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A atenção primária é a saúde do futuro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

O atual cenário da saúde é desafiador. Com a maior expectativa de vida, fruto do avanço da medicina, o envelhecimento da população exigirá, naturalmente, o uso de mais serviços, aumentando, sobremaneira, as despesas e a capacidade de financiamento do setor, além de pressionar os sistemas público e privado de saúde. Diante disso, como equacionar despesas sem deixar de lado os investimentos em tecnologia?

A resposta pode estar em três diferentes caminhos: o resgate do atendimento primário resolutivo e eficaz com a coordenação do cuidado, a mudança do modelo de remuneração do sistema que possa premiar a produção de bons resultados assistenciais e a eficiência na medicina preventiva e na promoção da saúde com ações de gestão de saúde. Vale ressaltar que a tecnologia terá que ser a amalgama, tendo o papel de conectar todas essas ações.

Atualmente, não raro o paciente procura o serviço de atendimento médico apenas quando os sintomas da doença já são aparentes. Neste modelo de assistência, muitas vezes os beneficiários recorrem a centros hospitalares, como os prontos-socorros, para demandas básicas de saúde. Trata-se muitas vezes de um atendimento ineficaz para a baixa complexidade, caro e, geralmente, realizado por um profissional que não conhece o histórico clínico do paciente e que não acompanhará a evolução do tratamento.

Espera-se que, no futuro próximo, seja possível hierarquizar melhor o sistema, priorizando a atenção básica e disponibilizando o acesso por meio de centros especializados quando necessário. E, em uma rede integrada, o ideal é que haja a coordenação do cuidado, com um médico de referência apoiando o beneficiário na adesão do tratamento, em conjunto com demais especialistas. Para isso, o uso do prontuário eletrônico, por exemplo, torna o atendimento mais completo, ao facilitar o acesso dos médicos ao histórico do paciente e aos resultados de exames, promovendo o gerenciamento dos fatores de riscos.

A relação médico e paciente deve se tornar, cada vez mais, direta e colaborativa, pois, munidos de informações mais assertivas, todos podem acompanhar a evolução e atuar quando os resultados não forem satisfatórios. Desta forma, também conseguimos apurar a maior racionalização dos custos em relação à realização de exames desnecessários e a utilização mais precisa de especialidades médicas, ao mesmo tempo em que deve crescer o índice de satisfação e fidelização do beneficiário.

Já sobre o modelo de remuneração, sempre apontado como um dos grandes males do sistema, precisaremos de saltos de evolução no futuro. O atual modelo, conhecido como fee-for-service, não premia a produção do resultado assistencial e não gera estímulo à eficiência, na medida em que quanto maior o uso, maior será o gasto, independentemente do resultado obtido. Nesse sentido, a tecnologia mais uma vez poderá nos ajudar na captura de dados de desfechos e da evolução do paciente, apoiando no desenvolvimento de novos modelos de incentivos a melhor produção assistencial.

A inteligência artificial bate na nossa porta e entendemos que ela não irá substituir o conhecimento humano, mas sim empoderá-lo. Adicionalmente, a tecnologia, materializada por “gadgets” e aplicativos, terá um papel fundamental para nos motivarmos e engajarmos em prol do combate aos inadequados hábitos de vida, como o sedentarismo e a má alimentação, e para promovermos mudanças de comportamentos.

O futuro do setor depende, portanto, de ações estratégicas que favoreçam a revisão do modelo assistencial atual para um outro que conte com ecossistema mais integrado, colaborativo e, consequentemente, sustentável e eficiente.


Flávio Bitter

Diretor-gerente da Bradesco Saúde e da Mediservice


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