Artigo

Réquiem para Coutinho

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

Pelé para Coutinho, Coutinho para Pelé, Pelé para Coutinho, Coutinho para Pelé… Goooolllllllllll Isso se repetia na voz do narrador na maioria das em que vezes o extraordinário ataque do Santos F.C partia em direção ao gol até se tornar uma marca, uma história, uma lenda.

Em minha infância, amante de futebol, eu tinha o hábito de brincar sozinho narrando jogos de futebol, criando campeonatos imaginários. Cresci fascinado com aquele ataque arrasador do time praiano que qualquer um, que conheça o mínimo de futebol deve saber de cor: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe Tornei-me torcedor do Santos depois de admirá-lo porque pelo Santos não se torcia, se admirava. Todos os torcedores do time do interior paulista (que conquistou todos os títulos nacionais e internacionais possíveis) começavam fazendo o caminho inverso ao tradicional, quando primeiro o pai ensina o filho a torcer por determinado time e só depois a criança passa a admirar esse time.

O futebol jogado pelo Santos atingiu tal grau de sedução coletiva que soa ridícula uma comparação sua com qualquer outro time brasileiro. Lembro-me que comecei a colecionar a Revista do Esporte por volta de 7 anos e a chamada principal de uma de suas capas era: Todo carioca torce pelo Santos. E isso apesar da rivalidade futebolística entre o Rio e São Paulo que perdura até hoje. O Santos, como se sabe, não disputou seu título mundial contra o Milan, em São Paulo, mas preferiu fazê-lo no Rio, num Maracanã lotado e torcendo pelo Santos.

Antônio Wilson Vieira Honório, o popular Coutinho, morto ontem, aos 75 anos era o legendário centro-avante desse time e, após sua saída precoce do futebol aos 27 anos subestimou-se seu excepcional talento, certamente porque, ao seu lado, pontuava o maior jogador de futebol de todos os tempos , o atleta do século Pelé, tornando sua curta trajetória marcada pela pecha de coadjuvante.

Os especialistas que o viram jogar sabem que não. Coutinho sabia como ninguém se posicionar diante da meta e possuía todos os fundamentos necessários para isso. Técnica refinada, arranque, capacidade de tabelar prevendo o ponto futuro do companheiro e, sobretudo, sede de gol. Para o próprio Pelé, nas cercanias da área Coutinho foi melhor que ele, e para Juca Kfouri, comentarista de futebol, melhor até do que Romário, para muitos o maior especialista nessa virtude. Essa admiração não foi só brasileira. César Luis Menotti, o insuspeito técnico da seleção argentina campeão de 1978 o considerava o maior centro avante que viu jogar.

Infelizmente, não ficou rico, contribuindo para isso sua baixa longevidade por conta da carreira interrompida aos 27 anos. Precoce em tudo, provavelmente foi o jogador que mais cedo vestiu a camisa de um time profissional, aos 14 anos. Coutinho fez mais de 360 gols em sua trajetória com a excepcional média de 0,80 gols por partida.

Morreu relativamente pobre, mas marcou sua passagem com a mais valiosa das riquezas que é a memória agradecida de sua torcida e do povo a quem fez sorrir com suas jogadas que constituem a mais bonita música para os que gostam de futebol e que é a do gol:

Coutinho para Pelé, Pelé para Coutinho, Coutinho para Pelé, Pelé para Coutinho. Goooooooollllllllllll

José Ewerton Neto

Autor de O ABC bem humorado de São Luis

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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