Editorial

Cultura e o descaso da gestão pública

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

Na semana passada, artistas e produtores culturais manifestaram indignação com a decisão do Governo do Estado do Maranhão de transformar o prédio onde está instalado o Museu de Artes Visuais do Maranhão em sede da Secretaria de Turismo. A decisão havia sido tomada de forma despótica, sem diálogo e consulta pública, exatamente igual como ocorreu na fusão da Secretaria de Turismo e Cultura em 2016, durante o primeiro mandato do governador Flávio Dino. Agora, reeleito, ele voltou atrás, sem admitir que não deu certo a experiência, desmembrou as pastas, como era antes do seu mandato.

Acerca do imbróglio do Museu, o protesto dos artistas evidenciou mais uma vez a falta de diálogo do governo sobre as ações culturais do estado e a ausência de um planejamento amplo da diversidade cultural do estado.

Diante da pressão da classe artística, o secretário de Cultura, Diego Galdino, anunciou em suas redes sociais, que o Museu permaneceria onde está, um sobrado do século XIX, localizado na Rua Portugal, recentemente reformado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan) e entregue ao Governo do Maranhão. Bem mais do que a estrutura física imponente, o museu guarda obras importantes dos séculos XIX e XX. No acervo, além de obras de grandes artistas maranhenses como Antônio Almeida, Dila, entre outros, o museu abriga peças de nomes como Tarsila Amaral e Alfredo Volpi, sendo um grande espaço para conhecimento das artes plásticas contemporâneas.

Esse recuo do Governo pode ser considerado uma vitória da classe artística maranhense que pressionou diante de uma decisão absurda e também expõe a falta de conhecimento da atual gestão pública diante das necessidades culturais do Maranhão. Cuidar dos aparelhos culturais do estado como a valorização dos museus, incluindo manutenção do acervo e estrutural, pode não trazer tanta visibilidade quanto chamar meia dúzia de artistas nacionais para animar o Carnaval, mas demonstra compromisso para com a preservação da história cultural.

O conhecimento do conceito de cultura é essencial para a gestão pública estabelecer estratégia para contemplar e valorizar a cultura maranhense em toda a sua abrangência. Nos últimos anos, além de realizar festas priorizando artistas nacionais para “bombar” nas redes sociais oficiais, a atual gestão pública da cultura estadual vive de retratação.

Para citar como exemplo dessa constante reparação de erros, em 2018 a programação do São João homenageou os grupos de bumba meu boi no sotaque Costa de Mão, uma importante manifestação que só foi lembrada para corrigir o equívoco do ano anterior, no qual os grupos pouco tiveram espaços na programação oficial. Talvez no Carnaval de 2020, a grande estrela seja o tambor de crioula, já que este ano, a manifestação Patrimônio Imaterial do Brasil e uma expressão importante das tradições maranhenses, teve sua participação restrita a apenas um ponto de apresentação na Madre Deus, deixando diversos grupos de fora da festa.

Fazer gestão cultural requer planejamento e estudo. Valorizar e gerar pertencimento cultural na população não é fácil e eventos pontuais não são suficientes para abranger a complexidade cultural de um estado tão rico como o Maranhão.


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