Especial

Tradição no esporte: quase seis décadas do Ginásio Costa Rodrigues

Além de ter recebido partidas dos Jogos Escolares Maranhenses, disputas de luta livre e competições, o ginásio foi investigado por órgãos de controle

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

[e-s001]Um palco que foi além do uso esportivo. Em alusão a um ex-gestor, o Ginásio Costa Rodrigues, inaugurado em meados de 1966, reuniu ao longo dos anos histórias e curiosidades que a tornaram referência na região central de São Luís e no estado do Maranhão. Além de ter recebido partidas dos Jogos Escolares Maranhenses, disputas de luta livre e competições em outras modalidades, como vôlei, basquete e outras, o ginásio também recebeu eventos religiosos e de comportamento e, mais recentemente, foi a casa de desamparados náufragos africanos que por aqui passaram. Também recentemente, o ginásio foi símbolo de investigação por órgãos de controle por suspeita de lesão aos recursos públicos com reforma executada.

Tudo começou quando o então governador do Maranhão, Newton Bello, demonstrou incômodo com a ausência de espaços para a prática do esporte na capital maranhense. Antes de receber as obras do ginásio, em meados da década de 1960, a área ocupada pelo Ginásio Costa Rodrigues, na Rua Celso Magalhães, Centro, era um “terreno baldio” vizinho ao então Liceu Maranhense. O local não era nem ao menos cercado.

Antes do terreno, de acordo com o professor Euges Lima, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), o Costa Rodrigues foi construído no espaço que remotamente era o chamado Campo de Ourique. Depois, passou a se chamar Parque Urbano Santos.

Durante as obras do Costa Rodrigues, operários se mobilizaram para fazer a entrega em tempo hábil. Não há preliminarmente informação sobre os valores reunidos para a construção do ginásio. No entanto, presume-se que “alto investimento” foi necessário, já que, para o período, tratava-se de uma das praças esportivas mais modernas, com status de ser comparada com ginásios do Nor­te-Nordeste do país.

O Estado conseguiu imagens raras do período das obras do Cos­ta Rodrigues. O registro, encontrado em “São Luís: Memória e Tempo”, do historiador e pesquisador Antônio Guimarães, mos­tra o ritmo incessante dos trabalhos. Com tijolos, cimento e outros materiais, é possível ver que a fachada estava praticamente concluída na imagem.

A entrega
Em ato solene, a entrega contou com a presença de autoridades e desportistas. Assim que foi finalizada a obra, a entrada do ginásio chamava a atenção. Com elementos distintos aos de hoje - sem as árvores por exemplo -, a entrada continha os dizeres de obra do escritor maranhense Gonçalves Dias. No trecho, de “Canção do Tamoio”, dizia: “A vida é combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar”.

O portão de ferro na entrada era baixo. Na imagem, também contida na obra “São Luís: Memória e Tempo”, é possível ver no canto direito a referência a uma cruzada de evangelização. Seria um dos primeiros eventos num dos “templos” do esporte maranhense.

LEIA TAMBÉM:

Das enterradas ao telecatch e as inesquecíveis disputas dos JEMs

O “dono do ginásio” - o homem que se apaixonou pela Política
Ex-estudante do Liceu Maranhen­se, no início da década de 1930, Antônio Costa Rodrigues foi aprovado no vestibular para a Faculdade de Medicina e Cirurgia de Belém do Pará, de acordo com pesquisa de Herbert de Jesus Santos. Em 1939, ao chegar à capital maranhense, foi nomeado che­­fe de um posto médico, em Pinheiro, pelo interventor à épo­ca, Paulo Ramos.

A atuação de Costa Rodrigues na unidade de saúde foi tão marcante que o mesmo interventor o alçou para o comando da prefeitura de Pinheiro, cargo ocupado por ele até 1945, com o fim do Estado Novo. Segundo o artigo “Cos­ta Rodrigues: um prefeito de verdade”, escrito por Benedito Buzar (presidente da Academia Maranhense de Letras), em O Estado em maio de 2015 (ano em que Costa Rodrigues completaria 100 anos), após ocupar o cargo, o dono do “nome do ginásio” ficou entusiasmado com a possibilidade de seguir a carreira e ingressou no Partido Proletário Brasileiro, a convite de Victorino Freire.

Era o primeiro passo para que Costa Rodrigues adquirisse legitimidade para disputar as eleições majoritárias e proporcionais no Maranhão, pós-ditadura. Em janeiro de 1947, ele candidata-se a deputado estadual nas eleições do referido ano e também participou ativamente dos trabalhos da Assembleia Constituinte do Estado.

No ano seguinte, Costa Rodrigues é convocado pelo governador para ocupar outra função importante: a de prefeito de São Luís. Ele ocupou o principal car­go municipal por dois anos e, de acordo com Benedito Buzar, realizou obras importantes da cidade e que até os dias atuais são vistas. Entre elas, a ampla reforma da Avenida Pedro II (quan­do, à época, foi instalada uma fonte luminosa) e o viaduto para dar acesso à Av. Beira-Mar.

