Vida Ciência

Dois gênios da Humanidade: Marie Curie e Malala

Ao apresentar o exemplo dessas mulheres, para o desenvolvimento da ciência e da educação, esperamos não só informar, mas, sobretudo, despertar interesse e admiração sobre elas

Antonio José Silva Oliveira / físico, doutor em Física Atômica e Molecular, pós-doutor em Jornalismo Científico. Professor da UFMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Neste mês, vamos dar ênfase aos trabalhos de duas mulheres e, com isso, homenagear todas neste março de 2019. Nós formamos a sociedade que precisa de pessoas heróicas para definir os limites de nossas aspirações e possibilidades. Assim, ao apresentar o exemplo dessas mulheres, para o desenvolvimento da ciência e da educação, esperamos não só informar, mas, sobretudo, despertar interesse e admiração sobre elas, e que possam ser exemplos de uma nova geração de cientistas.

O artigo é assinado pelo consultor científico desta página e pela pesquisadora Marla Medeiros. Ela possui graduação em Comunicação Social, pela Universidade Federal do Maranhão, habilitação Jornalismo e mestrado em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de São Paulo, com linha de pesquisa: Processos comunicacionais.

[e-s001]Curie
Marya Sklodowska, uma polonesa pobre que desenvolveu seu trabalho de pesquisa experimental em uma França xenofóbica, chegou a ser reconhecida ao receber dois Prêmios Nobel, o de Física, em 1903, e o de Química, em 1911.
Ela foi estudar na França pelo fato da impossibilidade de mulheres terem acesso à educação superior na Polônia, fato imposto pelas autoridades russas. Na época, o Estado polonês, mesmo independente, era subordinado ao império russo.
Para realizar seus estudos na França, ela recebeu uma bolsa de estudos oferecida a jovens e mulheres para realizar pesquisas em ciências exatas e matemática na Faculté de Sciences da Universidade de Paris, Sorbonne, concluindo seus estudos em 1883, sendo mais tarde a primeira mulher a lecionar em Sorbonne.

Marya conheceu o professor de Física, Pierre Curie, com quem casou-se, passando, então, a ser chamada de Marie Curie. Em 1896, o cientista Antoine Henri Becquerel incentivou o casal Curie a estudar as radiações por ele descobertas, emitidas pelos sais de urânio.

As pesquisas realizadas por Marie resultaram na descoberta de dois novos elementos químicos: o Polônio, que ganhou este nome em homenagem ao país natal dela, e o Rádio. A pesquisa do casal Curie abriu um novo caminho a ser explorado na pesquisa científica e médica, levando muitos cientistas da época a estudar o assunto.

Ciente de sua função social como pesquisadora, Marie Curie transformou seu Laboratório em um centro de formação, para auxiliar o esforço humanitário na 1ª guerra mundial, formando 150 enfermeiras radiologistas.
Marie era totalmente independente e tinha em sua mente que o amor, o casamento e filhos eram colocados em segundo plano, bem como uma situação financeira privilegiada. Tinha em mente voltar para a Polônia para exercer a cátedra sendo útil ao seu país.

Pelo fato de ser mulher não foi aceita na Universidade de Cracóvia e teve que se autoexilar na França para a continuação de seus estudos. Uma frase do Físico Alberto Einstein define muito bem seu caráter: “Maria Curie é, de todos os seres, o único que a fama não corrompeu”.

Quando da notícia da outorga do prêmio Nobel de Química em 1911, pela descoberta dos elementos químicos Polônio e Rádio, inicialmente, ela o recusou, pelo fato de não constar o nome do seu marido Pierre Curie. Após insistência da família
de Pierre e pelo fato que o prêmio Nobel só premia cientista em vida, resolveu, então, aceitar. Pierre Lucie faleceu em 1906.

Marie Curie morreu em 1934, de leucemia, devido, seguramente, à exposição maciça a radiações durante o seu trabalho. Em 1995, seus restos mortais foram transladados para o Pantheon de Paris, tornando-se a primeira e única mulher a ser sepultada nesse local. Sua filha mais velha, Irène Joliot-Curie, recebeu o Nobel de Química de 1935, ano seguinte à morte de Marie.

[e-s001]Malala
Malala Yousafai é uma ativista paquistanesa que atua na luta pelo direito à educação formal de mulheres. Ela sabe que seus desafios são imensamente complexos quando se entende a cultura a qual essas mulheres estão subjugadas. Historicamente, mulheres muçulmanas desempenham um papel limitado na estrutura cultural e social no oriente, pois, se limitam a dever obediência aos maridos e à criação de filhos, cuja missão é transmitir os valores religiosos que, na crença muçulmana, se confundem com valores sociais.

Esses fatos dão ainda mais importância a causa de Malala, pois ela sabe que está lutando por uma mudança de mentalidade, já que grande parte das mulheres muçulmanas encontram-se completamente confortáveis com as condições de vida as quais estão inseridas. Tendo em vista que ser um “produto” pelo qual o marido pagou um dote em ouro ou dinheiro é um orgulho e uma condição normal para a maioria das mulheres muçulmanas. Cabe mencionar que vi de perto tal situação por ter vivido muitos anos fora do país e ter conhecido o universo da cultura muçulmana bem de perto.

Portanto, a causa de Malala é paradigmática. E voltada, principalmente para aquela minoria que vai na contramão de sua própria cultura e que, por causa disso, luta para que sejam reconhecidas suas necessidades por educação formal.
Sabemos que é uma luta muito mais sob o olhar do mundo ocidental para oportunizar a essas mulheres a educação, ou seja, liberdade de pensamento e capacidade de transformação das realidades.

Existem milhares de mulheres sendo escravizadas, mutiladas e essa violência se legitima por traz de valores religiosos radicais. A jovem Malala precisou ser quase morta com uma bala na cabeça para que o mundo ocidental se desse conta que esta causa é responsabilidade, um pouco, de todos nós que não podemos ficar assistindo massacres humanitários a mulheres e homens em nome do fundamentalismo religioso.

Mas, se a luta de relações de poder entre homens e mulheres no mundo ocidental ainda é uma causa de forte conflito, imagine no mundo oriental muçulmano, onde as mentalidades beiram ainda a barbárie no que se refere a direitos para as mulheres.

Portanto, falar de relações de poder entre homens e mulheres é um discurso ocidental de quem está de fora e desconhece as idiossincrasias do mundo muçulmano onde inexistem relações de poder entre homens e mulheres, porque apenas um poder prevalece: o dos homens.

Desta forma, é importantíssimo termos um olhar de respeito e orgulho pela causa que a jovem Malala designou para sua vida. Ela incansavelmente luta por um direito inafiançável que é o direito à educação formal de mulheres, mas, sobretudo, o grande valor da sua luta está em dar voz a quem procura por uma condição de existência livre da violência física, simbólica e cultural a qual estão condicionadas por séculos de existência.

[e-s001]Quantas Marie, Malala - e porque não Mariele? - estão por este mundo afora dignificando a pesquisa científica, a educação e a política!

A história oficial vai contar, mas, sobretudo, a força da história não oficial vai mostrar a diferença que as mulheres estão construindo neste novo século.

O que menos importa para essas mulheres é o sentimento de heroísmo atribuído aos seus feitos. E essa retórica se encaixa a qualquer mulher que, pelo mundo afora, dignifica sua existência.

Não são lutas fáceis e nem rápidas, mas é fato que mulheres têm o poder do conhecimento, o poder do discernimento para diálogos impossíveis, e isso está transformando as mentalidades que as mulheres têm sobre elas mesmas, e consequentemente transformando o mundo que é de todos nós, seres humanos.

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