Arquivamento

Após sete anos, morte de Décio Sá gera crise na segurança pública

Delegado Thiago Bardal denuncia o secretário Jefferson Portela por ter mandado arquivar reabertura do inquérito sobre crime, recomendada pelo Ministério Público

Ismael Araújo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

SÃO LUÍS - No próximo dia 23 de abril vai fazer sete anos do assassinato do blogueiro e repórter da editoria de Política do O Estado, Décio Sá, mas ainda suscita questionamentos sobre as circunstâncias do crime. Até o momento pessoas apontadas pela polícia como suspeitos não foram julgadas. O jornalista foi morto a tiros em um bar da avenida Litorânea, em abril de 2012.

O delegado e ex-superintendente estadual de Investigações Criminais (Seic), Thiago Bardal, que está preso desde novembro do ano passado, acusado de ser um dos mentores de um esquema criminoso que repassava informações privilegiadas de operações da Polícia Civil para criminosos e extorquir organizações interestaduais especializadas em roubo a instituições financeiras, revelou, ao juiz José de Ribamar D’Oliveira, em audiência de instrução e julgamento na 2ª Vara Criminal de São Luís, no último dia 12, que o secretário estadual de Segurança Pública, delegado Jefferson Portela, mandou arquivar uma representação que resultaria em uma investigação mais aprofundada sobre a morte de Décio Sá e poderia chegar a outros possíveis co-autores.

A denúncia feita pelo delegado está circulando em um vídeo na internet. Na gravação, Bardal afirma que Portela queria evitar a promoção gratuita do parlamentar Raimundo Cutrim, já que autoria da representação era do ex-deputado estadual. “Isso aqui é uma representação que o Cutrim fez, na época deputado, para reabertura do caso Décio Sá, e lá nessa representação, o deputado mostrava falhas na investigação e vários supostos co-autores que não chegaram”, disse Bardal.

Segundo ele, Jefferson Portela pegou a pastinha que veio da Procuradoria [Geral de Justiça] e falou: “isso aqui você vai levar pra Seic e vai engavetar. Aí eu falei porque doutor? Porque nós estamos em ano de eleição, vai chegar eleição e Cutrim só quer isso para aparecer, se a gente conseguir chegar em nome de outras pessoas realmente, o nome do Cutrim é que vai pra cima e ele vai se reeleger”, explicou o delegado.

Ainda na sexta-feira, 29, Jefferson Portela concedeu entrevista à Rádio Mirante AM e denominou o delegado Thiago Bardal como “pombo sujo”. Ele afirmou, ainda, que não mandou que arquivasse nenhuma representação e exigiu que Bardal apurasse uma voz, que estava gravada em um cd, em que dizia nomes de possíveis autores da morte do jornalista Décio Sá e teria sido solicitado pela Procuradoria Geral de Justiça. “O ex-deputado Raimundo Cutrim entregou um cd para a Procuradoria Geral e tratava sobre a morte de Décio Sá e o Icrim iria periciar esse material”, disse Portela.

O secretário negou, também, que tenha mandado Bardal investigar desembargadores do Tribunal de Justiça do Maranhão.

Caso Décio

A morte de Décio Sá foi motivada, segundo a polícia, por denúncias de casos de agiotagem no Maranhão, feitas pelo jornalista em seu blog. As investigações apontaram que os envolvidos nesse crime faziam parte de uma quadrilha de agiotas, que emprestava dinheiro para financiar campanhas de candidatos a prefeito que pagavam a dívida após assumirem o cargo, com dinheiro público.

O assassinato do jornalista levou as investigações da Polícia Civil do Maranhão e da Polícia Federal a encontrarem ligação de pelo menos 41 prefeituras maranhenses, no período de 2009 a 2012. Até o momento apenas Jhonatan de Souza Silva e Marcos Bruno de Oliveira foram julgados e condenados, mas os mandantes desse crime, José Alencar Miranda, Gláucio Alencar Pontes de Carvalho e José Raimundo Sales Chaves Júnior não foram julgados e aguardam em liberdade.

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