Especial

Das enterradas ao telecatch e as inesquecíveis disputas dos JEMs

Apesar de cenário de shows e eventos do gênero literário, científico e religioso, Ginásio Costa Rodriguesficou conhecido quando começou a receber várias modalidades esportivas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

[e-s001]Cenário de shows e eventos do gênero literário, científico e religioso, o Ginásio Costa Rodrigues passou a ser de fato conhecido quando começou a receber várias modalidades esportivas. Grandes craques do passado do vôlei, basquete, futebol de salão por ali estiveram e marcaram seus nomes no que é considerado por muitos como o “pulmão do esporte maranhense”.

O futebol de salão e o telecatch
Em 1966, para confirmar o ginásio como referência esportiva, o Torneio Alberto Aboud - em homenagem ao antigo industrial e político maranhense - aconteceu no Ginásio Costa Rodrigues. Entre os jogos de futebol de salão, estavam os duelos entre Graça Aranha e Banco do Estado de São Paulo (agência de Teresina/PI), na preliminar, e Drible versus Francisco Lorda, na partida principal.

No ano seguinte, dois lutadores de “Catch” se enfrentaram no Costa Rodrigues. Os atletas, vindos do estado da Guanabara, onde atuavam no extinto “Telecatch Montilla”, da TV Globo, estiveram em São Luís para a exibição. Dentre os lutadores, o famoso Ted Boy Marino.

O evento foi organizado em caráter beneficente, já que a renda das apresentações foi revertida para obras assistenciais do estado do Maranhão.

Campeonato entre funcionários
Em 1967, aconteceu o primeiro campeonato de funcionários estaduais no Costa Rodrigues. A competição, chamada de I Campeonato Interfuncionalismo Estadual mexeu com a rotina da cidade com competições ou “grandes apresentações” de futebol de salão no palco. Jogos como Administração versus Finanças e Sioge contra o DER aconteceram em um grande clima de rivalidade.

Outros jogos de vôlei aconteceram de forma simultânea no Cassino Maranhense. Um duelo que chamou a atenção no futebol de salão e que aconteceu no famoso palco foi BEM (antigo Banco do Estado) e Cemar (Companhia Energética do Maranhão). Duelos como Caema (antiga companhia de abastecimento de água) versus Sudema também foram recebidos no ginásio.

Clínicas esportivas
De acordo com Leopoldo Vaz, pesquisador esportivo do Maranhão - no início da década de 1970, o Costa Rodrigues é incluído em uma “nova fase” do esporte. Com a criação da Coordenação de Desportos, sob o comando de Cláudio Vaz dos Santos, são estimuladas as chamadas “Escolinhas de Esportes” no ginásio. A iniciativa foi do próprio Cláudio Vaz, assessorado pelo conhecido professor Dimas. Eles eram os instrutores destas escolinhas.

Além de Dimas (que cuidava da ginástica olímpica e do handebol), havia também escolinhas em outras modalidades, como voleibol e basquete. Nomes como Rinaldi Maia, Alves e professora Dagmar também se destacaram por suas aulas ministradas por anos no Ginásio Costa Rodrigues, que formou diversas gerações de atletas.

A primeira cravada!
Dos eventos mais marcantes da história do Ginásio Costa Rodrigues, um dos principais sem dúvida teve como protagonista José de Ribamar Miranda, conhecido como “Gafanhoto”. Ex-atleta de basquete, “Gafanhoto” foi o primeiro a cravar - ou dar uma “enterrada” - na cesta utilizando as duas mãos.

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Em entrevista ao GloboEspor­te.com, em 2014, quando retornou ao ginásio, após vários anos sem visitá-lo, “Gafanhoto” frisou a importância do Costa Rodrigues para a sua carreira. “Entrei pela primeira vez no Costa Rodrigues em 1969 e aí começou minha carreira esportiva. Naquele ano, eu fui o primeiro atleta do Maranhão a socar, a cravar com as duas mãos, como se faz hoje na NBA [liga profissional nor­te-americana]. Então, para mim, a emoção vem dos pés à cabeça. Fico emocionado só de pensar em ver este ginásio explodindo”, disse.

“Gafanhoto” atuou como atleta pela Escola Técnica e pelo Zoé Cerveira como técnico. Ele também treinou equipes do Dom Bosco e foi campeão no ginásio famoso.

“Pastel do seu Domingos”
O famoso “Pastel do seu Domingos”, oferecido por Domingos Melo Ferreira, também era um símbolo do Costa Rodrigues. A delícia foi apreciada pelo público e até mes­mo por desportistas.

Duelos do JEMs
Em especial nas décadas de 1980 e 1990, o Ginásio Costa Rodrigues recebeu duelos inesquecíveis dos tempos colegiais. Rivalidades que literalmente paravam a cidade e modificavam a rotina das escolas públicas e particulares se acirraram no ginásio. Época em que o extinto Girassol, por exemplo, se destacou. Houve ainda os duelos ainda do Colégio Batista contra o Marista, entre outros.

A promoção destes confrontos no Costa Rodrigues coincide com a criação dos Jogos Escolares Maranhenses (JEMs) no início da década de 1970. Neste período, além de Batista e Marista, era protagonista a “Escola Técnica”, atual Instituto Federal do Maranhão.

Anos mais tarde, além destas escolas, o Dom Bosco também se destacou nos Jogos e com presenças de grandes esquadrões, seja no futsal, vôlei e basquete no “palco sagrado” do esporte, como ficou definido o Costa Rodrigues.