Além dessas obras que viabilizaram avanços na trafegabilidade da cidade, o Mercado Central também passou por melhorias. Outros serviços foram o asfaltamento da estrada do Olho d’Água, a ampliação do serviço de limpeza pública e o calçamento das ruas da cidade.

[e-s001]Estes serviços, que marcaram a vida e o cotidiano dos ludovicenses deram ainda mais prestígio para Costa Rodrigues. No início da década de 1950, ele concorreu à Câmara dos Deputados. Apesar do bom momento, ele não foi eleito. Quatro anos mais tarde, novamente Costa Rodrigues colocou seu nome à disposição para uma vaga na Câma­ra Federal, obtendo sucesso.

Seria em tese o fim precoce de sua carreira política. No entanto, em abril de 1963 - por intermédio do governador Newton Bello -, Costa Rodrigues volta a ocupar o cargo de prefeito da capital maranhense. Na segunda passagem, sua gestão ficou marcada por avanços na área do esporte, em especial, com a construção do Estádio Nhozinho Santos.
Derrotado por José Sarney nas eleições governamentais, Costa Rodrigues continuou sua carreira política e, em 1986, aceitou o convite para ingressar no Partido Democrático Social, pelo qual concorreu a suplente de senador, na chapa encabeçada pelo ex-deputado José Burnett, mas derrotada no pleito.

SAIBA MAIS

MAIS QUE UM GINÁSIO

O Ginásio Costa Rodrigues não é somente conhecido por seus eventos ligados ao esporte local e nacional. Por vários anos, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, o palco também serviu para atividades religiosas e até mesmo shows de entretenimento. Em 1967, de acordo com reportagem intitulada “Ciência no Maranhão terá feita”, do Jornal do Maranhão”, o ginásio recebeu a primeira Feira de Ciências do estado. Segundo a publicação, o evento, divulgado no dia 24 de setembro do referido ano, seria realizado nos dias 3, 4 e 5 de novembro de 1967, das 9h às 20h. Segundo os organizadores, a promoção da feira teria “por fim despertar entre os estudantes maranhenses o interesse pelo estudo e estimular a melhoria das relações entre professores e alunos”. Além de alunos da capital maranhense, estudantes do interior do Maranhão também vieram para compor a feira. Os trabalhos apresentados eram das áreas de física, química, ciências, matemática e biologia.

“O bom rapaz no Costa”
No mesmo ano, os amantes da Jovem Guarda puderam acompanhar no Ginásio Costa Rodrigues o show de Wanderley Cardoso, cuja carreira estava no auge, com canções como “O Bom Rapaz”, expressão também usada para apelidá-lo. Além desta canção, de acordo com jornais da época, o cantor também foi autor de “Doce de coco”, “Baby, Eu Te amo”, entre outras. Os jornais do período destacavam a apresentação “inesquecível” no palco da região central.

O canto coral
Em 1968, o Ginásio Costa Rodrigues recebeu a abertura do I Festival de Corais da Juventude do Estado do Maranhão. Segundo publicações da época, os grupos que se apresentaram no palco esportivo se prepararam por quatro meses, elevando ainda mais a expectativa dos ludovicenses para a apresentação coletiva. Os padres João Mohana e João Linhares, segundo publicação de Jornal do Maranhão, foram alguns dos principais responsáveis pelo evento. Até então, não havia registro de atividades com ligações religiosas no ginásio.

As “palhaçadas no ginásio”
“Respeitável público, com vocês, um dos palhaços mais queridos do Brasil!” Este grito se ouviu no centro do Ginásio Costa Rodrigues em 1969. Foi neste ano que o palhaço “Carequinha” - ídolo das crianças brasileiras - se apresentou no palco da região central. A apresentação, registrada à noite, foi um show de divertimento e alegria.
Na primeira parte, apresentação de mágico e malabaristas e outras “novidades” do mundo infantil. Em seguida, o “Carequinha” - artista citado como exclusivo dos discos Copacabana e acompanhado dos ídolos Fred, Zumbi e Meio Quilo -, se apresentou, para delírio dos fãs. Os ingressos foram trocados ainda no dia do evento e, pelo que se soube, “não deu para quem quis”.

Sai a mulher mais bela do Maranhão
Em 1971, o Costa Rodrigues recebeu o concurso de “Miss Maranhão”. Foi ali que ocorreu a escolha da representante do estado no tão badalado Miss Brasil. A vencedora foi Maria do Socorro Pinto, que à época tinha 21 anos, 1,72m, 63 kg e uma beleza indescritível. Ela desbancou Fátima Eliane Silva, então Miss Imperatriz e apontada como favorita. A beleza da Região Tocantina terminou na terceira colocação.

Festival
Em setembro de 1971, a Coordenadoria de Turismo e Cultura Popular da Prefeitura de São Luís realiza no Costa Rodrigues o I Festival da Música Popular Brasileira no Maranhão. Foi nesse festival que a canção “Louvação a São Luís” de Bandeira Tribuzi foi apresentada e que depois se tornaria o Hino da cidade. O Festival contou com nomes como Augusto Mochel, Sérgio Habibe, César Teixeira e muitos outros nomes da MPM.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.