Assange e humilha o Equador. Dia de luto mundial", tuitou Correa.

Para Agnes Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias da ONU, a decisão de suspender o asilo de Assange o coloca em risco real de sofrer “graves violações de seus direitos humanos”.

"Ao expulsar Assange de sua embaixada, as autoridades equatorianas permitiram que os britânicos o detivessem, o que o deixa um passo mais próximo da sua extradição para os Estados Unidos. Ao fazê-lo, o Equador expõe Assange a um risco real de graves violações de seus direitos humanos", disse Callamard à AFP. O governo russo afirmou que espera que os direitos de Assange não sejam violados.

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