PRECARIEDADE

Prédio do Hospital Aquiles Lisboa é interditado, por problemas estruturais

Está é a segunda vez que a Unidade de Apoio, que abriga pacientes internados, precisa ser interditada; conforme funcionários, intenção é fechar o hospital

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Com prédio interditado (e), internos tiveram de ser remanejados para outro imóvel (d), onde fica apoio de médicos
Com prédio interditado (e), internos tiveram de ser remanejados para outro imóvel (d), onde fica apoio de médicos (Aquiles Lisboa)

Após problemas de infiltração e risco de desabamento do telhado, o prédio que já funcionava de forma provisória como Unidade de Apoio - destinado a casos de internação - do Hospital Aquiles Lisboa (HAL) precisou ser interditado, exigindo a transferência dos internos para um prédio anexo, que não dispõe de condições básicas para o atendimento dos pacientes.

Referência no tratamento de hanseníase no Maranhão, o hospital, localizado na Ponta do Bonfim, área Itaqui-Bacanga, em São Luís, reflete a “negligência e o descaso com a saúde pública do estado”, de acordo com pacientes e visitantes do centro. Segundo eles, funcionários relatam planos de fechamento do local, informação negada pela direção da unidade.

O problema não é recente. Segundo o aposentado Raimundo Sardinha, que reside na Ponta do Bonfim há 25 anos, quando iniciou tratamento contra a hanseníase, a primeira transferência ocorreu há cerca de oito anos, quando o prédio oficialmente destinado às internações entrou em reforma. “Já é a segunda transferência em oito anos. O primeiro prédio está aparentemente concluído, mas continua fechado. Neste ano, antes do Carnaval, os pacientes foram novamente transferidos para este prédio anexo, que servia de apoio para os médicos, e aí ficam misturados, numa bagunça só”, relatou.

Ainda de acordo com o morador, até o momento não houve nenhuma mobilização no sentido de reforma do prédio, que até este ano recebia os internos, mas foi interditado após a verificação de riscos de desabamentos do telhado, causado por infiltrações e goteiras registradas durante o período chuvoso. “Até aparece gente aí para fiscalizar, analisar os problemas, mas não teve nenhuma obra até agora e sabe-se lá se vai haver, não é? Porque aqui é jogado para as cobras, como dá para ver”, reafirmou Sardinha, apontando para o mato alto que rodeia o espaço.

A continuidade dos serviços prestados pelo HAL, que neste ano completa 82 anos de atendimento a pacientes com hanseníase, tem sido uma incógnita para os pacientes que necessitam de internação na Unidade de Apoio do hospital, isto porque, diante da situação em que se encontra o prédio, os próprios funcionários do centro passaram a levantar a suspeita de fechamento do hospital. De acordo com um visitante que presta apoio aos pacientes e preferiu não ser identificado por meio de represálias, a informação partiu do setor de assistência social. “A assistente social nos informou que a intenção é fechar o hospital”, contou.

Ele informou que os problemas são semelhantes em toda a colônia, onde moram antigos pacientes do hospital. “As casas da colônia, que também são de responsabilidade do estado, não têm banheiro, esgoto, nada, e é uma doença que necessita de mais atenção nesse aspecto de higiene. Ver esta situação de descaso nos entristece muito, pois temos um carinho muito grande por este espaço e estas pessoas com que trabalhamos há mais de seis anos”, lamentou.

Segundo outro visitante, ainda no prédio anterior, a situação em que os internos eram mantidos era visivelmente precária, mas tanto pacientes quanto acompanhantes e visitantes eram proibidos de registrar imagens dos espaços, dificultando as denúncias. “Lá, havia um único banheiro, dividido por homens, mulheres, pacientes ou acompanhantes. Não nos deixam fotografar nada. Neste último prédio nem pudemos entrar, mas os próprios pacientes contam que a situação é ainda pior”, ressaltou.

O registro de imagem também é inibido na área externa do hospital. Enquanto O Estado esteve no local, funcionários da administração do hospital tentaram impedir que a equipe fotografasse o espaço, que trata-se de área pública.
Sobre as denúncias, o diretor administrativo do HAL, Raul Fagner Silva, garantiu que, apesar da interdição do prédio da Unidade de Apoio, os atendimentos seguem sendo realizados normalmente. A respeito da informação de que o hospital seria fechado, o diretor negou procedimento e afirmou tratar-se de “boato”.

