Coluna do Sarney

Carnaval sempre Carnaval

José Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

Eu, que estou em pleno vigor da juventude - e todos os dias os jornais, ao citar meu nome, revelam aos leitores esta minha fraqueza -, fico todo irritado quando ouço essa história de “bom era no meu tempo”, “ah! que saudades do meu tempo” e outros lamentos saudosistas. Bom mesmo é o tempo de hoje. O tempo bom do meu tempo era o tempo daquele tempo, que não conhecia o tempo futuro. O Padre Vieira, lembrando o que diria 250 anos depois T. S. Eliot, o grande e sempre louvado poeta, falou que “se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é o futuro do passado, e o mesmo presente é o passado do futuro”.

Carnaval então é momento dessas baboseiras, os velhos reclamando das escolas de samba, feéricas, deslumbrantes, despejando alegria pela Avenida, comparando-as com as batalhas de confete e o entrudo, que era a imbecil brincadeira de um sujar o outro. Outros reclamam do cheiro de urina dos foliões apertados pelas latas de cerveja, contrapondo ao cheiro bom do Rodó - a marca de lança perfume mais popular e representativa dos antigos carnavais. Li que um baiano do Campo Grande, em Salvador, onde a folia é a mais densa daquelas bandas, disse que já estava esperando o cheiro do “descarrego carnavalesco” e passaria esses dias limpando as calçadas e tapando o nariz. Bobagem e hipocrisia porque ele é um privilegiado, não precisa sair de casa para ouvir a bela Ivete Sangalo e os trios elétricos, herança de Dodô e Osmar.

Ora aqueles tempos dos carnavais antigos! Não se via esse desfile puro e esplendoroso das mulatas, loiras, morenas sem vestidos, seios à mostra, além das partes que têm vida própria, pululam e que são vistas quando passam popozudas. Tudo belo, a frente e o atrás. Bendito carnaval do presente, quando ninguém tem de temer nada nesse jogo de Adão e Eva, porque o nosso Ministério da Saúde continua distribuindo camisinhas, com direito a lubrificantes e antissépticos. Ora bolas para o passado, com aquelas fantasias cafonas, cheias de babados, chapéus de crepom colorido e colares havaianos que, suados, manchavam as roupas. E o mais difícil: homens para um lado e mulheres para outro, só olhares e desejos. Quando muito um aperto de mão acochado e um sarrafo leve de corpo com corpo.

Que diferença louca entre blocos antigos, de canções nostálgicas, e a beleza de Alcione, no seu gingado maranhense, cantando as músicas do Bulcão, do Zé Pereira e do saudoso Nonato Buzar. “Maranhão, meu tesouro, meu torrão”, cantava o Humberto do Maracanã.

Na verdade o cheiro dos suores do passado e o esplendor dos biquínis de hoje são saudades que não morrem. Como são boas! Noutros carnavais e neste carnaval.

Plagiando o Chagas, do Boi da Maioba, vamos “meu povo, guarnecer nosso belo e alegre Carnaval, de novo!”

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