Tragédia

Relatório sugere falha técnica em acidente de Boeing na Etiópia

Aeronave ''embicou para baixo várias vezes'' apesar de tripulação seguir orientações recomendadas pelo fabricante, diz ministra; avião da companhia Ethiopian Airlines caiu em 10 de março, com 157 pessoas a bordo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Legenda/Reuters
Investigador caminha por destroços de avião da Ethiopian Airlines, que caiu matando 157 pessoas a bordo

ADIS ABEBA — Os pilotos do Boeing 737 MAX 8 da companhia aérea Ethiopian Airlines que caiu em 10 de março, com 157 pessoas a bordo, seguiram os procedimentos recomendados para evitar a tragédia, mas não conseguiram recuperar o controle da aeronave. A ministra etíope dos Transportes, Dagmawit Moges, apresentou nesta quinta-feira à imprensa um relatório preliminar da investigação sobre o acidente.

"Os pilotos realizaram várias vezes todos os procedimentos especificados pelo fabricante (a Boeing), mas foram incapazes de controlar a aeronave", disse Moges.

No relatório inicial do inquérito, os investigadores recomendam que "o sistema de gerenciamento de voo da aeronave seja revisado pelo fabricante americano". A ministra ressaltou que, antes de que a frota de aeronaves Boeing 737 MAX seja autorizada a voar novamente, as autoridades da aviação devem verificar se a fabricante efetuou corretamente a revisão do sistema. Pelo menos a Europa e o Canadá disseram que também verificariam as mudanças, de forma autônoma, antes de liberar os voos.

Duas pessoas familiarizadas com a investigação disseram à Reuters que um software do Boeing 737 Max, conhecido como Sistema de Aumento de Características de Manobras (MCAS) e que tem o objetivo de evitar que a aeronave perca sustentação, foi reativado até quatro vezes depois que a tripulação do voo da Ethiopian Airlines o desligou, por causa de dados errôneos emitidos por um sensor. Investigadores analisam a possibilidade de o software ter sido reiniciado sem qualquer intervenção humana.

Moges não se referiu diretamente ao MCAS, suspeito de desempenhar um papel-chave no acidente na Etiópia e também na queda de uma aeronave do mesmo tipo que levava 189 pessoas na Indonésia, em outubro do ano passado. No entanto, a ministra salientou que o avião da Ethiopian Airlines embicou para baixo várias vezes durante os poucos minutos em que ficou no ar.

Diante da inclinação da aeronave, os pilotos da Ethiopian Airlines recorreram "repetidamente" aos procedimentos recomendados pela Boeing, sem sucesso, mostrou a investigação. A aeronave caiu seis minutos depois de decolar da capital etíope Addis Ababa. Os dois acidentes desde que o modelo 737 MAX entrou em operação comercial levaram à suspensão do uso das aeronaves em todo o mundo. Além disso, vários países suspenderam encomendas do modelo. A Boeing também suspendeu a entrega de novos aviões do tipo MAX. As ações da companhia caíram 9% desde o acidente.

A Boeing garante que o modelo de avião, cujo principal ativo é a otimização do gasto de combustível, é seguro. A empresa, no entanto, decidiu apoiar a decisão da Administração de Aviação Federal dos EUA de manter todos as aeronaves sob suspeita em solo.

O MCAS foi especialmente projetado para o modelo 737 MAX, como forma de corrigir uma anomalia aerodinâmica relacionada a um motor mais pesado. Em uma instrução para tripulações em 6 de novembro, a Boeing explicou que um erro da sonda que mede o ângulo de ataque da aeronave poderia levar o MCAS a colocá-la em posição "em queda livre". O relatório preliminar do acidente deve ser divulgado nos próximos dias.

Conduta dos pilotos

A fabricante trabalha para aprimorar o modelo desde o acidente da Lion Air, cujo relatório só deve ser divulgado entre julho e agosto. Nenhuma evidência conclusiva, até o momento, relaciona os dois incidentes. Ontem, 4, após a divulgação do relatório preliminar, a Boeing reiterou que os pilotos da Ethiopian Airlines agiram corretamente, conforme as instruções que receberam, e prometeu revisar toda a tecnologia de controle de voo em suas produções. Na véspera, a companhia anunciou que havia testado com sucesso uma atualização do sistema MCAS.

O chefe-executivo da Ethiopian Airlines, Tewolde GebreMariam, ressaltou em comunicado que estava "muito orgulhoso" da conduta dos pilotos. Elogiou a "performance de alto nível profissional", mas lamentou que os dois não tenham conseguido recuperar o controle da aeronave dada a "persistência" de o avião embicar para baixo. Os trabalho de testes de DNA para identificar restos mortais de vítimas da tragédia pode levar até seis meses.

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