Artigo

Bandeira e obrigação

José Ewerton Neto, autor de “O ABC bem humorado de São Luís”. ewerton.neto@hotmail.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Semana passada o Sr. Rêgo Barros, porta-voz da presidência, mandou um recado à Nação: "Gostaria muito que toda a sociedade tivesse a disponibilidade e o patriotismo de prostrar-se diante da Bandeira Brasileira ao menos uma vez por semana para caracterizar, por meio desse gesto, o seu apreço à soberania que essa bandeira representa..."

Tendemos entender. Quer dizer então não basta mais cantar o hino nacional em tudo que é jogo de futebol? Pelo visto a Nação carece de obrigações patrióticas mais contundentes, mesmo que sejam só na aparência ou para inglês ver, como se dizia no passado. Enfim, não basta para um legítimo patriota ser um cidadão honesto, digno e cumpridor de seus deveres, tem a obrigação de se prostrar uma vez por semana diante da Bandeira. (Observe-se que o porta-voz não usou o termo postar, que significa se posicionar diante de algo ou alguém, mas de prostrar-se, o que tem alguns tons a mais de submissão, subserviência e tange a adoração).

Esqueçamo-nos da sábia frase de H.L.Mencken que diz que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” (como todo mundo sabe é no patriotismo de araque que os administradores hipócritas escondem o oportunismo e a desfaçatez). Ignoremos isso e entendamos que houve um apelo, possivelmente bem intencionado, para que nós, cidadãos brasileiros, mantenhamos o amor à pátria nesses dias difíceis. Ora, o verdadeiro patriotismo, de que o país se ressente, é que todo cidadão procure ser honesto, íntegro e correto. Não custa, porém, mais uma demonstração de reverência a um respeitável símbolo nacional.

Partamos, pois, para o atendimento à solicitação do ministro, sobrepondo seu desejo aos potenciais obstáculos:

1.Onde encontrar a bandeira?

Essa é a primeira dificuldade incontornável. A maior parte da população nacional nunca viu uma bandeira tremulando em local adequado. Onde descobri-la? No açougue, na feira, nos ônibus ou nos postes dos subúrbios? Em vista dessa dificuldade, um amigo ofereceu a sugestão de que o Governo distribua, a todo brasileiro, camisas com a estampa da bandeira nacional. Isso traria duas vantagens: primeiro, a de vestir o pobre, que normalmente só tem uma peça, fazendo com que este já acorde saudando a bandeira nacional, querendo ou não. A segunda é que já a guardaria para a próxima Copa do Mundo.

2.Na hipótese desta sugestão ser inviável por dispendiosa para os cofres públicos, restaria uma alternativa, certamente mais solene e talvez mais apropriada. Como o porta-voz exigiu prostração, e esse ato está muito perto daquele de ajoelhar-se, fazer reverência, orar etc. nada melhor do que exigir de cada cidadão uma oração cotidiana à Bandeira Nacional, para a qual se adaptaria o Padre Nosso – para facilitar o aprendizado. Como por exemplo:

“Bandeira brasileira que estás tremulando no céu. Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino e seja feita a vontade de Bolsonaro assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos (porque somos obrigados a isso) os políticos corruptos que nos levaram tudo. Mas não nos deixeis cair na tentação de mandà-los à PQP, mas livrai-nos do mal. Amém.”

Quem sabe assim o milagre aconteceria. E todos seriam felizes para sempre.

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