Artigo

Uma solução à vista

Natalino Salgado Filho, Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA 

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

O que ainda é um grave problema de saúde, principalmente para o Brasil, parece que está prestes a ter uma solução. Um estudo de autoria de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, revelou, nesta semana, que a vacina contra a febre amarela também pode ser eficaz na prevenção da doença chamada zika, uma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, ao lado da dengue e da chikungunya..

O estudo é fruto do trabalho de dezesseis pesquisadores ligados à Universidade e à Fundação Oswaldo Cruz e trouxe essa conclusão a partir da pesquisa desenvolvida com a aplicação da vacina da febre amarela em camundongos. No laboratório, os estudiosos constataram que a carga do vírus no cérebro foi diminuída, bem como ocorreu a prevenção de deficiências neurológicas. A descoberta está disponível na internet, mas, por enquanto ainda aguarda o trâmite necessário da revisão da pesquisa.

A notícia veio em boa hora. Recentemente, o Ministério da Saúde revelou que o número de casos de dengue sofreu um aumento de 264,1% no país. No ano passado, nessa mesma época, foram detectados 62,9 mil casos. Em 2019, no mesmo período, a contabilidade deu conta de 229.064 doentes. Em relação ao Maranhão, os números mostram que, em relação ao ano passado, a doença teve um acréscimo de 37,9% - se considerado o mesmo período – e que até o dia 16 de março foram notificados 749 casos.

Quanto à zika, em 2019 já ocorreram mais de dois mil casos no país todo, enquanto que, em 2018, no mesmo período, esse número chegou a 1.908.

Ainda é cedo para comemorarmos, mas a notícia aponta para um caminho promissor, principalmente nesses tempos em que os mitos acerca da imunização povoam as mídias sociais e são cridas pelos incautos como verdades absolutas. Reportagem publicada no último mês de março pela revista Galileu, que faz cobertura jornalística da ciência, informou acerca de um artigo escrito por pesquisadores dinamarqueses, na revista Annals of Internal Medicine, a partir dos dados de mais de meio milhão de crianças para comprovar o argumento, já há muito repelido, que a vacina não causa autismo.

Outras lendas urbanas, que ainda proliferam em relação às vacinas, são as de que: o sistema imunológico de crianças de 0 a 2 anos não suporta a sobrecarga de vacinas; as doenças acometem mais as pessoas que foram vacinadas; a fonte de lucro da indústria farmacêutica e uma grande conspiração mundial têm como origem a determinação de que todos devem se vacinar. Os argumentos são frágeis, e um a um podem ser demolidos com números sérios, casos reais e a autoridade de pesquisadores, cientistas e profissionais da saúde. Além disso, as pessoas podem fazer sua parte, combatendo as Fake News e disseminando a cultura de que a prevenção é melhor e mais barata do que o combate à doença.

Em todas as épocas houve pessoas resistentes às mudanças, mas também houve aqueles que viram o invisível, ancorados na certeza de uma sociedade melhor – que passa inevitavelmente pela prevenção e erradicação de doenças, papel que as vacinas cumprem com perfeição, ignorando as críticas e seguindo adiante, certos de sua missão.

Num país em que a pesquisa científica padece, há décadas, da falta de investimentos regulares e da necessidade de mais pesquisadores, o estudo, a que me referi no início do artigo, é digno de aplausos. Que outros possam seguir nessa senda em busca da resposta para tantos outros males que ainda afetam a população brasileira e que haja por parte de todos – governo, universidades, sociedade – o apoio necessário que os estudiosos merecem.

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