Saúde

Cuidados paliativos para quem lida com a iminência da morte

Especialidade cuida de doentes crônicos, cuja enfermidade ameaça a continuidade da vida; antes de se tornar obrigatório, ano passado, serviço já era oferecido há dois anos pelo HU-UFMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Anestesiologista João Batista Garcia, especialista em cuidados paliativos, coordena setor no HU-UFMA
Anestesiologista João Batista Garcia, especialista em cuidados paliativos, coordena setor no HU-UFMA (anestesiologista João Batista Garcia HU-UFMA)

SÃO LUÍS - O ambiente hospitalar é um espaço que, para além de salvar vidas, serve também para confortar o coração daqueles que mais precisam de apoio. A partir do diálogo sincero, do melhor tratamento, da sensibilidade em respeitar a autonomia e os limites do paciente. Estamos falando de Cuidados Paliativos, especialidade em que o profissional bus­ca garantir qualidade de vida a pessoas em um estágio irreversível de suas doenças.

Em 31 de outubro de 2018, foi aprovada a Resolução n°41, recomendando que os cuidados paliativos deverão fazer parte dos cuidados continuados integrados, ofertados no âmbito da Rede de Atenção à Saúde (RAS) do SUS. Antes mesmo de se tornar obrigatório, o serviço já vinha sendo oferecido há dois anos pelo Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), vinculado à Rede Ebserh, por meio da Casa da Dor, tendo em vista a sua importância para a sociedade.

Encabeçado pelos anestesiologistas João Batista Garcia e Vanise Motta, especialistas em cuidados paliativos, e pela enfermeira Luiza Mualen, o serviço faz a avaliação de pacientes que tenham sua vida ameaçada por alguma doença, com proposta de educação continuada para a Residência Médica e UTI Neonatal. Também fomenta a discussão sobre processos de luto e morte, em parceria com residen­tes, enfermeiros e graduandos do internato.

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, originalmente, a atenção dos cuidados paliativos centrava-se em pacientes na fase final da vida. Hoje, se considera que eles vão além dessa prática: devem estar disponíveis para pacientes e seus familiares durante todo o processo de doença ameaçadora à continuidade da vida e também no transcurso do luto, sofrendo variações de acordo com a intensidade dos problemas (aguda, exacerbação, crônica, debilidade aumentada e últimos dias de vida) que surgem no decorrer da enfermidade.

Fortalecimento
Coordenador do Ambulatório de Dor Crônica (Casa da Dor do HU-UFMA) e professor do curso de medicina, João Batista Garcia enfatizou que a UFMA é uma das poucas universidades a ofertar essa disciplina. Ele diz que essa Resolução veio para fortalecer o serviço de educação continuada para vários profissionais que o hospital desenvolve. “Já realizamos algumas atividades de conteúdo programático, noções básicas para fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e médicos. O hospital está se mobilizando para ter­mos melhorias nessa área e atender as demandas que estão aumentando. Posteriormente, os prontuários já terão uma sinalização sobre os cuidados paliativos. Acreditamos nisso”.

Vanise Motta explicou que o serviço segue algumas fases. “Os cuidados paliativos passam pela avaliação, parecer, diagnóstico, reunião familiar e plano de tratamento. Antes, era obrigatório em hospitais que tivessem pacientes oncológicos, com a Resolução isso mudou. Agora, em todos os hospitais de alta complexidade recomenda-se que esse cuidado seja ofertado, ou seja, deixou de ser uma especialidade especifica para pacientes oncológicos, expandindo-se para todos aqueles que diagnosticamos como necessário”.

Também destacou as doenças recorrentes no atendimento. “Dentre as doenças que mais recebemos solicitações, estão tumores, câncer, cirrose terminal, malformações neonatais, neuropato hidrocéfalo e insuficiência cardíaca terminal, explica a especialista.

Seu Zé Moreno, apelido de J.A. dos S., 75, pai de 12 filhos, morador de Buriticupu, sentia dores na barriga há um bom tempo. Relutante, desviava a atenção dos problemas de saúde por conta das dificuldades da vida e o anseio diário de trabalhar para ajudar na educação de seus filhos.

As dores foram ficando constantes e os filhos resolveram buscar auxílio. Depois de alguns exames e laudos médicos, o paciente foi diagnosticado com um tumor inoperável no pâncreas. A notícia foi dada primeiramente aos filhos, que foram chamados para uma reunião no próprio hospital - um dos processos dos cuidados paliativos. Nela, os profissionais apresentam o quadro do paciente à família, orientam sobre o plano de tratamento e como proceder futuramente na rotina diária.

Os cuidados paliativos passam pela avaliação, parecer, diagnóstico, reunião familiar e plano de tratamento. Antes, era obrigatório em hospitais que tivessem pacientes oncológicos. Com a Resolução, isso mudou. Agora, em todos os hospitais de alta complexidade recomenda-se que esse cuidado seja ofertado”Vanise Motta anestesiologista e especialista em cuidados paliativos

Esclarecimentos
Dentre os esclarecimentos, é informado ao paciente que ele possui autonomia para tomar decisões sobre seu estado de saúde. É a chamada Diretiva Antecipada de Vontade, que permite ao enfermo registrar seu testamento vital na ficha médica ou no prontuário, acerca dos cuidados, tratamentos e procedimentos que deseja ou não ser submetido. Obrigar uma pessoa a se submeter a um tratamento que ela não deseja, quando este não terá função de lhe devolver uma vida plena, é degradante. Por isso, se for de sua vontade, lhe é assegurado o direito de gozar dos últimos dias de sua vida em casa.

Residente em Saúde da Criança no HU-UFMA, a enfermeira Júlia Rodrigues se mostrou inquieta quanto às questões relacionadas a morte. No quanto as pessoas, familiares e, até mesmo profissionais, parecem não estar preparados para lidar com ela. Foi o que atraiu a sua atenção para os cuidados paliativos. Júlia espera especializar-se nessa área.

“A forma como esse momento acontece sempre me fez refletir sobre o que de fato eu poderia fazer para mudar a maneira como se dá. A partir daí, comecei a buscar cursos e solicitei a coordenação da Residência Multiprofissional que fizesse um projeto piloto comigo no serviço de Dor e Cuidados Paliativos, para que os próximos residentes também tivessem a oportunidade de conhecer e vivenciar a área. A experiência tem sido riquíssima. Me fez ver a situação de um jeito diferente, buscando sempre entender a pessoa e não a doença, tentando assim compreender o ser humano no seu contexto físico, psicológico, social e espiritual”.

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