Indústria

Indústria mundial tem desaceleração, aponta relatório

Performance da indústria mundial já era bastante superior à da indústria brasileira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

São Paulo

A indústria brasileira não foi a única a perder dinamismo em 2018. Segundo o último relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), recentemente divulgado, a indústria de transformação mundial também pisou no freio, em função do desempenho dos países desenvolvidos e principalmente dos emergentes.

A diferença é que a performance da indústria mundial já era bastante superior à da indústria brasileira e sua desaceleração no quarto trimestre de 2018 não foi capaz de retirar o sinal positivo de seu resultado. Já no Brasil, ao contrário, o setor voltou ao vermelho no último quarto do ano e assim permaneceu em janeiro de 2019. Ou seja, nosso quadro industrial é ainda mais grave do que no restante do mundo.

Como resultado, o levantamento realizado pelo IEDI com 45 países, com dados acumulados em 2018, mostra que a indústria brasileira perdeu cinco posições em relação a 2017, passando da 29ª para a 34ª colocação do ranking.

Segundo os dados da UNIDO, no 4º trimestre de 2018 a produção manufatureira no mundo assinalou variação positiva de +2,4% frente ao mesmo trimestre de 2017, com ajuste sazonal. Este ritmo foi o mais fraco de todos os trimestres do ano, como mostram as variações interanuais abaixo, dando continuidade a um movimento de desaceleração que teve início na segunda metade de 2017.

Nos países industrializados, a variação trimestral da produção industrial diminuiu de +2,9% em jan-mar/18 para +1,1% no último trimestre do ano. Este resultado de out-dez/18 foi condicionado pela contração (-0,5%) da indústria europeia (notadamente Alemanha, Itália, França e Espanha) e pelo enfraquecimento do setor na América do Norte (+2,7%).

Desenvolvimento

Nas economias em desenvolvimento e emergentes exceto China, a desaceleração se acentuou ainda mais e chegou a uma expansão de mero +0,5% no 4º trimestre, depois de ter registrado alta de +4,8% no 1º trimestre do ano passado. Isso se deu sobretudo em função da retração de -1,2% da indústria latino-americana, sob influência do Brasil e da Argentina.

A China, por sua vez, manteve o ritmo elevado de crescimento, registrando alta na produção industrial de +6,0%, mesma variação alcançada no trimestre anterior. Cabe destacar que nos primeiros dois trimestres do ano, a indústria chinesa registrou altas de 6,3% e 6,4%.

Analisada a partir do desempenho de seus ramos, a parcela da indústria mundial a registrar maior enfraquecimento no final de 2018 foi, segundo os dados da UNIDO, o grupamento de média-alta e alta intensidade tecnológica, especialmente devido aos impactos negativos da indústria automobilística da Alemanha.

Por sua vez, os setores de média-baixa tecnologia desafiaram a desaceleração da produção global e cresceram +3,1% no 4º trimestre de 2018 frente ao mesmo trimestre de 2017, com ajuste. Este resultado deve-se especialmente ao desempenho da produção de metais básicos na China e nos EUA.

A indústria de transformação mundial no quarto trimestre de 2018. De acordo com o relatório trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), no quarto trimestre de 2018 o crescimento da produção manufatureira mundial desacelerou mais uma vez devido, às incertezas geopolíticas e tensões entre os Estados Unidos (EUA), União Europeia e China a respeito do comércio e tarifas.

Em relação ao mesmo período do ano anterior, a produção da indústria de transformação cresceu 2,4% no último trimestre de 2018, visto que nesta mesma comparação, os dados revisados mostraram alta de 3,1% no terceiro trimestre. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, o aumento foi de apenas 0,5% em outubro-dezembro de 2018. Observa-se uma desaceleração da produção industrial desde a segunda metade de 2017, tanto em países industrializados quanto em desenvolvimento e emergentes.

Nas nações industrializadas, a taxa de variação da produção de manufaturas, apesar de positiva, vem perdendo força ao longo de 2018: de 2,9% em janeiro-março, 2,6% em abril-junho, 1,7% em julho-setembro para 1,1% no último trimestre do ano em comparação a igual período de 2017.

Emergentes

Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, a desaceleração foi ainda mais intensa. O último trimestre de 2018 apontou crescimento de apenas 0,5%, visto que o resultado do terceiro trimestre havia sido uma alta de 2,7%. Na China, a produção manufatureira registrou estabilidade em outubro-dezembro de 2018 frente ao mesmo trimestre de 2017, após leve desaceleração no trimestre anterior (6,3%, 6,4%, 6,0% e 6,0%).

Desempenho da manufatura nas economias industrializadas. Apesar de a variação da produção industrial das economias industrializadas permanecer positiva, pode-se notar uma visível redução ao longo de 2018. O menor ritmo de expansão da indústria de transformação desse grupo de países se deveu principalmente à desaceleração nos países da América do Norte e à retração nas economias industrializadas europeias, que assinalaram, respectivamente, variação de 2,7% e -0,5% no quarto trimestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior. Por outro lado, os países industrializados do Leste Asiático registraram aceleração da produção de manufaturas, passando de 0,7% para 1,3% do terceiro para o quarto trimestre de 2018, na mesma base de comparação.

A expansão da indústria das economias desenvolvidas do Leste Asiático deveu-se ao avanço da indústria japonesa de 0,7% frente ao mesmo período de 2017. Os demais países do grupo também registraram crescimento da produção manufatureira: Hong Kong, 0,8%; Coréia, 1,3%; Taiwan 3,0%; Malásia, 4,5% e Singapura, 4,7%. Apesar da melhora nos dados da indústria asiática no último trimestre, cabe destacar que essas econômicas export oriented continuam sensíveis as mudanças na demanda global por seus produtos.

