Maria Clara Balby - Jogadora de Futebol 7

A menina que driblou preconceitos no futebol

Ela, que foi impedida de se inscrever em campeonato por falta de equipes femininas e garantiu vaga em time masculino após fazer vídeo que viralizou na internet, estreará neste sábado (23)

Marcio Henrique Sales / O ESTADO DO MA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Maria Clara Balby é a primeira menina a jogar o campeonato estadual da modalidade Futebol 7
Maria Clara Balby é a primeira menina a jogar o campeonato estadual da modalidade Futebol 7

SÃO LUÍS - Chuteira amarrada, meião levantado e laço preso atrás da cabeça. Um novo toque na bola está prestes a aparecer nas categorias de base do Futebol 7 do Maranhão. Quando a equipe sub-11 da Escolinha do Santos Meninos da Vila entrar em quadra, Maria Clara Balby estará entre os atletas. Mas não foi tão fácil. Maria, como é conhecida, enfrentou uma queda de braço com a Federação Maranhense de Futebol 7 (FMAF 7) para se tornar a primeira menina a integrar o campeonato estadual da modalidade. Agora, o tratamento dado a ela é o mesmo de qualquer jogador da idade. A garota de 10 anos conquistou espaço na sua equipe com as próprias pernas e muito talento.

A equipe do Meninos da Vila estreia diante do Grêmio Ribamarense, neste sábado (22), às 10h, no AED Eventos, na Chácara Brasil, Turu, pela primeira rodada do Campeonato Maranhense de Futebol 7.

“Espero fazer um bom jogo e estrear com vitória, para que possamos ser campeões da competição”, declarou.

Natural do Rio de Janeiro, a menina começou a jogar bola ainda pequenina. O dom e o incentivo dos pais fez com que começasse a praticar futsal na escola. Porém, a participação em competições exclusivamente de garotos não ocorreu naturalmente. Após tentar participar do Campeonato Maranhense Sub-11 de Futebol 7 e ter sua inscrição negada por a competição não ter reunido o número mínimo de equipes femininas, ela gravou um vídeo na sua rede social que viralizou e chegou a ter mais de 28 mil curtidas.

“Ao saber que não poderia participar da competição, eu não gostei, fiquei muito chateada e quando cheguei em casa gravei um vídeo, mas não esperava que ele fosse ter tanta repercussão assim. Teve até uma menina na Espanha que me deu apoio e passou a ser minha amiga”, disse.

Jogadora fez apelo nas redes sociais e vídeo viralizou
Jogadora fez apelo nas redes sociais e vídeo viralizou
Nunca imaginei que a repercussão seria tão grande na internet”

Portas abertas
Os pedidos dos internautas para que Maria pudesse jogar a competição pelo time masculino da sua escolinha fizeram a FMAF 7 abrir as portas para a menina. “A Federação Maranhense de Futebol 7 teve que se filiar a outra Confederação que aceita em suas competições times formados por meninos e meninas nas categorias de base e pude realizar o meu sonho de disputar uma competição oficial”, explicou.

Após conquistar o objetivo, Maria fez apenas o que sabe de melhor. Com a espontaneidade infantil, driblou preconceitos e deixou barreiras no chão. “Teve uma vez aqui na minha própria escolinha, que eu fui jogar no time dos meninos e um garoto ficou zoando meu time. Os meus amigos não gostaram e foram tomar satisfações com ele. Eu disse para eles para a gente resolver em campo. Nós jogamos e ganhamos. Com isso, o garoto passou a me respeitar”, lembrou.

Maria mostra determinação e disse que pretende conquistar o título do Campeonato Maranhense de Futebol 7. “Em casa, eu tenho muitas medalhas, mas a maioria por participação. As outras são de torneios com apenas quatro times. Agora, terei a chance real de conquistar uma medalha em uma competição oficial. E vou ser campeã”, afirmou, determinada.

Não gostei muito de não me deixarem jogar”

Habilidade

Maria, que joga de zagueira central, tem como ídolo no futebol uma jogadora que atua em outra posição. “A Marta é incrível, por tudo o que ela conquistou, pela sua habilidade, e tudo o que teve de superar para chegar onde chegou. Um dia, espero poder jogar na Seleção Brasileira de Futebol como ela”, disse.

Entre os destaques masculinos no futebol, Maria se divide entre o talento e o time do coração, o Fluminense. “Sou fã do Thiago Silva e do Pedro, por causa do Fluminense, mas também gosto muito no Neymar e do Philippe Coutinho. Acho que eles são muito bons jogadores”, disse.

A paixão de Maria pelo futebol começou com pai, Mayrthon Balby, torcedor fanático do Fluminense. “As minhas primeiras lembranças no futebol são do meu pai me levando para playground, e a gente jogava futebol, e eu brincava com outras crianças de futebol. Costumava ir ao Maracanã para assistir aos jogos do Fluminense com meu pai e meu padrinho”, recordou.

Apesar do amor ao Fluminense, a menina escolheu jogar na Escolinha Santos Meninos da Vila, e quem sabe um dia se torne uma das “Sereias da Vila” (apelido das jogadoras do time de futebol feminino do Santos). “Estava cansada de treinar futsal na escola e decidi procurar uma escolinha de futebol. Como aqui não tem do Fluminense, procurei uma que melhor me acolhesse, que foi a Escolinha Santos Meninos da Vila. No futuro, quem sabe, possa ser uma das Sereias do santos. Estou treinando para isso”, comentou.

Quanto a jogar em um time fora do Brasil, Maria disse que prefere não pensar nisso, por enquanto. “Sei que tem muito time bom na Europa, principalmente na Espanha, onde joga a minha amiga, mas, por enquanto, prefiro pensar aqui no Maranhão mesmo”, ponderou.

Sou torcedora do Fluminense e acompanho todos os jogos na TV”
Atleta Maria Clara, aos 10 anos, é fã da atacante Marta
Atleta Maria Clara, aos 10 anos, é fã da atacante Marta

Família e treinador afinados

O incentivo da prática do futebol não veio apenas do pai, mas da mãe, Priscila Balby, que acompanha a menina em todos os treinos e jogos. “Lá em casa só se respira futebol. A casa tem bola e camisa de time para todos os lados. Quem costuma trazê-la para os treinos sou eu e estou na torcida em todos os jogos”, declarou a mãe da jogadora.

O treinador de Maria, Leonardo Henrique, elogiou muita a iniciativa da sua atleta e contou que ela ainda está em fase de desenvolvimento. “Achei muito louvável o gesto dela, porque abre espaço para outras meninas que queiram participar de competições nessa idade. Eu mesmo vivenciei um caso desse quando treinava futebol e tinha uma garota em nossa equipe e as pessoas não queriam deixá-la jogar por preconceito e fui contra”.

Ele acrescentou que essa é uma realidade comum em diversos lugares. “Em outros países, meninos e meninas só são separados aos 15 anos, quando já estão com formação física quase definida. Por enquanto, por Maria está nessa idade (10 anos) de desenvolvimento. Os treinamentos têm que ser focados em atividades locomotivas e definição de lateralidade (qual mão e pé ela escolherá como preferencial). As crianças têm que jogar em todas as posições para definir em qual é melhor. Ela já está bem avançada, já definiu que é destra e quer jogar como zagueira. Ela joga muito bem nessa posição porque ela tem um excelente tempo de bola e no desarme por cima”, comentou o treinador Leonardo Henrique.

Eu venço o preconceito é jogando e ganhando dos adversários”

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