Procurada por O Estado, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) descartou a possibilidade de fechamento da unidade hospitalar e frisou que apenas houve necessidade de remanejamento de uma ala de internação para outro setor no anexo do Hospital Aquiles Lisboa, a fim de garantir a plena execução do serviço de manutenção preventiva. A SES comunicou, ainda, que uma equipe de engenheiros já esteve no local e a obra para reparo deve começar imediatamente. Por fim, informou que o atendimento no hospital segue regular.

SAIBA MAIS

Casos semelhantes

Durante os últimos meses, pelo menos quatro centros de referência tiveram serviços suspensos ou alterados pelo Governo do Maranhão na capital e interior do estado. Após repercussão negativa, serviços foram reativados.

Cemesp

O Centro de Medicina Especializada (Cemesp), teve o atendimento suspenso em 17 de dezembro de 2018, e a partir de janeiro passou a funcionar no Centro de Especialidades Médicas e Diagnóstico Dr. Luiz Alfredo Netto Guterres (CEM), conhecido popularmente como Pam-Diamante, conforme anunciado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Procedimento gerou insatisfação de pacientes que, durante o período de transição, ficaram sem atendimento.

Maternidade Maria do Amparo

Em dezembro de 2018 a Maternidade Maria do Amparo, situada no bairro Anil, em São Luís, suspendeu os serviços de internação. Segundo o presidente da maternidade, Paulo Ribeiro, o problema é a falta de recursos para prestar esse tipo de serviço. De acordo com o presidente, houve uma necessidade de redução de despesas do governo por conta da crise financeira no país e o kit de profissionais disponibilizados para a maternidade foi reduzido.

Um novo contrato foi firmado entre a instituição e a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a maternidade deve ser reaberta ainda este mês.

Upa do Araçagi

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Araçagi, localizada na Avenida dos Holandeses, na Região Metropolitana de São Luís, teve seus serviços emergenciais de ortopedia e traumatologia encerrados pelo Governo do Maranhão, mantenedor da instituição, durante o início de janeiro. Sem os serviços, pacientes que necessitaram do atendimento tiveram de buscar assistência no Hospital de Urgência e Emergência Dr. Clementino Moura, o Socorrão II, que funciona no bairro Cidade Operária, em São Luís.

Após recomendação do Ministério Público do Maranhão, os atendimentos foram retomados.

Hospital Geral de Matões do Norte

Em fevereiro, o Hospital Geral de Matões do Norte teve atendimentos suspensos e demissão em massa de funcionários, que reivindicaram situação em protestos. O Governo, em um primeiro momento, negou o fechamento do hospital. Depois, recuou e anunciou uma reforma na unidade – inaugurada em 2014 –, e suspendeu todas as atividades. Na ocasião, a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Maranhão (Seema), Ana Léa Coêlho dos Santos Costa, questionou a situação de milhares de pessoas que eram atendidas ou faziam algum tipo de tratamento no hospital, e agora terão de recorrer a municípios vizinhos.

Após audiências, funcionários foram remanejados para outros centros, enquanto isso, hospital segue em reformas que devem ser concluídas em abril.

A Colônia do Bom Fim

Hoje, é mais conhecido com Hospital Aquiles Lisboa, trata-se de um antigo hospital, estilo colônia – anteriormente era conhecido como Colônia do Bom Fim – fica localizado na capital maranhense e é especializado no tratamento dos portadores de hanseníase. Dizem os mais antigos que esse nome veio como reverência ao Nosso Senhor do Bom Fim, outros já dizem que era porque as pessoas eram internadas lá para ter um bom m de vida. Mas na verdade, deve-se ao Cabo do Bonfim.

Segundo historiadores, a verdadeira origem do nome Colônia do Bonfim é porque ela foi construída para “abrigar leprosos”, na Ponta do Bonfim, sendo separada do centro da cidade pelo rio Bacanga. O local foi escolhido exatamente por ser bem afastado e de difícil acesso, pois antes a única forma de transporte era pelo mar. Assim, tornou-se ideal para o isolamento de “leprosos” como forma de afastá-los definitivamente do convívio social

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