O crescimento de 2,7% da produção na América do Norte, apesar de significativa, foi inferior à variação registrada no trimestre anterior (3,5%). Esse resultado foi puxado pela indústria estadunidense, com variação de 2,8% e a indústria canadense, que assinalou variação positiva de 1,7%

Na Europa, a produção manufatureira registrou uma intensa desaceleração nos trimestres de 2018, com uma retração de 0,5% no período de outubro-dezembro frente ao mesmo período de 2017. Esse resultado se deu em função do recuo da indústria de algumas das maiores economias da zona do Euro, como Alemanha (-2,5%), Itália (-2,2%), Espanha (-1,6%) e França (-1,4%), puxadas pela queda de produção do setor automotivo.

Fora da zona do Euro, o Reino Unido assinalou queda na produção de manufaturas (-1,4%), associada ao ambiente de incerteza em relação ao Brexit. Por outro lado, os destaques positivos foram: Dinamarca (8,9%), Hungria (4,1%), República Tcheca (2,2%) e Suécia (2,1%). Dentre os países não integrantes da União Européia, a Suíça destacou-se registrando um crescimento de 5,5%, seguida pela Noruega (2,7%) e Rússia (2,0%).

Desempenho da manufatura nas economias em desenvolvimento. A indústria de transformação chinesa registrou trajetória estável no trimestre entre outubro e dezembro de 2018, registrando crescimento de 6,0%, relativamente ao quarto trimestre de 2017. Os setores que apresentam melhor desempenho na mesma base de comparação foram: eletrônicos e computadores (11,9%), metais básicos (10,0%) e máquinas e equipamentos (8,4%). Entretanto, especialistas apontam para os riscos ligados ao aumento de custos e dificuldades das empresas devido às tensões comerciais.

O crescimento da produção manufatureira nas demais economias em desenvolvimento da Ásia tem se mantido acima da média dos países do grupo, assinalando +2,5% no quarto trimestre de 2018 relativamente a igual período de 2017. Os países que mais contribuíram para esse resultado foram: Índia (2,9%), Indonésia (3,1%) e Arábia Saudita (3,4%).

A indústria de transformação latino-americana manteve ritmo fraco de crescimento e apresenta um quadro muito diverso em vista das perspectivas de turbulências e incertezas em alguns dos países da região. Em outubro-dezembro de 2018, a produção dos países da região recuou 1,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, já descontados os efeitos sazonais, devido à queda na produção industrial brasileira (-2,8%) e da Argentina (-11,5%). Cabe destacar que a produção industrial argentina reflete a contração em todos os setores, devido a uma depreciação do peso e altas taxas de juros. Por outro lado, apontaram elevação na produção de manufaturas México (1,1%), Colômbia (2,5%), Chile (0,8%) e Peru (7,4%).

Crescimento

As economias emergentes da África, por sua vez, registraram crescimento da produção de manufaturas de 2,1% no quarto trimestre de 2018, devido principalmente ao fraco desempenho da indústria de transformação da África do Sul (1,1%). A indústria de transformação das economias em desenvolvimento do Leste Europeu, pela primeira vez desde a crise econômica de 2007-2009 registrou variação negativa. A queda de 2,3% no quarto trimestre de 2018 frente ao mesmo período do ano anterior ocorreu, em grande parte, pela queda da produção da indústria da Turquia (-7,6%). Por outro lado, Albânia, Macedônia, Chipre, Letônia e Polônia registraram altas acima de 3,5%.

Resultados setoriais. Analisando-se os grupos de intensidade tecnológica, percebe-se que as indústrias de média tecnologia, incluindo minerais não metálicos, desafiaram a desaceleração da produção global e cresceram 3,1% no quarto trimestre de 2018 frente ao mesmo trimestre de 2017, com ajuste. Este resultado deve-se especialmente ao desempenho da produção de metais básicos na China (+10,0%) e nos EUA (+6,3%).

As indústrias de alta e média alta intensidade tecnológica, por sua vez, registraram outra desaceleração no período entre outubro-dezembro de 2018 comparado ao mesmo período de 2017. De acordo com a UNIDO, o menor ritmo de crescimento da produção de manufaturas de média-alta e alta intensidade tecnológicas teve origem principalmente no desempenho da indústria automobilística da Alemanha.

Neste grupo de setores, no quarto trimestre de 2018 destacaram-se positivamente a indústria de produtos farmacêuticos (4,7%), produtos químicos (1,5%), equipamentos de escritório e computadores (6,7%) e máquinas e equipamentos (3,5%).

Ranking da Indústria Mundial. A partir dos dados coletados pela OCDE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 45 países para o acumulado de 2018. Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.

Em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2018 para alguns casos considera um período menor, porém, para a maioria dos países, o período de referência é janeiro-dezembro.

O dinamismo da indústria geral do Brasil no acumulado de 2018 foi modesto, chegando a +1,1%, depois de ter atingido +2,5% no acumulado dos doze meses de 2017. Com esse resultado, o Brasil perdeu cinco posições no ranking industrial do setor, indo da 29ª posição para a 34ª.

Mesmo com resultado inferior ao ano anterior, o Brasil ainda se manteve à frente de países como Japão (0,9%), Reino Unido (0,7%), Itália (0,7%), França (0,7%) e Espanha (0,3%). Dentre os países com melhor desempenho que o Brasil, podemos destacar: China (6,2%), Índia (5,1%), EUA (4,0%), Coréia do Sul (1,4%) e Alemanha (1,2%).

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