Rei Zulu - O duelo com James Adler
Em 1996, o Costa Rodrigues foi cenário de um dos duelos mais marcantes da luta livre. Já na faixa dos 50 anos de idade, o “Rei Zulu” desafiava a curva aparentemente descendente da carreira, promovendo eventos da modalidade para o seu sustento. Ele desafiou James Adler, lutador também conhecido do período e mais jovem (no auge de suas habilidades).
Imagens da luta divulgadas no YouTube mostram uma praça esportiva que recebeu grande público naquela noite. Vários fãs do Rei Zulu, que queriam a volta de um ídolo que, infelizmente, já dava sinais da cansaço.

No começo da luta, o Rei Zulu deu sinais de que enfrentaria Adler de igual para igual. No entanto, a partir do segundo round Adler - mais bem preparado - teve o domínio das ações e, com um nocaute, derrotou o Rei Zulu.

Mesmo derrotado, Rei Zulu foi ovacionado pela multidão. “Lembro-me daquelas noites inesquecíveis no Costa Rodrigues. Eram lutas grandiosas e que sem dúvida fizeram parte da minha carreira”, disse, em entrevista a O Estado em 2016. O filho do Rei Zulu, Zuluzinho, foi apresentado ao público no dia do duelo com Adler.

[e-s001]Escândalo do “Costa Rodrigues”

As páginas da história do ginásio Costa Rodrigues infelizmente não registram somente fatos positivos. Há praticamente 10 anos, a população percebeu que o palco também foi objeto de suposto escândalo de corrupção. Entre os gestores citados, estava o atual senador da República, Weverton Rocha, que ocupou o cargo de secretário de Esportes do Estado.
Assim que deixou o cargo, foram constatados possíveis desvios de verbas públicas destinadas a serviços no ginásio. Elevações súbitas nos preços estimados da obra e modificações no projeto original (que antes previa reforma e depois passou a garantir a reconstrução do ginásio) trouxeram à tona novas suspeitas.

Os indícios de desvios recaíram sob Weverton Rocha, que passou a responder por peculato (desvio de dinheiro público) e dispensa ilegal de licitação. A gravidade do fato gerou denúncia formalizada pelo Ministério Público do Maranhão (MP). De acordo com a entidade, Weverton e outros gestores atuaram de forma irregular para a dispensa de licitação para a reforma do ginásio.

Segundo dados oficiais do MP, a reforma do ginásio foi inicialmente orçada em R$ 1,98 milhão. De acordo com a instituição, com o aditivo, o contrato passou para R$ 3,39 milhões.

Defesa
Por sua vez, o agora senador da República, apoiado pelo governador do Estado, Flávio Dino (PCdoB), alega inocência. Em entrevista para a Rádio Mirante AM, em uma das últimas aparições públicas em que tratou do tema, o agora senador disse que a paralisação das obras do Ginásio Costa Rodrigues foi política.

Segundo ele, o dinheiro pago pelo governador Jackson Lago para a empreiteira foi usado, inclusive, na compra dos materiais utilizados na obra do ginásio. “Eles quiseram criar uma narrativa para desmoralizar toda a gestão de Jackson Lago. E eu mesmo tenho sido vítima até hoje dessa mentira tão repetida. Mas a verdade uma hora vem à tona e louvo a coragem daqueles que a trazem de volta”, afirmou.

Dados atuais
De acordo com dados divulgados pelo Governo do Maranhão à época da entrega da última reforma, no dia 23 de março de 2018, as obras do atual Ginásio Costa Rodrigues custaram em torno de R$ 1,2 milhão. Segundo a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Sinfra), foram recuperados equipamentos e a área de 2.800 metros quadrados.

Foram feitos ainda, de acordo com a Sinfra, rampas de acesso, salas de imprensa, memorial da história do esporte amador no Maranhão, bilheteria, auditório, além de alojamento com capacidade para 40 atletas, salas para associações e federações esportivas e quadra esportiva, segundo informações oficiais, com piso emborrachado que ofereceria, em tese, as melhores condições para os jogadores.

Com o desabamento de boa parte da estrutura do Ginásio Castelinho, no Complexo Canhoteiro, os jogos do Sampaio Basquete pela liga da categoria foram transferidos para o Costa Rodrigues, com estreia marcada para este sábado, às 17h, contra o Uninassau. Além desta partida, outros jogos acontecerão no espa­ço.

[e-s001]A “ignorância da memória” pelo Governo do Maranhão

A preocupação do Governo do Estado do Maranhão em recuperar uma das principais praças esportivas da capital maranhense contrasta com a ausência de memória do Ginásio Costa Rodrigues. Desde 2014, Antônio Euzébio da Costa Rodrigues Filho, herdeiro do ex-prefeito da cidade que batiza o espaço esportivo, não tem acesso ao ginásio. Segundo ele, questões políticas inviabilizam o fato.

Não é o único registro da falta de preocupação do Governo do Maranhão em relação à história do ginásio. Em reportagem publicada no site do Governo, no dia 24 de março do ano passado, com o título “Flávio Dino inaugura Ginásio Costa Rodrigues em noite de festa para o esporte”, não há nenhuma referência à história do ginásio.

Do lado de fora, é possível ver, no acesso ao piso principal, uma foto de Costa Rodrigues, doada pelo filho, Antônio Euzébio. A imagem foi cedida em 2014 pela família e é a única referência aparente da figura do ex-prefeito na praça esportiva.

Desde segunda-feira (11), O Estado fez pedidos para a Secretaria de Comunicação e Assuntos Políticos (Secap) para ter acesso à parte interna do ginásio. A solicitação foi novamente feita via e-mail na terça-feira (12). No entanto, até o fechamento desta edição, não houve resposta.

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