Pesquisa

Variedades históricas maranhenses

Em livro publicado de forma independente, pesquisador Luiz de Mello traz textos de personalidades registrados apenas em jornais dos séculos passados

José Fernandes* / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Luiz de Mello lançou o livro
Luiz de Mello lançou o livro (luiz de mello)

SÃO LUÍS -Enriquecendo a historiografia regional, há poucos dias veio à lume o livro com o título em epígrafe, uma coletânea de textos selecionados, organizados e anotados por Luiz de Mello, possivelmente o último grande pesquisador profissional em atividade nesta antes decantada terra que melhor expressava nosso vernáculo.

A obra, que contém textos desconhecidos do público atual porque nunca foram publicados em livros mas somente em jornais dos séculos passados, é da lavra de uma plêiade de autores que em outros tempos se dedicaram à literatura, à pesquisa histórica e ao jornalismo timbira, e brilhantemente se destacaram nessas atividades.

Nela, o erudito filólogo Francisco Sotero dos Reis expõe uma judiciosa análise da imprensa maranhense no período de 1820 a 1860, trazendo-nos preciosas informações atinentes aos periódicos de nomes curiosos, que na época pontificavam no Maranhão, a partir do jornal pioneiro, o “Conciliador Maranhense”, e depois o “Argos da Lei”, o “Bandurra”, o “Pharol”, de José Cândico de Moraes e Silva, o “Constitucional”, a “Crônica”, de João Francisco Lisboa; a “Revista, o Guajajara”, o “Caboclo”, o “Correio”, o “Arre-Irra”, o “Matraca o Picapau”, o “Malagueta” e tantos outros, cada um esmiuçando, a seu modo, aquele agitado período de escaramuças como a truculenta Revolta da Balaiada.

Após se referir à fundação de “O Globo”, Sotero longamente reportou-se ao famoso “Publicador Maranhense”, o bem redigido e único órgão sem ligação com a política que, já naqueles tempos, tudo pervertia e desnaturava.

Entre outros assuntos relevantes, o mestre Sotero dos Reis transcreve uma linda poesia sob o título “Hino ao Mar”, que tinha como autor um jovem de 20 anos chamado Antônio Gonçalves Dias – poesia de excepcional qualidade, rica de imagens e elevação de pensamento, peça lírica grandiosa, na qual já se antevia naquele moço letrista um dos maiores poetas das Américas, como realmente fora e ainda o é.

Tradições
É impossível, neste pequeno espaço, fazer-se um comentário minucioso acerca desse livro. Citemos apenas, à guisa de registro, que ele contém matérias de interesse dos cultores de nossas tradições maiores, como os estudos do médico, tradutor e historiador César Marques narrando as dificuldades de navegação no rio Tocantins, as biografias resumidas de personalidades marcantes de épocas pretéritas e uma memória histórica sobre a introdução do arroz no Maranhão.

Do historiador José Ribeiro do Amaral (1853 a 1927) consta uma pequena matéria mostrando a atuação do poeta Gonçalves Dias como jornalista e prosador, um ensaio historiando os labores da imprensa no Maranhão e uma curiosa pesquisa que tem como referência Silvério dos Reis, o delator da Inconfidência Mineira, que viera para o Maranhão em 1809 e aqui viveu os seus últimos e atribulados dias.

Após esboçar um rápido perfil do líder empresarial, jornalista e bibliólatra Arnaldo de Jesus Ferreira, nascido em São Luís em 1904 e falecido em 1958, a coletânea transcreve um instigante relato desse ilustre homem de letras, destacando o diferente destino de duas irmãs, uma pela honra de ter gerado o patrono do Exército nacional e a outra por ter sido a esposa daquele acima citado traidor da Inconfidência, responsável, também, pela morte, entre outras, de dois tios da própria mulher, e cujo nome e memória ficaram eternamente estigmatizados.

Outro autor destacado na obra sob comento foi João Afonso do Nascimento (1855 a 1924), notável caricaturista e jornalista, amigo de Aluízio, Américo e Arthur Azevedo, que colaborou em jornais do Maranhão, do Pará e do Amazonas, e revelou-se apurado cronista, como mostram as cinco crônicas inseridas na parte final da publicação em foco.

Proporcionou-nos agradável leitura este livro publicado por conta e risco de Luiz de Mello, que também é escritor, contista expressivo, elogiado por Jomar Moraes, Ubiratan Teixeira e Nauro Machado. No seu prefácio, a historiadora Caroline Licar diz que o citado pesquisador “de vez em quando emerge do silêncio dos porões da História para nos brindar com um excelente trabalho de ficção ou de pesquisa”.

De nossa parte, entendemos que o abnegado organizador destas “Variedades Históricas Maranhenses” merece nossos encômios mormente pelo esforço que empreende para salvar do esquecimento algumas raridades literárias da outrora “Atenas Brasileira”.

*José Fernandes é do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, autor, entre outros, do livro “Dor, Amor e Poesia”

*José Fernandes é do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, autor, entre outros, do livro “Dor, Amor e Poesia”

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